Qualidade de vida e Síndrome Metabólica em comunidades Quilombolas brasileiras: Estudo Transversal

Autores

  • Luiz Vinicius de Alcantara Sousa Faculdade de Medicina do ABC, Santo André
  • Erika da Silva Maciel Universidade Federal de Tocantins (UFT) – Palmas (TO)
  • Fernando Rodrigues Peixoto Quaresma Universidade Federal de Tocantins (UFT) – Palmas (TO)
  • Ana Carolina Gonçalves de Abreu Faculdade de Santa Maria - Cajazeiras - Paraíba
  • Laércio da Silva Paiva Faculdade de Medicina do ABC, Santo André (SP)
  • Fernando Luiz Affonso Fonseca Faculdade de Medicina do ABC, Santo André (SP)
  • Fernando Adami Faculdade de Medicina do ABC, Santo André/Bolsa Produtividade em Pesquisa

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.152182

Palavras-chave:

Quilombolas, qualidade de vida, síndrome metabólica, WHOQOL-bref

Resumo

Introdução: O estilo de vida das comunidades quilombolas vem sofrendo algumas modificações devido influência extra comunidade, afetando assim, os fatores ambientais e comportamentais relacionados com a Síndrome Metabólica (SM). No entanto, pouco se sabe sobre a influência da SM sobre a Qualidade de Vida (QV) de moradores de quilombos.

Objetivo: Estudar a associação entre SM e QV em comunidades quilombolas do norte do Tocantins.

Método: Estudo transversal com 147 adultos de cinco comunidades quilombolas localizadas no estado de Tocantins. Para mensurar a qualidade de vida, utilizou-se WHOQOL-bref. Pressão arterial, perímetro abdominal, glicemia em jejum, triglicerídeos e HDL-colesterol foram mensurados em exames clínicos. A presença da SM foi definida como a alteração de ao menos três desses aspectos clínicos. A associação dos componentes clínicos e a presença SM com a QV foi avaliada por meio do teste t de Student para amostras independentes, para a população total e estratificada por sexo. Resultados: Dentre os fatores de risco, observa-se que o perímetro abdominal alterado apresenta associação inversa com os domínios Físico (15,2 vs. 14,0; p = 0,002) e QV Geral (14,4 vs. 14,0; p = 0,045), e a SM com o domínio Físico (14,9 vs. 14,0; p = 0,030) na população total. Ao estratificar por sexo, o perímetro abdominal alterado nos homens apresenta associação inversa com os domínios Físico (16,5 vs. 14,4; p< 0,001), Ambiental (14,0 vs. 12,6; p = 0,020) e QV Geral (15,5 vs. 14,0; p < 0,001). A SM apresenta associação inversa com os domínios Físico (15,8 vs. 14,4; p=0,026) e QV Geral (14,8 vs. 14,0; 0,042) nos homens. E nas mulheres não há associação entre os fatores de risco estudados e domínios de qualidade de vida.

Conclusão: O status de SM apresentou-se negativamente associado a qualidade de vida do homem, destacando o perímetro abdominal, que influencia os domínios Físico e Geral da QV, porém, na população feminina a SM não interfere na percepção da QV. Entender a relação entre doenças crônicas e QV em comunidades quilombolas é necessário para reduzir inequidades em saúde de comunidades historicamente vulneráveis.

Biografia do Autor

  • Luiz Vinicius de Alcantara Sousa, Faculdade de Medicina do ABC, Santo André

     Laboratório de Epidemiologia e Análise de Dados

  • Ana Carolina Gonçalves de Abreu, Faculdade de Santa Maria - Cajazeiras - Paraíba

     Discente de Medicina

  • Laércio da Silva Paiva, Faculdade de Medicina do ABC, Santo André (SP)

     Laboratório de Epidemiologia e Análise de Dados

  • Fernando Luiz Affonso Fonseca, Faculdade de Medicina do ABC, Santo André (SP)

     Laboratório de Análises Clínicas

Referências

1. Fundação Cultural Palmares (FCP). Comunidades quilombolas certificadas 2015. [cited 2017 Jul 30] Available from: http://dados.gov.br/dataset/comunidades-quilombolas-certificadas

2. Freitas DA, Rabelo GL, Silveira JCS, Souza LR, Lima MC, Pereira MM, et al. Percepção de estudantes da área da saúde sobre comunidades rurais quilombolas no norte de Minas Gerais-Brasil. Rev CEFAC. 2013;15(4):941-6. DOI: https://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462013000400023

3. Hogan VK, Rowley D, Bennett T, Taylor KD. Life course, social determinants, and health inequities: toward a national plan for achieving health equity for African American infants-a concept paper. Matern Child Health J. 2012;16(6):1143-50. DOI: https://dx.doi.org/10.1007/s10995-011-0847-0

4. Bezerra SMMS, Veiga EV. Quality of life among people with hypertension served in units of family health strategies. J Nurs UFPE. 2013;7(12):7055-63. DOI: https://dx.doi.org/10.5205/1981-8963-v7i12a12376p7055-7063-2013

5. Kabad JF, Bastos JL, Santos RV. Raça, cor e etnia em estudos epidemiológicos sobre populações brasileiras: revisão sistemática na base PubMed. Physis. 2012;22(3):895-918. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312012000300004

6. Silva PS. Quilombos do Sul do Brasil: movimento social emergente na sociedade contemporânea. Rev Identidade. 2010;15(1):51-64.

