Cuidado à saúde de crianças kaiowá e guarani: notas de observação de campo

Autores

  • Rubens de Camargo Ferreira Adorno Universidade de São Paulo; Faculdade de Saúde Pública; Departamento de Saúde Materno Infantil
  • Renata Palópoli Pícoli Universidade de São Paulo; Faculdade de Saúde Pública; Departamento de Saúde Materno Infantil

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.19864

Palavras-chave:

Saúde infantil, diarréia infantil, etnografia, indios Kaiowá e Guarani

Resumo

Inicia-se uma discussão sobre as práticas de saúde e cuidado utilizadas pelos Kaiowá e Guarani da Terra Indígena de Caarapó no enfrentamento das doenças diarréicas na infância. Utilizou-se de uma contribuição etnográfica, através do uso da técnica da observação participante e de entrevistas aberta com moradores da comunidade. Em se tratando de uma sociedade que vivencia permanentes transformações de ordem social advindas das relações interétnicas e da sucessiva presença dos serviços de saúde, observa-se que o significado de diarréia infantil, assim como as decisões relativas à prevenção e ao seu tratamento, refletem comportamentos diferenciados e complexos. A diarréia, também conhecida como chiri, é definida através de sinais que, de certa forma, são semelhantes aos biomédicos. No entanto, nem sempre as explicações de causalidade e as formas de tratamento seguem, unicamente, a abordagem biomédica. A variedade de causas da doença diarréica entre as crianças indígenas implica na escolha do processo terapêutico, que pode ser desde a procura por um especialista tradicional, realização de chás e infusões e, ainda, procura pelos serviços de saúde. Tais explicações e formas de tratamento pressupõem a existência de um processo de negociação entre pessoas de uma mesma cultura e de culturas distintas. Neste sentido, os serviços de saúde ao tratar a criança com diarréia, devem considerar não apenas a perspectiva biomédica, mas também dialogar com a percepção e as práticas indígenas na identificação da causalidade, na definição do diagnóstico e do tratamento, sobretudo, pela coexistência destas práticas no contexto local.

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Publicado

2008-04-01

Edição

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