Mulheres sem História

Autores

  • Maria Odila Leite da Silva Dias Departamento de História - FFLCH/USP

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.v0i114p31-45

Palavras-chave:

Pobreza, Mulheres pobres, São Paulo

Resumo

(primeiro parágrafo do artigo)

A urbanização incipiente da cidade de São Paulo, a partir do último quartel do século XVIII até as vésperas da Abolição, envolvia uma po-pulação majoritariamente feminina e, no entanto, poucas mulheres aparecem nas histórias da cidade. Face à consolidação da economia de exportação, a urbanização era processo secundário e marginal, sintoma de pobreza e de inchação, mais do que de crescimento ou prosperidade econômica. Não admira muito o preconceituoso das fontes relativas ao espaço urbano, onde proliferava a pobreza é certa autonomia dos desqualificados sociais bastante incômoda para as autoridades. Era justamente este o espaço social das mulheres pobres, livres, forras e escravas e o palco de improvisação de sua sobrevivência precária. Circulavam pelas fontes públicas, tanques, lavadouros, pontes, ruas e praças da cidade, onde era jogado o lixo das casas e o mato crescia a ponto de ocultar escravos fugidos: o seu espaço social era justamente o ponto de interseção onde se alternavam e se sobrepunham a área de convívio das vizinhanças e dos forasteiros; a do fisco municipal e do pequeno comércio clandestino; as fímbrias da escravidão e do trabalho livre, o espaço do trabalho doméstico e de sua extensão ou comercialização pelas ruas... Sob o pano de fundo destas formas sociais transitórias é que se articulam papéis femininos propriamente históricos, de improvisação, mudança e vir a ser, dificilmente adaptáveis aos padrões hegemônicos de comportamento das mulheres das classes dominantes, e que pouco têm a ver com a identidade abstrata do conceito de "condição feminina", como se pudesse existir, universal e fixa... Estudar papéis sociais femininos dentro de uma conjuntura sócio-econômica bem definida é um primeiro passo no sentido de devolver historicidade a valores culturais eivados de conotações ideológicas, que se têm por imutáveis e fixos.

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Publicado

1983-06-07

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Mulheres sem História. Revista de História, São Paulo, n. 114, p. 31–45, 1983. DOI: 10.11606/issn.2316-9141.v0i114p31-45. Disponível em: https://revistas.usp.br/revhistoria/article/view/62058.. Acesso em: 19 abr. 2024.