Associação entre indicadores de maus tratos infantis e presença de problemas desenvolvimentais em crianças em início de escolarização

Autores

  • Vanessa Ruiz Vaz Gomez Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto
  • Marina Rezende Bazon Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.81274

Palavras-chave:

maus-tratos infantis, violência doméstica, desenvolvimento infantil, consequências

Resumo

Introdução: a experiência de maus tratos constitui-se em um importante fator de risco ao desenvolvimento humano, a curto e longo prazo. Objetivo: caracterizar uma amostra de crianças em início de escolarização quanto à presença de indicadores de maus tratos infantis e à de problemas emocionais e comportamentais e verificar a associação entre essas variáveis. Métodos: a amostra (n = 40) foi composta por todas as crianças do 1º ano de uma escola municipal cujos pais/responsáveis autorizaram, e seus respectivos professores (n = 6). Para a coleta de dados empregou-se o Inventário de Frases no Diagnóstico de Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes (IFVD) e o Teacher’s Report Form (TRF). Procedeu-se a análises descritivas e inferenciais. Resultados: a pontuação média no IFVD foi de 17,82, fora da faixa de risco, segundo as normas do instrumento. Porém, 30% da amostra obtiveram escore superior a 23, o preconizado para suspeitar de maus tratos. Com isso, estabeleceu-se 2 grupos para a comparação no TRF (crianças suspeitas de serem maltratadas/ crianças sem suspeita). Verificou-se diferenças significativas em Total de Problemas e em Problemas Internalizantes, ainda que em termos médios os dois grupos tenham apresentado performances em níveis normais, em todos os subitens. Conclusão: crianças apresentando indicadores de maus tratos apresentaram também indicadores de depressão e ansiedade, ainda que em níveis não clínicos, corroborando outros estudos. Deve-se, entretanto, considerar que a amostra formada por conveniência pode ter introduzido um viés no tocante à severidade/gravidade dos maus tratos abarcados no estudo. Outros estudos, com amostras maiores e mais diversificadas, devem ser realizados.

Biografia do Autor

  • Vanessa Ruiz Vaz Gomez, Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto
    Psicóloga. Serviço de Psicologia Pediátrica do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
  • Marina Rezende Bazon, Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto

    Professor Doutor (assistente). Curso de Psicologia. Câmpus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto (USP-RP).

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Publicado

2014-06-01

Edição

Seção

Artigos Originais