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2018-03-15

GÊNERO E SEXUALIDADE EM FOCO: IDENTIDADE, DIFERENÇA E CLASSE

 

Nos últimos anos, os debates relacionados às questões concernentes à temática de gênero e sexualidade cresceram na mesma medida em que se alargaram sistemas punitivos a condenar qualquer tipo de representação que confronte o sistema hegemônico. As manifestações atreladas às discussões que fogem da esperada e compulsória heteronormatividade vêm sofrendo diversas censuras, consideradas como uma grave ameaça social, de grande perigo às famílias brasileiras. Por conta disso, diversos são os grupos e segmentos que vivem, cotidianamente, variados ataques em suas respectivas áreas de mobilização. No âmbito cultural, os episódios que levaram ao cancelamento da exposição "Queermuseu - cartografias da diferença na arte brasileira", à censura ao trabalho da atriz Renata Carvalho, na peça "O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu", e à tentativa de cancelamento de uma improvável palestra da teórica Judith Butler, no SESC Pompeia, parecem sintomas que elucidam transformações intrínsecas a um significativo processo de regressão em curso.

 

Segundo alguns dos dados divulgados pela ONG Grupo Gay da Bahia (GGB), de janeiro até maio de 2017, a cada 25 horas, ao menos um assassinato de algum membro do grupo LGBTTQIA+ foi confirmado. O número, que já era exorbitante naquela ocasião, ganhou novas proporções durante o mês de setembro, quando uma nova pesquisa apontou que as mortes ligadas à homofobia já passavam de um assassinato por dia: agora, eram 277 as mortes contabilizadas oficialmente, excluindo, portanto, os crimes não registrados, desconhecidos pelas organizações, e todas as tentativas. Só em 2016 foram 343 as mortes registradas por aquela mesma ONG. Desse alto contingente, nos últimos oito anos ao menos 900 dos assassinatos tiveram como alvo travestis e transexuais. Não obstante a contínua oferta, a si mesmo, de uma intragável premiação pelo maior número de mortes da população ligada aos segmentos envoltos pela letra T, o Brasil também possui a 5ª maior taxa de feminicídio do mundo, sempre disposto a atribuir às mulheres uma cotidiana posição de subalternidade.

 

É diante desses dados e fatos, expoentes de uma demanda e urgência do tempo presente, que se enunciam os questionamentos a seguir: Qual a melhor maneira de problematizar as categorias que sustentam a hierarquia dos gêneros e a heterossexualidade compulsória? Quais possibilidades políticas são consequência de uma crítica radical das categorias de identidade? Como conjugar, em um mesmo paradigma, a possibilidade da diferença e a consciência de classe? Quais relações de dominação e exclusão se afirmam, não intencionalmente, quando a representação e o reconhecimento se tornam o único foco da política? Afinal, por que as estruturas de dominação patriarcal e ímpeto colonizador, hegemônico, devem ser sempre registradas sem questionamentos? Como resgatar a eficácia de reivindicações ainda não concretizadas que persistem na virtualidade dos discursos minoritários? Em quais condições uma vida é passível de reconhecimento e humanidade? Quais as potências e limites das políticas e categorias identitárias? De que forma é possível transgredi-las? Como costurar, desfazer, reatar e ressignificar os nós entre micro e macropolítica?

 

Todo e qualquer texto, em diversos tamanhos e formatos, que se propuser a pensar tais problemas ou outros semelhantes, aqui ainda não mencionados, será decerto bem-vindo, entendido como uma tentativa de alargar um importante campo de reflexão e de levar adiante um debate que não pode estagnar frente aos desafios de uma nova configuração política, na plenitude de projetos de desmanche e privação de direitos. Artigos, ensaios, resenhas, entrevistas, relatos, peças, contos, poemas, crônicas, novelas e fragmentos são alguns dos formatos visados por esta nova publicação, a ser lançada no fim do primeiro semestre de 2018. Todos eles poderão ser enviados ao corpo editorial, por meio desta plataforma, até o dia 30 de março!