Vidas arriscadas: uma reflexão sobre a relação entre o número de gestações e mortalidade materna

Autores

  • Vânia Muniz Néquer Soares Secretaria de Estado
  • Néia Schor Universidade de São Paulo; Faculdade de saúde; Departamento de Saúde Materno-infantil
  • Carlos Mendes Tavares Instituto Nacional de Estatística

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.19888

Palavras-chave:

Multigesta, multiparidade, mortalidade materna, risco reprodutivo

Resumo

Este estudo teve por objetivo identificar o risco e os fatores associados à mortalidade materna de multigestas (cinco ou mais gestações). Descreve a tendência da Taxa de Fecundidade Total (TFT) e da Razão de Mortalidade Materna (RMM) de 1998 a 2004 no Paraná. Apresenta uma análise dos 822 óbitos maternos deste período, o cálculo da Razão de Mortalidade Materna Específica, o Risco Relativo, a freqüência e o Odds Ratio para algumas variáveis segundo número de gestações. Analisa também as causas e a evitabilidade dos óbitos maternos. Os resultados apontaram TFT baixa (1,8 filhos por mulher) e a RMM elevada (69,7/100.000 nascidos vivos) no Paraná em 2004. Um quarto dos 822 óbitos maternos (206) era de multigestas (cinco ou mais gestações), o risco relativo de morte materna foi seis vezes superior do que para as mulheres com até duas gestações, e os perfis sociodemográfico e o reprodutivo foram mais desfavoráveis para aquele grupo de mulheres. A baixa escolaridade, a idade igual ou acima de 30 anos e o pré-natal com menos de quatro consultas apresentaram associação com o maior número de gestações. A proporção de mortes por causas obstétricas indiretas, hemorragias e aborto, foi maior entre as multigestas, e cerca de 90% dos óbitos deste grupo foi considerado evitável. Concluiu-se que o monitoramento das multigestas com idade avançada e em desvantagem social, bem como ações efetivas de planejamento familiar, e serviços obstétricos qualificados para gestação de alto risco são medidas que podem contribuir para a redução da mortalidade materna.

Referências

Say L, Shah I. Mortalidade materna e aborto não-seguro: evitáveis mas persistentes. Boletim Médico IPPF.Vol. 42-n.2-jun 2008.

Toohey JS, Keegan KA, Francis J, TaskS, Veciana M, et al. The dangerous multipara: fact or fiction? Am J Obstet Gynecol. 1995 Feb p. 683-5.

Bai J, Wong FWS, Bauman A, Mohsin M. Parity and pregnancy outcomes. Am J Gynecol. 2002 Feb; 186(2):274-8.

Simonsen SME, Lyon JL, Alder SC, Varner MW. Effect of multiparity onintrapartum and newborn complications in the young women. Obstetrics Ginecol. 2005;106:454-60.

Aliyu MH et al. High parity adverse birth outcomes: exploring the maze. Birth. 2005 Mar;32(1):45-59.

Zimicki S. The relationship between fertility and maternal mortality. In: Parmell AM (org.). Contraceptive use and controlled fertility. Washington, D.C.: National Academy Press; 1989.

Brasil. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher. PNDS2006.Relatório.Brasília/DF;2008.

Brasil. Saúde no Brasil 2004 – Uma análise da situação de saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2004.

Volochko A. A mensuração da mortalidade materna no Brasil. In: Berquó E (org.). Sexo e Vida –Panorama da Saúde Reprodutiva. Campinas: Editora da UNICAMP; 2003.

Organización Pan-americana de la Salud (OPS), Organización Mundial de la Salud (OMS). Estratégia regional para a redução da mortalidade e morbidade materna. In: 26ª Conferência Sanitária Pan-americana, 54ª Sessão do Comitê Regional. Washington; 2003.

Soares VMN, Martins, AL. Trajetória e experiência dos Comitês de Prevenção da Mortalidade Materna do Paraná. Rev Bras Mater Infant, Recife. 2006 Oct/Dec;6(4):453-60.

RIPSA – Rede Interagencial de Informações para a Saúde. Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. Ministério da Saúde. OPAS. Brasília; 2008.

Horta CJG, Fonseca MC. Evolução recente da fecundidade em Minas Gerais. In: IX Seminário sobre a Economia Mineira. Anais do IX Seminário sobre a Economia Mineira, Belo Horizonte, UFMG/CEDEPLAR; 29de agosto a 1º de setembro de 2000.

Berquó E, Cavenaghi S. Mapeamento sócio-econômico e demográfico dos regimes de fecundidade no Brasil e sua variação entre 1991 e 2000. In: 14º Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 2004. (Acesso em 22maio de 2007). Disponível em: http://www.abep.nepo.unicamp.br.

Lang CT,e King JC. Maternal mortalityin the United States. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 22(3):517-31.

Ramos S et al. A comprehensive assessment of maternal deaths in Argentina: translating multicenter collaborate research into action. Bulletin of World Health Organization. 2007; 65(7).

Costa AAR et al Mortalidade materna no Recife. Rev Bras Ginecol Obstet. 2002;Vol 24(2).

Trevisan MR, Lorenzi DRS, Araújo NM, Esber K. Perfil da assistência pré-natal entre usuárias do Sistema Único de Saúde em Caxias do Sul. RBGO. 2002;24(5).

Villar J, Valladares E, Wojdyla D. Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes: the 2005 WHO global survey on maternal and perinatal health in Latin America. Lancet. 2006;367:1819-29.

Calderon IMP, Cecatti JG, Vega CEP. Intervenções benéficas no pré-natal para prevenção da mortalidade materna. Rev Bras Ginecol Obstet 2006; 28(5):310-5.

Bonan C. e Galli, B. Transformando acultura da inevitabilidade: a prevenção da mortalidade materna como questão de justiça social. I Fórum Fluminense Maternidade Segura e Cidadania. 2003http://www.ipas.org.br/arquivos/opiniao.doc.

Gomes FA et al. Mortalidade materna na perspectiva do familiar. Rev Esc Enferm USP. 2006; 40(1):50-6.

Downloads

Publicado

2008-12-01

Edição

Seção

Pesquisa Original