A “beleza livre” e a arte não-figurativa

Autores

  • Luiz Costa Lima

DOI:

https://doi.org/10.11606/1982-8837.pg.2004.68178

Palavras-chave:

Kant, representação, apresentação, o sublime, o não-figurativo

Resumo

Trata-se de uma leitura “interessada” da Crítica da faculdade de julgar. Interessada porque, ao contrário do que se tornou freqüente nas últimas décadas, busca-se desvincular o conceito kantiano da “beleza livre” da defesa antecipada de uma arte abstrata. Interessada ainda porque, em vez de se expor (mais uma vez) o arcabouço da Kritik der Urteilskraft, procura-se mostrar como a Terceira Crítica kantiana pode servir de base para algo que não esteve em seu propósito: repensar a própria idéia de mímesis. Para tanto, será decisivo o entendimento do sublime (das Erhabene) kantiano: tomado inicialmente como uma modalidade da experiência estética, de que a outra era a beleza, progressivamente o sublime se afasta daquela. Se beleza e sublime são tematizados fora do “juízo determinante”, em que as propriedades do objeto se impõem ao sujeito, as modalidades da experiência estética supõem, ao contrário, o primado do sujeito. Este implica graus: desde a experiência de harmonia propiciada pela beleza até à do “prazer negativo” do sublime. Estes são pólos pelos quais a realidade é retrabalhada pelo sujeito. No pólo da beleza, a “representação” da realidade ainda desempenha um papel saliente. No “prazer negativo” do sublime, a “representação” é subordinada ao poder da “apresentação”. Mas as duas espécies de experiência, a da beleza e a do sublime, pertencem ao mesmo campo da experiência estética porque em ambas o sujeito retrabalha – e não se descarta – o que lhe vem de fora. Ou seja, será preciso que entendamos a “Vorstellung” sempre como uma experiência em que o externo será transformado pelo sujeito. I.e., a representação na Terceira Crítica será sempre uma representação-efeito. Tanto no sublime como na “beleza livre” a metamorfose do externo pelo sujeito atinge seu máximo grau, sem que isso signifique que o pólo externo – o que costumamos chamar de ‘mundo’ ou ‘realidade’ – desapareça. Será, portanto, preciso repensar-se o conceito de mímesis para que se dê conta da metamorfose do mundo efetuado pela radicalização da experiência estética através da “beleza livre”.

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Biografia do Autor

  • Luiz Costa Lima
    O autor é Professor Titular de Literatura comparada da UERJ.

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Publicado

2004-12-19

Edição

Seção

Dossiê: Kant e a problemática do sublime

Como Citar

LIMA, Luiz Costa. A “beleza livre” e a arte não-figurativa. Pandaemonium Germanicum, São Paulo, Brasil, n. 8, p. 75–119, 2004. DOI: 10.11606/1982-8837.pg.2004.68178. Disponível em: https://revistas.usp.br/pg/article/view/68178.. Acesso em: 24 abr. 2024.