A percepção do suicídio como inseparável das outras formas de violência segundo os/as jovens indígenas

um estudo de caso da Reserva Indígena de Dourados*

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v99i3p305-318

Palavras-chave:

Criança, Adolescente, Jovens indígenas Guarani, Povos indígenas/psicologia, Constrangimento, Violência étnica/etnologia, Violência étnica/psicologia, Suicídio/etnologia, Saúde mental em grupos étnicos, Saúde de populações indígenas, Suicídio indígena

Resumo

Esse trabalho foca estudar e analisar as consequências da tentativa de implementar, via Sistema Único de Saúde - SUS, o protocolo de saúde mental DC-10 na população indígena. Nesse caso, esse estudo, baseado numa pesquisa qualitativa com metodologia de pesquisa ação/participação/intercultural, foi e está sendo realizado na Reserva Indígena de Dourados - RID, e conta com a participação dos jovens e das lideranças jovens da Ação dos Jovens Indígenas – AJI, a qual atua como uma escola não formal dentro da RID. A necessidade de apresentar a percepção dos/as jovens indígenas sobre o sofrimento que carregam não se resume numa interpretação biomédica, mas sim, efeito dos traumas que sofreram e sofrem que se pode nomear de colonial, post traumatic cultural illness. Seja qual for o nome, são jovens que carregam um sofrimento silenciado e que não pode ser reduzido à visão hegemônica biomédica, o que leva à necessidade de avaliar em que medida essa visão lhes acrescenta experiências traumáticas. Essa discussão se pauta numa visão interdisciplinar e polifônica baseada na fenomenologia e, por isso, constitui-se num pensar/fazer.

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Biografia do Autor

  • Maria de Lourdes Beldi de Alcantara, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo

    * Esse estudo não trará por ética os nomes dos participantes desse estudo. Foi resultado da consulta livre, prévia e informada.

    Professora de Antropologia Médica, FMUSP. Coordenadora do Grupo de Apoio aos Jovens Indígenas Guarani (GAPK). Consultora da IWGIA. 

  • Walter Moure, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo

    Psicólogo Clínico, Instituto de Psicologia da USP. Coordenador da Ação dos Jovens Indígenas (AJI). 

  • Zelik Trajber, SESAI

    Médico Pediatra. Trabalha desde 1999 no Mato Grosso do Sul com a população indígena, prestando serviço à SESAI. 

  • Indiana Ramires Machado, SESAI

    Enfermeira indígena kaiowá atua na SESAI e pós-graduanda da FMUSP.

  • Equipe de Jovens da Ação dos Jovens Indígenas de Dourados-MS

    Ação dos Jovens Indígenas da Reserva Indígena de Dourados (RID). Atua como uma escola não formal na aldeia do Bororó. www.jovensindigenas.org.br.

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Publicado

2020-06-16

Edição

Seção

Relato de Caso/Case Report

Como Citar

Alcantara, M. de L. B. de, Moure, W., Trajber, Z., Machado, I. R., & Ação dos Jovens Indígenas de Dourados-MS, E. de J. da. (2020). A percepção do suicídio como inseparável das outras formas de violência segundo os/as jovens indígenas: um estudo de caso da Reserva Indígena de Dourados*. Revista De Medicina, 99(3), 305-318. https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v99i3p305-318