Zona de tatuagem: um carimbo do estado no corpo do favelado

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.161091

Palavras-chave:

Violência de estado, favelas, execução sumária, zona de tatuagem, corpos

Resumo

Tendo como combustível de criação os acontecimentos da 1ª Guerra Mundial, surge uma ficção literária sobre a construção e a utilização de uma máquina estatal que tatuava no corpo do condenado o texto da sua sentença até que as perfurações o levassem à morte. Escrita por Kafka, a ficção Na colônia penal (1919) mostra uma máquina tatuadora enquanto aparelho judiciário, cuja operação ficava nas mãos de um único agente de Estado. Tal ficção foi lida por Clastres (2003) como um anúncio da mais contemporânea das realidades. Compartilhando do mesmo entendimento, encaminho a discussão tomando como referência o aparelho judiciário da ficção para refletir sobre a produção da zona de tatuagem nos corpos dos moradores de favelas. Aciono para a elaboração do debate as reflexões de Pierre Clastres (2003) sobre a tríplice aliança entre a lei, a escrita e o corpo e de Letícia Ferreira (2009) sobre a trajetória burocrática de corpos.

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Biografia do Autor

  • Juliana Farias, Universidade do Estado do Rio de Janeiro
    Juliana Farias é pesquisadora de pós-doutorado no Núcleo de Estudos de Gênero Pagu/Unicamp, com bolsa da FAPESP (processo 2017/17910-0), desenvolvendo o projeto “Violências de gênero, violações de Estado: Um estudo sobre formas de governar territórios e corpos”. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

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Publicado

2019-08-15

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Zona de tatuagem: um carimbo do estado no corpo do favelado. (2019). Revista De Antropologia, 62(2), 275-297. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.161091