7. Fleck MPA, Louzada S, Xavier M, Chachamovich E, Vieira G, Santos L, et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida “WHOQOL-bref”. Rev Saúde Pública. 2000;34(2):178-83. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102000000200012

8. Azevedo ALS, Silva RA, Tomasi E, Quevedo LA. Doenças crônicas e qualidade de vida na atenção primária à saúde. Cad Saúde Pública. 2013;29(9):1774-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00134812

9. Zimmet P, Alberti KG, Kaufman F, Tajima N, Silink M, Arslanian S, et al. The metabolic syndrome in children and adolescents–an IDF consensus report. Pediatr Diabetes. 2007;8(5): 299-306. DOI: http://dx.doi.org/10.1111/j.1399-5448.2007.00271.x

10. Pontes LM, Amorim RJM, Lira PIC. Componentes da síndrome metabólica e fatores associados em adolescentes: estudo caso-controle. Rev AMRIGS. 2016;60(2):121-8.

11. Park SS, Yoon YS, Oh SW. Health-related quality of life in metabolic syndrome: The Korea National Health and Nutrition Examination Survey 2005. Diabetes Res Clin Pract. 2011;91(3):381-8. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.diabres.2010.11.010

12. Amiri P, Deihim T, Hosseinpanah F, Barzin M, Hasheminia M, Montazeri A, et al. Diagnostic values of different definitions of metabolic syndrome to detect poor health status in Iranian adults without diabetes. Diabet Med. 2014;31(7):854-61. DOI: http://dx.doi.org/10.1111/dme.12443

13. Margiotta DPE, Basta F, Dolcini G, Batani V, Navarini L, Afeltra A. The relation between, metabolic syndrome and quality of life in patients with Systemic Lupus Erythematosus. PloS One. 2017;12(11):e0187645. DOI: https://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0187645

14. Amaral GB, Pereira CMRB. Interseções entre território e identidade étnica: estudo sobre a comunidade quilombola Barra da Aroeira–TO. Rev Prod Acadêmica. 2016;2(1):65-74.

15. Marques KMCM, Reimer IR. The quilombola stream background on community of Nazareth Brejinho County-TO. Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Goiânia: 2014.

16. Souza LO, Teles AF, Oliveira RJ, Lopes MAO, Souza IA, Inácio VSS, et al. Triagem das hemoglobinas S e C e a influência das condições sociais na sua distribuição: um estudo em quatro comunidades quilombolas do Estado do Tocantins. Saúde Soc. 2013;22(4):1236-46. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902013000400024

17. Development of the World Health Organization WHOQOL-BREF quality of life assessment. The WHOQOL Group. Psychol Med. 1998;28(3):551-8.

18. Pedroso B, Pilatti LA, Gutierrez GL, Santos CB, Picinin CT. Validação da sintaxe unificada para o cálculo dos escores dos instrumentos Whoqol. Conexões. 2011;9(1):130-56. DOI: https://dx.doi.org/10.20396/conex.v9i1.8637717

19. Vahedi S. World Health Organization Quality-of-Life Scale (WHOQOL-BREF): analyses of their item response theory properties based on the graded responses model. Iran J Psychiatry. 2010;5(4):140-53.

20. Veiga EV, Nogueira MS, Cárnio EC, Marques S, Lavrador MAS, Moraes AS, et al. Assessment of the techniques of blood pressure measurement by health professionals. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):89-93. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2003000100008

21. Alves M.M. Desenvolvimento de um software para avaliação nutricional antropométrica utilizando Visual Basic For Applications. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal: 2016.

22. Guerrero GP, Beccaria LM, Trevizan MA. Procedimento operacional padrão: utilização na assistência de enfermagem em serviços hospitalares. Rev Latino-Am Enfermagem. 2008;16(6): 966-72. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692008000600005

23. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO). Diretrizes brasileiras de obesidade: 2016. 4.ed. São Paulo: ABESO, 2016.

