Lítio crônico potencializa a sobrevivência de novas células induzida por enriquecimento ambiental no hipocampo de camundongos adultos
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v92i1p78-80Palavras-chave:
Lítio, Hipocampo, Carbonato de lítio, Neurônios, Doença de Alzheimer, Camundongos.Resumo
Com a descoberta nas últimas décadas de que neurogênese (nascimento de novos neurônios) persiste no cérebro adulto, surgiu a hipótese de que doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer poderiam ser superadas, ou pelo menos melhoradas, uma vez que a geração de novos neurônios poderia ajudar a compensar a perda de neurônios nessas doenças. De fato, a neuroproliferação está aumentada no cérebro de sujeitos com doença de Alzheimer, mas os novos neurônios falham em sobreviver e se diferenciar em células maduras. O objetivo deste trabalho foi examinar o efeito isolado bem como o efeito combinado de carbonato de lítio (2,0 g/kg de ração) e enriquecimento ambiental (com estimulação cognitiva e física) sobre a sobrevivência de novas células geradas no hipocampo de camundongos adultos. Camundongos C57Bl/6 de 3 meses de idade no início do estudo foram submetidos por 4 semanas à uma das seguintes condições de tratamento: (a) Ambiente Convencional sem Lítio (n = 7); (b) Ambiente Convencional mais Lítio (n = 7); (c) Ambiente Enriquecido sem Lítio (n = 7); e (d) Ambiente Enriquecido mais Lítio (n = 6). Imediatamente antes do início dos tratamentos, os animais receberam injeção intraperitoneal de BrdU, um marcador de proliferação celular. Vinte e seis dias após o início dos tratamentos, foi coletado sangue da cauda dos animais para medidas de litemia. Vinte e oito dias após a injeção de BrdU, os animais foram sacrificados através de perfusão intracardíaca seguida por fixação com paraformaldeído 4%, para verificação da sobrevivência de células proliferativas. Os cérebros fixados foram cortados em criostato em cortes seriais adjacentes de 60um, e os cortes foram processados para marcação imuno-imunohistoquímica para BrdU. O número de células BrdU-positivas (BrdU+) foi contado no giro denteado do hipocampo com o uso de um microscópio de luz e objetiva de imersão (aumento 100x). O tratamento com carbonato de lítio por 4 semanas resultou em litemia média de 0,65 mmol/L, portanto, dentro da faixa terapêutica que é entre 0,5 e 1,0 mmol/L. O número de células BrdU+ aumentou significativamente no hipocampo de animais expostos ao Ambiente Enriquecido sem Lítio (142±23 células; p < 0,01) e ao Ambiente Enriquecido mais Lítio (174±28 células; p < 0,001) em comparação ao Ambiente Convencional sem Lítio (105±21 células). A exposição ao Ambiente Convencional mais Lítio (95±16 células) não alterou o número de células BrdU+ em comparação ao Ambiente Convencional sem Lítio (p > 0,1). No entanto, a exposição ao Ambiente Enriquecido mais Lítio resultou em um número significativamente maior de células BrdU+ em comparação ao Ambiente Enriquecido sem Lítio (p < 0,05). Os resultados sugerem que o tratamento crônico com lítio acentua a sobrevivência de novas células induzida por enriquecimento ambiental no hipocampo de camundongos adultos, provavelmente proporcionando um ambiente favorável para os estímulos ambientais exercerem um efeito protetor mais forte. O tratamento combinado com lítio e enriquecimento ambiental (com estimulação cognitiva e física) poderia constituir uma estratégia para promover a sobrevivência de novos neurônios e assim melhorar a função cognitiva na doença de Alzheimer, especialmente em estágio inicial.