Fake news, WhatsApp e a vacinação contra febre amarela no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v14i1p79-106

Palavras-chave:

Fake news, pós-verdade, vacina, saúde, mídia

Resumo

Este artigo tem como objetivo principal, a partir de uma perspectiva etnográfica, analisar como determinados usuários do Sistema Único de Saúde consomem e fazem circular informações sobre vacinação, e se confiam ou não nelas. Realizamos diversas entrevistas com pessoas à espera de se vacinar contra a febre amarela no final de 2017. Por meio das entrevistas numa situação tão particular, observamos algumas mudanças sensíveis no regime de verdade contemporâneo. Concluímos que as redes de comunicação on-line se hibridizam com outros processos de socialização existentes, especialmente com as crenças religiosas, o que nos fez entender que a confiança nas informações circulantes é mais da ordem da convicção do que da persuasão.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Igor Sacramento, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura

    Doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Professsor do  Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde da Fiocruz.

  • Raquel Paiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Professora titular da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pesquisadora 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Referências

Beck, U. (1992). Risk society: Towards a new modernity. Londres, Inglaterra: Sage.

Bird, S. E. (2003). The audience in everyday life: Living in a media world. Nova York, NY: Routledge.

Bretas, V. (2018, 2 de fevereiro). 10 respostas sobre a vacina fracionada contra febre amarela. Superinteressante. Recuperado de http://bit.ly/3651CQr

Corner, J. (2017). Fake news, post-truth and media-political change. Media, Culture & Society, 39(7), 1100-1107. doi: https://doi.org/10.1177/0163443717726743

Costa, M. T. (2018, 22 de maio). Fake news tiveram influência na vacinação contra a febre amarela no Brasil, diz chefe da OMS. G1. Recuperado de https://glo.bo/31MjBHG

Couldry, N. (2004). Theorising media as practice. Social Semiotics, 14(2),115-132. doi: https://doi.org/10.1080/1035033042000238295

D’Amaral, M. T. (2004). Comunicação e diferença: Uma filosofia de guerra para uso dos homens comuns. Rio de Janeiro, RJ: Editora UFRJ.

Dez ameaças à saúde que a OMS combaterá em 2019 (2019). OPAS: Brasil. Recuperado de http://bit.ly/2W8BK1s

Dubé, E., Vivion, M., & MacDonald, N. (2015). Vaccine hesitancy, vaccine refusal and the anti-vaccine movement: Influence, impact and implications. Expert Review of Vaccines, 14(1), 99-117. doi: https://doi.org/10.1586/14760584.2015.964212

Dunker, C. (2017). Subjetividade em tempos de pós-verdade. In C. Dunker, C. Tezza, J. Fuks, M. Tiburi, & V. Safatle. Ética e pós-verdade (pp. 10-45). São Paulo, SP: Brasiliense.

Eichler, V. A., Kalsing, J., & Gruszynski, A. (2018). O ethos do jornal O Globo e a campanha contra as fake news. Media & Jornalismo, 18(32), 139-154. Recuperado de https://impactum-journals.uc.pt/mj/article/view/5681

Facebook vai combater grupos antivacinas reduzindo alcance das fake news nas redes. (2019, 8 de março). Gazeta do Povo. Recuperado de http://bit.ly/32Niw3I

Fato ou fake está nas redes sociais e no WhatsApp; saiba como acessar e tirar dúvidas (2018, 30 de julho). Extra. Recuperado de https://glo.bo/2MMdTle

Fontaine, P. (2003). La croyance. Paris, França: Ellipses.

Foucault, M. (1986). Microfísica do poder. Rio de Janeiro, RJ: Graal.

Foucault, M. (2008). Nascimento da biopolítica. São Paulo, SP: Martins Fontes.

Garcia, M. (2017). Disseram por aí: deu zika na rede! Boatos e produção de sentidos sobre a epidemia de zika e microcefalia nas redes sociais (Dissertação de mestrado, Fundação Oswaldo Cruz). Recuperado de https://bit.ly/2WRrNGh

Giddens, A. (1991). As conseqüências da modernidade. São Paulo, SP: Editora Unesp.

