Fritz Kalmar: a memória de uma Europa artificial nos Andes bolivianos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/1982-8837234151

Palavras-chave:

Literatura austríaca, literatura judaica, identidade, Império Austro-húngaro, memória

Resumo

Este artigo propõe-se a analisar a trajetória do escritor austríaco Fritz Kalmar e seu conto “Der Austrospinner” (“O austro-louco”), incluído na antologia Das Herz europaschwer, de 1997, à luz das identidades surgidas no contexto da emancipação e da assimilação judaicas na Áustria. Georg von Winternitz, protagonista desta narrativa, encarna, em seu exílio boliviano, os fundamentos de uma identidade austríaca cultivada na velha Monarquia Habsburga, legatária do Sacro Império Romano Germânico, e organiza sua existência no novo país de acordo com valores éticos e com princípios católicos, humanistas e universalistas, cultivados, sobretudo, por literatos austríacos do fim do século XIX e do início do século XX, que se dedicaram à construção da identidade imperial austríaca. Esse sistema de valores, particularmente caro aos judeus austríacos da época do Kaiser Franz Josef, revela uma surpreendente sobrevida nos Andes bolivianos depois de 1938. Ao adotar um menino indígena que está em vias de tornar-se um ladrão, esse personagem não só pretende educá-lo como, sobretudo, pretende fazer dele “um austríaco”, o que significa, para o personagem, nele instilar um sistema de valores vinculado à extinta Áustria imperial. A discussão sobre esse conceito, “o austríaco”, presente na literatura austríaca do século XIX e do início do século XX, é trazida à tona para tentar compreender o que se encontra por trás deste projeto. Para além dessa questão surge, ao longo da narrativa, uma alusão ao fato de que tanto o narrador quanto o protagonista da narrativa são descendentes de judeus que também “se tornaram” austríacos. “Tornar-se austríaco”, assim, e com isto o conceito de gelernter Österreicher, temas inextricavelmente ligados ao processo de emancipação e assimilação judaica na Áustria do século XIX, são questões que ressurgem, de forma distópica e anacrônica, na Bolívia dos anos 1950, na trajetória de Kalmar tanto quanto na de seu personagem.

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Biografia do Autor

  • Luis Krausz, Universidade de São Paulo

    Universidade de São Paulo, Rua do Lago, 717, Cidade Universitária, Butantã, São Paulo, SP, 05508-900, Brasil.

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Publicado

2020-07-14

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

KRAUSZ, Luis. Fritz Kalmar: a memória de uma Europa artificial nos Andes bolivianos. Pandaemonium Germanicum, São Paulo, Brasil, v. 23, n. 41, p. 51–73, 2020. DOI: 10.11606/1982-8837234151. Disponível em: https://revistas.usp.br/pg/article/view/172401.. Acesso em: 19 abr. 2024.