O lugar do tabaco: cachimbo e xamanismo Mbya Guarani

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.161082

Palavras-chave:

Mbya Guarani, tabaco, cachimbo, xamanismo, embriaguez

Resumo

Este artigo busca estudar o uso do cachimbo e do tabaco entre os Mbya Guarani. Trata-se de um dispositivo central na comunicação com as divindades, mas que também é utilizado cotidianamente em ambientes onde esta relação não estaria (a princípio) em pauta. A análise do material etnográfico colhido pelo autor e a sua comparação com outros contextos ameríndios estabelece um campo semântico definido pelo pensamento mbya a partir do cachimbo e do tabaco buscando mostrar o que estes itens comunicam para além da relação com as divindades. Neste percurso passa-se pelo papel do cachimbo e do tabaco no sistema de trocas de feitiço entre as unidades locais mbya e também pela importância dos mesmos para a produção da pessoa mbya. Neste sentido conclui-se que gradientes de distância e de temperatura orientam de modo marcante o xamanismo mbya.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Vicente Cretton Pereira, Universidade Federal de Alfenas
    Vicente Cretton Pereira trabalha como docente de magistério superior na UNIFAL (Universidade Federal de Alfenas). Possui Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2010) e doutorado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense. Tem como foco de pesquisa relações de alteridade entre os Guarani Mbya, principalmente com os não índios em meio dito urbano.      

Referências

APARICIO, Miguel. 2017. “A explosão do olhar: do tabaco nos Arawa do rio Purus”. Mana, v.23, n.1: 9-35.

ARAÚJO, Ellen Fernanda Natalino. 2016. Tabaco, corporalidade e perspectivas entre alguns povos ameríndios. Niterói, dissertação de mestrado, Universidade Federal Fluminense.

ASSIS, Valéria Soares de. 2006. Dádiva, mercadoria e pessoa: as trocas na constituição do mundo social mbyá-guarani. Rio Grande do Sul, tese de doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

ASSIS, Valéria de & GARLET, Ivori José. 2004. “Análise sobre as populações guarani contemporâneas: demografia, espacialidade e questões fundiárias”. Revista das índias, v.LXIV, n.230: 35-54.

BONAMIGO, Zélia Maria. 2009. A economia dos Mbya-Guaranis: trocas entre homens e entre deuses e homens na ilha da Cotinga, em Paranaguá - PR. Curitiba, Imprensa Oficial.

CADOGAN, Léon. 1959. Ayvu Rapyta: Textos míticos de los Mbya-Guarani Del Guaíra. São Paulo, Ed. USP.

CADOGAN, Léon. 1971. Yvyra ñe’ery: fluie del árbol la palabra. Asunción del Paraguay: Centro de Estudios Antropologicos de La Universidad Católica “Nuestra Señora de Asunción”.

CHASE-SARDI, Miguel1992 Tuguy ñeë reepy: el precio de la sangre. Estudio de la cultura y el control social entre los Avá-Guarani. Asunción; Centro de estúdios Antropológicos (Biblioteca Paraguaya de Antropologia, 16).

CLASTRES, Pierre. 1990[1974]. A fala sagrada: mitos e cantos sagrados dos índios guarani. Campinas-SP, Papirus.

CUNHA, Gilmara Holanda da; JORGE, Antonio Rafael Coelho; FONTELES, Marta Maria F.; SOUZA, Francisca Cléa F.; VIANA, Glauce Socorro B.; e VASCONCELOS, Silvânia Maria Mendes. 2007. “Nicotina e tabagismo”. Revista Eletrônica Pesquisa Médica, v.1, n.4: 1-10.

DELEUZE, Gilles. 2002. Espinosa: filosofia prática. São Paulo, Escuta.

ECHEVERRI, Juan Alvaro. 2015. “Cool Tobacco Breath: the uses and meanings of tobacco among the People of the Centre”. In RUSSEL, Andrew & RAHMAN, Elizabeth (eds.), The Master Plant: Tobacco in Lowland South America. London: Bloomsbury Academic Publishing, pp. 107-129.

ELLERBY, Jonhatan H. 2000. Spirituality, holism and healing among the Lakota Sioux: towards an understanding of indigenous medicine. Manitoba, dissertação de mestrado, University of Manitoba.

FACCIO, Neide Barrocá; DI BACO, Hiuri Marcel. 2009. “Cachimbo guarani no Sítio Arqueológico do Macaco, estado de São Paulo”. Tópos v.3, n.2: 36-49.