24. Volochko A, Batista LE. Saúde nos quilombos. São Paulo: Instituto de Saúde, 2009; p.195-6.

25. Silva RJS, Smith-Menezes A, Tribess S, Rómo-PerezV, Virtuoso Júnior JS. Prevalência e fatores associados à percepção negativa da saúde em pessoas idosas no Brasil. Rev Bras Epidemiol. 2012;15(1):49-62. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2012000100005

26. Braga MCP, Casella MA, Campos MLN, Paiva SP. Qualidade de vida medida pelo Whoqol-bref: Estudo com idosos residentes em Juiz de Fora/MG. Rev APS. 2011;14(1):93-100.

27. Sousa LVA, Maciel ES, Quaresma FRP, Paiva LS, Fonseca FLA, Adami F. Descriptions of perceived quality of life of residents from a quilombo in north Brazil. J Hum Growth Dev. 2018;28(2):199-205. DOI: http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.147239

28. Almeida-Brasil CC, Silveira MR, Silva KR, Lima MG, Faria CDCM, Cardoso CL, et al. Qualidade de vida e características associadas: aplicação do WHOQOL-BREF no contexto da Atenção Primária à Saúde. Cienc Saúde Coletiva. 2017;22(5):1705-16. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017225.20362015

29. Miranzi SSC, Ferreira FS, Iwamoto HH, Pereira GA, Miranzi MAS. Qualidade de vida de indivíduos com diabetes mellitus e hipertensão acompanhados por uma equipe de saúde da família. Texto Contexto Enferm. 2008;17(4):672-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072008000400007

30. Amarasinghe A, D’Souza A, Brown C, Oh H, Borisova T. The influence of socioeconomic and environmental determinants on health and obesity: a West Virginia case study. Int J Environ Res Public Health. 2009;6(8):2271-87. DOI: http://dx.doi.org/10.3390/ijerph6082271

31. Freitas DA, Caballero AD, Marques AS, Hernández CIV, Antunes SLNO. Saúde e comunidades quilombolas: uma revisão da literatura. Rev CEFAC. 2011;13(5):937-43. DOI: https://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462011005000033

32. Santos VC, Boery EM, Pereira R, Rosa DOS, Vilela ABA, Anjos KF, et al. Socioeconomic and health conditions associated with Quality of life of elderly quilombolas. Texto Contexto Enferm. 2016;25(2):e1300015. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072016001300015

33. Neves LAT. Contributions in the field of Public Health for decision-making in health. J Hum Growth Dev. 2017;27(2):128-31. DOI: http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.137515

34. Oliveira LF, Rodrigues PAS. Circunferência de cintura: protocolos de mensuração e sua aplicabilidade prática. Nutrivisa Rev Nutr Vigilância Saúde. 2016;3(2):90-5. DOI: http://dx.doi.org /10.17648/nutrivisa-vol-3-num-2-h

35. Chen Y, Sun G, Guo X, Chen S, Chang Y, Li Y, et al. Factors affecting the quality of life among Chinese rural general residents: a cross-sectional study. Public Health. 2017;146:140- 7. DOI: https://dx.doi.org/10.1016/j.puhe.2017.01.023

36. Choo J, Jeon S, Lee J. Gender differences in health-related quality of life associated with abdominal obesity in a Korean population. BMJ open. 2014;4(1):e003954. DOI: http://dx.doi.org/10.1136/bmjopen-2013-003954

37. Lutsey PL, Steffen LM, Stevens J. Dietary intake and the development of the metabolic syndrome: The Atherosclerosis Risk in Communities study. Circulation. 2008;117(6):754-61. DOI: http://dx.doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.107.716159

38. Mbugua SM, Kimani ST, Munyoki G. Metabolic syndrome and its components among university students in Kenya. BMC Public Health. 2017;17(1):909. DOI: http://dx.doi.org/10.1186/s12889-017-4936-x

39. Sahyoun NR, Jacques PF, Zhang XL, Juan W, McKeown NM. Wholegrain intake is inversely associated with the metabolic syndrome and mortality in older adults. Am J Clin Nutr. 2006;83(1):124-31. DOI: http://dx.doi.org/10.1093/ajcn/83.1.124

40. Wennberg M, Gustafsson PE, Wennberg P, Hammarström A. Poor breakfast habits in adolescence predict the metabolic syndrome in adulthood. Public Health Nutr. 2015;18(1):122-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1017/S1368980013003509

41. Ribeiro BVS, Mendonça RG, Oliveira LL, Lima GS, Martins-Filho PRS, Moura NPR, et al. Anthropometry and lifestyle of children and adolescent in inland of Northeastern Brazil. J Hum Growth Dev. 2017;27(2):140-7. DOI: https://doi.org/10.7322/jhgd.119751

42. Piotrowicz K, Pałkowska E, Bartnikowska E, Krzesiński P, Stańczyk A, Biecek P, et al. Selfreported health-related behaviors and dietary habits in patients with metabolic syndrome. Cardiol J. 2015;22(4):413-20. DOI: http://dx.doi.org/10.5603/CJ.a2015.0020

Publicado

2018-11-28

Edição

Seção

Artigos Originais