Giddens, A. (2002). Modernidade e identidade. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editor.

Goméz, R. R. (2018). Os sentidos da antivacinação nas redes sociais e suas relações com o discurso dominante de imunização no Brasil (Dissertação de mestrado), Fundação Oswaldo Cruz). Rio de Janeiro, RJ.

Henriques, C. M. P. (2018). A dupla epidemia: Febre amarela e desinformação. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, 12(1), 9-13. doi: https://doi.org/10.29397/reciis.v12i1.1513

Larson, H. J., Jarrett, C., Eckersberger, E., Smith D. M., & Paterson, P. (2014). Understanding vaccine hesitancy around vaccines and vaccination from a global perspective: a systematic review of published literature, 2007-2012. Vaccine, 32(19), 2150-2159. doi: https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2014.01.081

Lerner, K., & Sacramento, I. (2012). Ambivalências do risco: a produção da confiança e da desconfiança na cobertura de O Estado de S. Paulo da campanha nacional de vacinação contra a influenza H1N1. Tempo Brasileiro, 188, 39-60.

Lopes, F. L. (2009). Retórica jornalística: Discurso do poder e poder do discurso. In F. L. Lopes & I. Sacramento (Eds.), Retórica e mídia: estudos ibero-brasileiros (pp. 245-256). Florianópolis, SC: Insular.

Lupton, D. (1995). The imperative of health: Public health and the regulated body. Londres, Inglaterra: Sage.

Marchi, R. (2012). With Facebook, blogs, and fake news, teens reject journalistic “objectivity”. Journal of Communication Inquiry, 36(3), 246-262, 2012. doi: https://doi.org/10.1177/0196859912458700

Martín-Barbero, J. (1995). América Latina e os anos recentes: O estudo da recepção em comunicação social. In M. W. Souza (Org.), Sujeito, o lado oculto do receptor (pp. 39-68). São Paulo, SP: Brasiliense.

Martín-Barbero, J. (1997). Dos meios às mediações: Comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro, RJ: Editora UFRJ.

Martín-Barbero, J. (2004). Ofício de cartógrafo: Travessias latino-americanas da comunicação na cultura. São Paulo, SP: Loyola.

Miller, D., & Horst, H. (2012). The digital and the human: A prospectus for digital anthropology. In H. Horst & D. Miller (Eds.), Digital anthropology (pp. 3-38). Oxford, Inglaterra: Berg.

Minayo, C. (2004). O desafio do conhecimento: Pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo, SP: Hucitec.

Ministério da Saúde (2019, 16 de Agosto ). Febre amarela: Sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Recuperado de http://bit.ly/32KQUMR

Otto, K., & Köhler, A. (Eds.). (2018). Trust in media and journalism: Empirical perspectives on ethics, norms, impacts and populism in Europe. Nova York, NY: Springer.

Pains, C. (2018, 13 de novembro). ‘Tudo indica que a febre amarela voltará, e forte’, diz especialista em imunização. O Globo. Recuperado de https://glo.bo/31OJSoN

Peirano, M. (1983). Etnocentrismo às avessas: O conceito de “sociedade complexa”. Dados: Revista de Ciências Sociais, 26(1), 97-115.

Pennycook, G., & Rand, D. G. (2019). Who falls for fake news? The roles of bullshit receptivity, overclaiming, familiarity, and analytic thinking. Journal of Personality, 87(4), 1152-1163. doi: https://doi.org/10.2139/ssrn.3023545

PNAD Contínua TIC 2016: 94,2% das pessoas que utilizaram a Internet o fizeram para trocar mensagens (2018, 21 de fevereiro). Agência IBGE. Recuperado de http://bit.ly/2MK7Cq4

Ricoeur, P. (2006). La condition d’étranger. Esprit, (3), 264-275. doi: https://doi.org/10.3917/espri.0603.0264

Ricoeur, P. (1976). La croyance. In Encyclopaedia Universalis (Vol. 5, pp. 171-179). Paris, França: Encyclopædia Universalis.