FAIAD, Paulo. 2014. “17 sítios arqueológicos indígenas são descobertos em Sergipe”. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2014/11/17-sitios-arqueologicos-indigenas-sao-descobertos (acesso em: 11/07/2017).

FAUSTO, Carlos. 2004. “A Blend of Blood and Tobacco: shamans and jaguars among the Parakanã of Eastern Amazonia”. In: WHITEHEAD, Neil & WRIGHT, Robin (eds.). In darkness and secrecy. The anthropology of assault sorcery and witchcraft in Amazonia. Durhan: Duke University Press, pp. 157-178.

FAUSTO, Carlos. 1992. “Fragmentos de história e cultura tupinambá: Da etnologia como instrumento crítico de conhecimento etno-histórico”. In: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, pp. 381-396.

GALLOIS, Dominique Tilkin. 1996. “Xamanismo Waiãpi: nos caminhos invisíveis a relação i-paie”. In: LANGDON, Esther Jean (org.). Xamanismo no Brasil: novas perspectivas. Florianópolis, Editora da UFSC, pp. 39-74.

GARLET, Ivori José; SOARES, André Luis Ramos. 1998. “Cachimbos Mbyá-Guarani: Aportes Etnográficos para uma Arqueologia Guarani”. In: FUNARI, Pedro Paulo Abreu (org.). Arqueologia Histórica e Cultura Material. Campinas, UNICAMP, pp. 207-213.

GASPAR, Maria Dulce. 2011. “Arqueologia, cultura material e patrimônio. Sambaquis e cachimbos. Cultura material e patrimônio de C & T”. Disponível em: http://www.mast.br/projetovalorizacao/textos/livro%20cultura%20material%20e%20patrim%C3%B4nio%20de%20C&T/5%20ARQUEOLOGIA,%20CULTURA%20MATERIAL%20E%20PATRIM%C3%94NIO_mariadulce.pdf ( acesso em: 11/07/2017).

GIL, Laura Pérez. 2001. “O sistema médico Yawanáwa e seus especialistas: cura, poder e iniciação xamânica”. Cadernos de Saúde Pública, v.17, n.2: 333-344.

GODOY, Gustavo & CARID, Miguel. 2016. “A diferença que faz a diferença”. Journal de la société de les américanistes, v.102, n.1: 105-128.

GOW, Peter. 2015. “Methods of tobacco use among two Maipuran-speaking peoples in Southwestern Amazonia”. In RUSSEL, Andrew & RAHMAN, Elizabeth (eds.). The Master Plant: Tobacco in Lowland South America. London: Bloomsbury Academic Publishing, pp. 45-75.

HEURICH, Guilherme. 2011. Outras alegrias: parentesco e festas mbya. Rio de Janeiro, tese de doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro – Museu Nacional.

HEURICH, Guilherme. 2015. “Outras alegrias: cachaça e cauim na embriaguez mbyá-guarani”. Mana, v.21, n.3: 527-552.

KELLY, José Antonio. 2005. “Notas para uma teoria do “virar branco””. Mana, v.11, n.1: 201-234.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 2004[1967]. Do mel às cinzas. São Paulo, Cosac Naify.1985 A oleira ciumenta. São Paulo, Brasiliense.

LITAIFF, Aldo. 1996. As divinas palavras: identidade étnica dos Guarani Mbya. Florianópolis, Ed. da UFSC.

MACEDO, Valéria Mendonça de. 2009. Nexos da diferença: cultura e afecção em uma aldeia guarani na Serra do Mar. São Paulo, tese de Doutorado, Universidade de São Paulo.

MACEDO, Valéria Mendonça de. 2011 “Vetores porã e vai na cosmopolítica guarani”. Tellus, v.11, n.21: 25-52.

MARQUES, Roberta Pôrto. 2009. Cachimbos guarani: uma interpretação etnoarqueológica. Rio Grande do Sul, monografia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

MARQUES, Roberta Pôrto. 2012. “Um estudo de caso sobre o fumo, o uso do cachimbo e as práticas de fumar entre os Mbyá-Guarani (RS)”. Espaço Ameríndio, v.6, n.1: 97-118.

MONTARDO, Deise Lucy Oliveira. 2009. Através do mbaraka: música, dança e xamanismo guarani. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo.

