Libertos africanos, comércio atlântico e candomblé: a história de uma carta que não chegou ao destino

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2019.142507

Palavras-chave:

Libertos africanos, comércio atlântico, candomblé, escravidão, Bahia

Resumo

Este artigo apresenta uma análise pormenorizada de uma carta enviada da Bahia ao porto negreiro de Ajudá em 1839 pela africana Roza Maria da Conceição à também africana Francisca da Silva, a legendária Iyá Nassô, fundadora do candomblé da Casa Branca em Salvador. A trajetória dessas duas libertas e de seus maridos, no contexto da passagem da Colônia para o Império, permite identificar processos de cooperação intergeracional entre os libertos africanos e de ascensão econômica associada ao comércio atlântico e ao tráfico ilegal. Postula-se que a propriedade escrava era uma forma de investimento político na organização da “casa” ou da coletividade doméstica, por sua vez a base do “terreiro”, formas de associativismo através das quais esses casais adquiriam poder e reforçavam sua liderança na comunidade negra. Em última instância, a conexão entre Roza e Francisca permite vislumbrar como o sucesso comercial, o controle social e a autoridade religiosa se emaranhavam de forma indissociável.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Luis Nicolau Parés, Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Departamento de Antropologia

    Professor Associado do Departamento de Antropologia. FFCH-UFBA. PhD pela University of London (SOAS, 1997)

Referências

ACCIOLI, Inácio. Memórias históricas e políticas da província da Bahia, vol. 5. Salvador: Imprensa Oficial, 1940.

ANDRADE, Maria José de Souza. A mão de obra escrava em Salvador, 1811-1860. Salvador: Corrupio, 1988 [1975].

BARBER, Karin. Como o homem cria Deus na África Ocidental: atitudes dos yorubá para com o òrìsà. In: MOURA, C. E. M. de (org.). Meu sinal está no teu corpo. São Paulo: Edicon-Edusp, 1989.

BASTIDE, Roger & VERGER, Pierre. Diálogo entre filhos de Xangô. Correspondência 1947-1974. São Paulo: Edusp, 2017.

BETHELL, Leslie. A abolição do comércio brasileiro de escravos. Brasília: Senado Federal/Conselho Editorial, 2002.

BOWEN, T. J. Grammar and dictionary of the Yoruba language. The Smithsonian Institution, 1858.

CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia. Salvador: Ediouro, 1985 [1948].

CASTILLO, Lisa Earl. Entre memória, mito e história: viajantes transatlânticos da Casa Branca. In: REIS, João José & AZEVEDO, Alciene (org..). Escravidão e suas sombras. Salvador: Edufba, 2012. p. 65-110.

CASTILLO, Lisa Earl. O terreiro do Gantois: redes sociais e etnografia histórica no século XIX. Revista de História, n. 176, São Paulo, 2017, p. 1-57. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.118842.

CASTILLO, Lisa Earl & PARÉS, Luis Nicolau. Marcelina da Silva e seu mundo: novos dados para historiografia do candomblé ketu. Afro-Ásia, n. 36, 2007, p. 111-51. DOI: http://dx.doi.org/10.9771/1981-1411aa.v0i36.21143.

CASTILLO, Lisa Earl & PARÉS, Luis Nicolau. Marcelina da Silva: a Candomblé priestess in Bahia. Slavery & Abolition, vol. 31, n. 1, 2010, p. 1-27. DOI: https://doi.org/10.1080/01440390903481639.

CASTRO e ALMEIDA, Eduardo de. Inventário dos documentos relativos ao Brasil. Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. 32, 1910.

CROWTHER, Samuel. A vocabulary of the Yoruba language. Londres: Seebyz, 1852.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Negros estrangeiros: os escravos libertos e sua volta à África. São Paulo: Companhia das Letras, 2012 [1985].

DORIA, Francisco Antônio. The Acciaioli family in Brazil. Disponível em: http://www.sardimpex.com/articoli/The%20Acciaioli%20family%20in%20Brazil.ht.

INGOLD, Tim. Antropologia não é etnografia. In: Idem. Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petropolis: Vozes, 2015.

KRAAY, Hendrik. Race, State, and Armed Forces in Independence-Era Brazil: Bahia, 1790s-1840s. Stanford: Stanford University Press, 2001.

LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. São Paulo: Editora Nacional/Edusp, 1970.