Ricoeur, P. (1983). La problématique de la croyance: Opinion, assentiment, foi. In H. Parret (Ed.), De la croyance: Approaches épistémologiques et sémiotiques (pp. 292-301). Berlim, Alemanha: Walter de Gruyter.

Sacramento, I., & Lerner, K. (2015). Pandemia e biografia no jornalismo: Uma análise dos relatos pessoais da experiência com a Influenza H1N1 em O Dia. Revista Famecos, 22(4), 55-70. doi: https://doi.org/10.15448/1980-3729.2015.4.19552

Sarlo, B. (2007). Tempo passado: Cultura da memória e guinada subjetiva. Belo Horizonte, MG: Editora UFMG.

Sato, A. P. (2018). Qual a importância da hesitação vacinal na queda das coberturas vacinais no Brasil? Revista de Saúde Pública, 52, 1-9. doi: https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2018052001199

Saúde sem fake news. (2018, 24 de agosto). Recuperado de http://bit.ly/2pdVmoF

Schlesinger, P. (2017). Book Review: The media and public life: A history. Media, Culture & Society, 39(4), 603-606. doi: https://doi.org/10.1177/0163443717692858

Secretaria de Comunicação Social (2014). Pesquisa brasileira de mídia 2015: Hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. Brasília, DF: Secom. Recuperado de http://bit.ly/2Pe5AQJ

Seixas, R. (2019). A retórica da pós-verdade: O problema das convicções.

EID&A: Revista Eletrônica de Estudos Integrados em Discurso e Argumentação, (18), 122-138. doi: https://doi.org/10.17648/eidea-18-2197

Sodré, M. (2002). Antropológica do espelho: Por uma teoria da comunicação linear e em rede. Petrópolis, RJ: Vozes.

Sodré, M. (2019). O facto falso: Do factoide às fake news. In J. Figueira & S. Santos (Eds.), As fake news e a nova ordem (des)informativa na era da pós-verdade (pp. 87-100). Coimbra, Portugal: Imprensa da Universidade de Coimbra.

Sodré, M., & Paiva, R. (2011). Informação e boato na rede. In G. Silva, D. Künsch, C. Berger, & A. Albuquerque (Eds.), Jornalismo contemporâneo: Figurações, impasses e perspectivas (pp. 21-32). Salvador, BA: Edufba.

Speed E., & Mannion, R. (2017). The rise of post-truth populism in pluralist liberal democracies: Challenges for health policy. International Journal Health Policy Management, 6(5), 249-251. doi: https://doi.org/10.15171/ijhpm.2017.19

Succi, R. (2018). Recusa vacinal: Que é preciso saber. Jornal de Pediatria, 94(6), 574-581. doi: https://doi.org/10.1016/j.jped.2018.01.008

Waisbord, S. (2018). Truth is what happens to news: On journalism, fake news, and post-truth. Journalism Studies, 19(13), 1866-1878.

Wallston, K. A., & Wallston, B. S. (1982). Who is responsible for your health? The construct of health locus of control. In G. Sanders & J. M. Suls (Eds.), Social psychology of health and illness (pp. 65-95). Hillsdale, NJ: Erlbaum.

Waszak, P. M., Kasprzycka-Waszak, W., & Kubanek, A. (2018). The spread of medical fake news in social media: The pilot quantitative study. Health Policy and Technology, 7(2), 115-118. doi: https://doi.org/10.1016/j.hlpt.2018.03.002

WhatsApp do EXTRA recebeu mais de um milhão de mensagens e 50 mil fotos em um ano (2014, 29 de junho). Extra. Recuperado de https://glo.bo/36arfzp

Word of the year 2016. (2016, 8 de novembro). Recuperado de https://bit.ly/2L94ylz

World Health Organization. (2014). Report of the SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. Recuperado de http://bit.ly/2MJoopa

Publicado

2020-05-07

Edição

Seção

Dossiê

Como Citar

Sacramento, I., & Paiva, R. (2020). Fake news, WhatsApp e a vacinação contra febre amarela no Brasil. MATRIZes, 14(1), 79-106. https://doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v14i1p79-106