“TUDO QUE VEMOS É OUTRA COISA”. SUBJETIVIDADE E REAL NO FAUSTO DE PESSOA

Autores

  • Patrícia da Silva Cardoso Universidade Federal do Paraná

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v8i15p89-101

Palavras-chave:

Fausto, Fernando Pessoa, subjetividade

Resumo

A figura de Fausto e seu vínculo com o demônio é tema longevo, remontando suas primeiras aparições ao Novo Testamento, associável que é a Simão, o mago. Acompanhá-lo como tema nas muitas retomadas de que é objeto pela literatura de ficção interessa quando se pensa que, através dele, podem-se observar as mudanças operadas na relação entre o divino e o humano, entre o mundo natural e o sobrenatural, entre bem e mal. O ponto de virada nestas abordagens pode ser identificado na versão de Fausto de Christopher Marlowe, escrita em finais do século XVI, na qual se lê Mefistófeles a afirmar que o inferno é, na verdade, onde estamos. Alguns séculos mais tarde, Fernando Pessoa contribuiria para aprofundar significativamente a imagem esboçada por Marlowe – e depois, em certa medida, desenvolvida por Goethe – ao deslocar o problema de Fausto para o campo da existência subjetiva. Enquanto em algumas versões antigas o personagem era fisicamente dilacerado pelo demônio ao ter sua alma arrebatada em cumprimento do pacto, o Fausto de Pessoa é desde sempre um dilacerado de alma, alguém atormentado pela consciência aguda sobre os limites da consciência, para quem é inútil desejar saber mais quando se sabe que tudo no universo é absolutamente limitado, finito, a começar pela condição de cada um como indivíduo, a de ver o mundo exterior a partir de um olhar interior, subjetivo, insuficiente para abarcar qualquer totalidade e, ao mesmo tempo, saber que o exterior inexiste. Este artigo procurará aprofundar a complexa contribuição de Fernando Pessoa para o tema ao conduzi-lo para a problemática da subjetividade e seus vínculos com o real.

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Referências

CABRAL MARTINS, Fernando (org.). Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português. Lisboa: Editorial Caminho, 2008.

GOETHE, Johann W. Fausto. Trad. João Barrento. Lisboa: relógio d'água, 2013.

MARLOWE, Christopher. Doctor Faustus. New York/London: Norton, 2005.

PESSOA, Fernando. Fausto. Tragédia subjectiva. Lisboa: Presença, 1988. Estabelecimento do texto por Teresa Sobral Cunha.

WATT, Ian. Mitos do individualismo moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

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Publicado

2016-08-16

Como Citar

“TUDO QUE VEMOS É OUTRA COISA”. SUBJETIVIDADE E REAL NO FAUSTO DE PESSOA. (2016). Revista Desassossego, 8(15), 89-101. https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v8i15p89-101