Estaria Morto José Maurício?
DOI:
https://doi.org/10.11606/rm.v4i1.55056Resumo
Após tantos anos, a despeito dos apelos de Mário de Andrade e de tantos outros, José Maurício continua a ser um "ilustre desconhecido". Ensaios biográficos proliferam, mas nós não sabemos quase nada a respeito de suas composições: não as conhecemos, não as contextualizamos, elas não atuam no presente de modo que possamos não apenas fruí-las, mas também re-significar nosso passado. Alguns mais afoitos arriscam-se, apressadamente, na empreitada de desvalorizar a qualidade das obras de José Maurício, comparando-o a Haydn e Mozart e mostrando a sua "insuficiência teórica" e a sua inferioridade técnica. A ótica puramente evolucionista e historicista anacroniza a obra de arte, principalmente quando ela está associada a uma "ideologia de submissão" que vê o artista da colônia como alguém que tenta, a qualquer custo, imitar a linguagem européia ocidental sem alcançar, no entanto, um padrão mínimo de qualidade e interesse, a não ser aquele puramente factual e datado. A audição da obra de José Maurício Nunes Garcia nos revela a presença não apenas de um "artesão", mas de um verdadeiro "inventor": por sob o texto propriamente dito, em que se mostra a sua grande habilidade técnica, navega uma estratégia composicional que o iguala a qualquer compositor, de qualquer época, digno deste nome. É necessário, portanto, reatualizar a obra de José Maurício, incorporando-o às nossas experiências musicais: estudos musicológicos e históricos associados a um trabalho permanente de edição, execução e interpretação, calcados em elementos de análise estética e composicional.
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Copyright (c) 1993 Eduardo Seincman
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