Caçando os devoradores

Agência, “meninas indígenas” e enquadramento neocolonial

Autores

  • José Miguel Nieto Olivar Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.156129

Palavras-chave:

Gênero, sexualidade, violência, exploração sexual, Amazônia, fronteiras

Resumo

Este artigo é resultado de uma pesquisa antropológica sobre gênero e territórios de fronteira conduzida desde 2010 na Amazônia brasileira. Aqui me aproximo da violência através de uma análise das relações entre “indígenas” e “brancos” no enquadramento da construção de uma cidade amazônica, como expressões de políticas corporais (neo)coloniais. Focando na perspectiva de mulheres indígenas que habitam a cidade, presto atenção a seus envolvimentos conjugais, sexuais e econômicos com o “mundo dos brancos” (incluídos os corpos, a cidade e o Estado). Estes envolvimentos são entendidos em termos de agenciamentos indígenas e generificados: a capacidade dessas jovens de lidar com, resistir, sofrer e se apropriar dos bens, dos presentes e dos corpos do projeto colonial.

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Biografia do Autor

  • José Miguel Nieto Olivar, Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade
    José Miguel Nieto Olivar é comunicador social e antropólogo, professor na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

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Publicado

2019-03-27

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Caçando os devoradores: Agência, “meninas indígenas” e enquadramento neocolonial. (2019). Revista De Antropologia, 62(1), 07-34. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.156129