MORI, Bernd Brabec de. 2015. “Singing white smoke: tobacco songs from the Ucayali valley”. In RUSSEL, Andrew & RAHMAN, Elizabeth (eds.), The Master Plant: Tobacco in Lowland South America. London: Bloomsbury Academic Publishing, pp. 89-106.

NEGRO, Alce. 1953. O cachimbo sagrado: os sete ritos secretos dos índios sioux (relatados por Alce Negro). Disponível em: http://www.tatankaishca.com.br/hehaka%20shapa/o%20cachimbo%20sagrado.pdf (acesso em: 13/07/2018).

NIMUENDAJU, Curt Unkel. 1987. Mitos de criação e destruição do mundo como fundamento da religião dos Apapocuva guarani. São Paulo, Editora HUCITEC – Universidade Federal de São Paulo.

OYUELA-CAYCEDO, Augusto & KAWA, Nicholas C. 2015. “Deep history of tobacco in lowland South America”. In: RUSSEL, Andrew & RAHMAN, Elizabeth (eds.), The Master Plant: Tobacco in Lowland South America. London: Bloomsbury Academic Publishing, pp. 27–44.

PEREIRA, Vicente Cretton. 2016. “Nosso pai, nosso dono: relações de maestria entre os Mbya Guarani”. Mana, v.22, n.3: 737-764.

PEREIRA, Vicente Cretton.2016a. “O petyngua: o -ka’ucomo viagem xamânica”. Anais do I Seminário de Etnologia Guarani, v.1, n.1.

PEREIRA, Vicente Cretton. 2014. Aqueles que não vemos: uma etnografia das relações de alteridade entre os Mbya Guarani. Rio de Janeiro, tese de Doutorado, Universidade Federal Fluminense.

PIERRI, Daniel Calazans. 2013. O perecível e o imperecível: lógica do sensível e corporalidade no pensamento guarani mbya. São Paulo, dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo.

PIERRI, Daniel Calazans. 2014. “O dono da figueira e a origem de Jesus: uma crítica xamânica ao cristianismo”. Revista de Antropologia, v.57, n.1: 265-301.

PIMENTEL, Spensy K. 2017. “Contra o que protesta o kaiowa que vai à forca? uma reflexão etnográfica sobre percepções não indígenas frente a intenções e sentimentos indígenas”. In: CAMPO ARÁUZ, Lorena & APARICIO, Miguel (org.). Etnografías del suicídio em América del Sur, Quito, Editorial Universitaria Abya-Yala, pp. 285-311.

PISSOLATO, Elizabeth. 2007. A duração da pessoa: mobilidade, parentesco e xamanismo mbya (guarani). São Paulo: editora UNESP, ISA. Rio de Janeiro: NuTI.

REIG, Alejandro. 2015. “Landscapes of Desire and Tobacco Circulation in the Yanomami Ethos”. In: RUSSEL, Andrew & RAHMAN, Elizabeth (eds.), The Master Plant: Tobacco in Lowland South America. London: Bloomsbury Academic Publishing, pp. 167–181.

SADIK, Tonio. 2006. O nome e o tempo dos Yaminawa: etnologia e história dos Yaminawa do rio Acre. São Paulo: editora UNESP, ISA. Rio de Janeiro: NuTI.

SÁEZ, Oscar Calavia. 2014. Traditional Use of Tobacco among Indigenous Peoples of North America. Disponível em: http://cottfn.com/wp-content/uploads/2015/11/TUT-Literature-Review.pdf, acesso em: 13/12/2018.

UNDERWOOD, Jackson. 2004. “Pipes and tobacco use among southern California yuman speakers”. Journal of California and Great Basin anthropology, v.4, n.1: 1-12.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1986. Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro, Jorge Zahar.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2011[2002]. A inconstância da alma selvagem – e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2008. SZTUTMAN, Renato (org). Eduardo Viveiros de Castro. Coleção Encontros, Rio de janeiro, Beco do Azougue.

WILBERT, Johannes. 1987. Tobacco and shamanism in South America. Chelsea, Michigan: Yale University Press.

FILMES

HUNGRIA, Luis Flávio Terra. 2009. Petyngua: o cachimbo guarani. Disponível em: <<https://vimeo.com/50727647>>.

Downloads

Publicado

2019-09-17

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

O lugar do tabaco: cachimbo e xamanismo Mbya Guarani. (2019). Revista De Antropologia, 62(2), 323-349. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.161082