LIMA, Vivaldo da Costa. A família de santo nos candomblés jeje-nagôs da Bahia. Salvador: Corrupio, 2003 [1972].

LUZ, Marco Aurélio. Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira. Salvador: Edufba, 2017 [1995].

MATTOSO, Katia M. de Queirós. Bahia, uma província no Império. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992.

MATTOSO, Katia M. de Queirós. Testamentos de escravos libertos na Bahia no século XIX: uma fonte para o estudo das mentalidades. In: Idem. Da revolução dos alfaiates à riqueza dos baianos do século XIX. Salvador: Corrupio, 2004 [1979], p. 225-60.

NERÍN, Gustau. Traficants d’ànimes. Els negrers espanhols a l’África. Barcelona: Portic, 2015.

OLIVEIRA, Maria Inês Cortes de. O liberto: o seu mundo e os outros (Salvador, 1790–1890). Salvador: Corrupio, 1988.

PARÉS, Luis Nicolau. A formação do candomblé. História e ritual da nação jeje na Bahia. Campinas: Editora da Unicamp, 2006.

PARÉS, Luis Nicolau. Cartas do Daomé. Afro-Ásia, n. 47, 2013, p. 295-395. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0002-05912013000100009.

PARÉS, Luis Nicolau. Milicianos, barbeiros e traficantes numa irmandade católica de africanos minas e jejes (Bahia, 1770–1830). Tempo, n. 20, 2014, p. 1-23. DOI: 10.5533/TEM-1980-542X-2014203607.

PARÉS, Luis Nicolau. Entre Bahia e a Costa da Mina, libertos africanos no tráfico ilegal. In: FIGUEIROA-REGO, João; RAGGI, Giuseppina; STUMPF, Roberta (org.). Salvador da Bahia entre América e Àfrica. Salvador/Lisboa: Edufba/Cham, 2017, p. 13-50.

PARÉS, Luis Nicolau & CASTILLO, Lisa Earl. José Pedro Autran e o retorno de Xangô. Religião e Sociedade, vol. 35, n. 1, 2015, p. 13-43. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0100-85872015v35n1cap01.

PIERSON, Donald. Brancos e pretos na Bahia: estudo de contato racial. São Paulo: Ed. Nacional, 1971 [1942].

REIS, João José. Domingos Sodré: um sacerdote africano: escravidão, liberdade e candomblé na Bahia do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

REIS, João José. Cor, classe, ocupação etc.: o perfil social (às vezes pessoal) dos rebeldes baianos, 1823-1833. In: REIS, João José & ACEVEDO, Elciene (org.). Escravidão e suas sombras. Salvador: Edufba, 2012, p. 279-320.

REIS, João José. De escravo a rico liberto: a trajetória do africano Manoel Joaquim Ricardo na Bahia oitocentista. Revista de História, n. 174, São Paulo, 2016, p. 15-68. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2016.108145.

SACHNINE, Michka. Dictionnaire usuel yorùbá-français. Paris/Ibadan: Karthala/Ifra, 1997.

SANTOS, Flavio Gonçalves dos. Economia e cultura do candomblé na Bahia: O comércio dos objetos litúrgicos afro-brasileiros, 1850–1937. Ilhéus: Editora Uesc, 2013.

SANTOS, Joana Elbeim dos. Mãe Senhora, lembranças e reflexões. In: SANTOS, José Felix dos & NÓBREGA, Cida (org.). Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora: saudade e memória. Salvador: Corrupio, 2000.

SILVEIRA, Renato da. O candomblé da Barroquinha: processo de constituição do primeiro terreiro baiano de keto. Salvador: Maianga, 2006.

VERGER, Pierre. Orixás. Salvador: Corrupio, 1981.

VERGER, Pierre. A contribuição especial das mulheres ao candomblé do Brasil. In: Idem. Artigos. Salvador: Corrupio, 1992 [1985].

VERGER, Pierre. Os libertos: sete caminhos na liberdade de escravos. Salvador: Corrupio, 1992.

Downloads

Publicado

2019-03-19

Edição

Seção

escravizados, escravização

Como Citar

Libertos africanos, comércio atlântico e candomblé: a história de uma carta que não chegou ao destino. Revista de História, [S. l.], n. 178, p. 1–34, 2019. DOI: 10.11606/issn.2316-9141.rh.2019.142507. Disponível em: https://revistas.usp.br/revhistoria/article/view/142507.. Acesso em: 19 mar. 2024.