A ontologia do negativo: na língua, verdadeiramente, só existem diferenças?

Autores

  • Fábio Roberto Lucas Universidade Federal do Paraná
  • Patrice Maniglier Université Paris Nanterre

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2596-2477.i42p230-244

Palavras-chave:

Bergson, diferença, Hegel, negação, ontologia, Saussure, semântica, signo, estruturalismo

Resumo

Nenhuma tese contribuiu mais para o eco filosófico das linguísticas estruturais do que a célebre frase de Saussure: “Na língua, só existem diferenças, sem termo positivo”. É também uma das mais criticadas: o caráter diferencial do signo não decorre, simplesmente, de a linguagem ser um meio limitado que deve comunicar mensagens em número ilimitado? (cf. Jakobson, Martinet, depois V. Descombes ou Th. Pavel)? Mostra-se aqui que essa evasão da questão ontológica tem, contudo, um custo teórico: ela obriga a aderir a uma concepção funcionalista da linguagem e a uma semântica referencialista. Ademais, contrariamente à interpretação habitual, apenas o significante e o significado separadamente são diferenciais; o signo em totalidade, esse, é positivo. Por meio de uma releitura de Bergson e Hegel, mostra-se que a noção de diferença qualitativa pura é filosoficamente insustentável, e procura-se reconstituir a teoria do valor por meio da distinção entre diferença e oposição. Obtém-se daí uma concepção diferente da ideia segundo a qual o que caracteriza a espécie humana é sua capacidade simbólica.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

BERGSON, HENRI. Les données immédiates de la conscience. Paris: PUF, 1889.

BERGSON, HENRI. Ensaio sobre os dados imediatos da consciência. Trad. João da Silva Gama. Lisboa: Edições 70, 1989.

CHOMSKY, NOAM; HALLE, MORRIS. Principes de phonologie générative. Trad. Pierre Encrevé. Paris: Minuit, 1973.

DELEUZE, GILLES. Différence et Répétition. Paris: PUF, 1968.

DELEUZE, GILLES. Logique du sens. Paris: Minuit, 1969.

DELEUZE, GILLES. À quoi reconnaît-on le structuralisme. In: CHATELET, FRANÇOIS. Histoire de la philosophie, t. VIII : le XX° siècle. Paris: Hachette, 1972, p. 299-335.

DELEUZE, GILLES. Lógica do sentido. Trad. Luiz Roberto Salinas Fortes. São Paulo: Perspectiva, 1974.

DELEUZE, GILLES. Em que se reconhece o estruturalismo. In: CHÂTELET, FRANÇOIS. História da filosofia, t. VIII: o século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1982, p. 271-303.

DELEUZE, GILLES. L’île déserte et autres textes. Textes et entretiens, 1953-1974. Paris: Minuit, 2002.

DELEUZE, GILLES. Diferença e Repetição. Trad. Luiz Orlandi e Roberto Machado. São Paulo: Graal, 2009.

DELEUZE, GILLES. A ilha deserta e outros textos: textos e entrevistas (1953-1974). Trad. Luiz Orlandi. São Paulo: Iluminuras, 2008.

DERRIDA, JACQUES. De la grammatologie. Paris: Minuit, 1967.

DERRIDA, JACQUES. Marges de la philosophie. Paris: Minuit, 1972.

DERRIDA, JACQUES. Margens da filosofia. Trad. Joaquim Torres Costa e Antônio M. Magalhães. Campinas: Papirus, 1991.

DERRIDA, JACQUES. Gramatologia. Trad. Miriam Schnaiderman e Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Perspectiva, 2016.

DESCOMBES, VINCENT (1979). Le même et l’autre, Quarante-cinq ans de philosophie française (1933-1978). Paris: Minuit, 1979.

HEGEL, G. W. F. Science de la logique, Premier Tome, Deuxième Livre, La doctrine de l’essence. Trad. Labarrière, Pierre-Jean et Jarczyck, Gwendoline. Paris: Aubier-Montaigne, 1976

HEGEL, G. W. F. Ciência da Lógica: 2. A Doutrina da Essência. Trad. Christian G. Iber e Federico Orsini. Petrópolis: Vozes, 2017.

JAKOBSON, ROMAN. Essais de linguistique générale. Paris: Minuit, 1963.

JAKOBSON, ROMAN; WAUGH, LINDA. La charpente phonique du langage. Trad. Alain Kim. Paris: Minuit, 1979.

LACAN, JACQUES. Le Séminaire Livre III, Les psychoses, 1955-1956. Paris: Seuil, 1981.

LACAN, JACQUES. O Seminário Livro 3, as psicoses, 1955-1956. Versão de Aluísio Menezes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

MANIGLIER, PATRICE. Le vocabulaire de Lévi-Strauss. Paris: Ellipses, 2002.

MANIGLIER, PATRICE. La langue, cosa mentale. In: Saussure. Paris: Editions de l’ Herne, 2003.

MILNER, JEAN-CLAUDE. L’amour de la langue. Paris: Seuil, 1978.

MILNER, JEAN-CLAUDE. O amor da Língua. Trad. Paulo Sérgio de Souza Jr. Campinas: Editora Unicamp, 2012.

PAVEL, THOMAS. Le mirage linguistique, essai sur la modernité intellectuelle. Paris: Minuit, 1988

PAVEL, THOMAS. A miragem linguística, ensaio sobre a modernidade intelectual. Trad. Eni Orlandi, Pedro de Souza e Selene S. Guimarães. Campinas: Pontes, 1990.

PINKER, STEVEN. L’instinct du langage. Trad. Marie-France Desjeux. Paris: Odile Jacob, 1999

PINKER, STEVEN. O instinto da linguagem. Trad. Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

RASTIER, FRANÇOIS. Sémantique interprétative. Paris: PUF, 1987.

RASTIER, FRANÇOIS. Sémantique et recherches cognitives. Paris: PUF, 1991.

SAUSSURE, FERDINAND DE. Cours de linguistique générale, édição crítica de Rudolf Engler, Wiesbaden: Otto Harrassowitz, Tome 1, 1967.

SAUSSURE, FERDINAND DE. Cours de Linguistique générale. Paris: Payot, 1972.

SAUSSURE, FERDINAND DE. Curso de Linguística Geral. Trad. Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 2006.

SAUSSURE, FERDINAND DE. Écrits de linguistique générale. Paris: Gallimard, 2002.

SAUSSURE, FERDINAND DE. Escritos de linguística geral. Trad. Carlos Augusto Leuba Salum e Ana Lúcia Franco. São Paulo: Cultrix, 2004.

TROUBETZKOY, N. S. Principes de phonologie. Trad. J. Cantineau. Paris: Librairie C. Klincksieck, 1949.

Downloads

Publicado

2020-12-23

Como Citar

Maniglier, P. . (2020). A ontologia do negativo: na língua, verdadeiramente, só existem diferenças? (F. R. Lucas , Trad.). Manuscrítica: Revista De Crítica Genética, 42, 230-244. https://doi.org/10.11606/issn.2596-2477.i42p230-244