Democracia: a polissemia de um conceito político fundamental

Autores

  • Orlando Villas Bôas Filho Universidade de São Paulo. Faculdade de Direito

Palavras-chave:

Democracia, História dos conceitos, Norberto Bobbio, Jacques Rancière, Reinhart Koselleck.

Resumo

O presente artigo pretende sublinhar a necessidade de se atentar para a historicidade do conceito de democracia. Para tanto, após indicar o fato de que tal conceito recobre significados díspares e, por vezes, contraditórios, contrasta-se as perspectivas de Norberto Bobbio e de Jacques Rancière para ilustrar essa equivocidade. Diante disso, é feita uma breve incursão pela história conceitual de Reinhart Koselleck para indicar que a equivocidade do conceito de democracia decorre da sedimentação que nele há de múltiplas experiências históricas. Finalmente, após essa incursão pela história conceitual são mobilizadas algumas análises atuais acerca do conceito de democracia para ressaltar sua indeterminação e complexidade.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Orlando Villas Bôas Filho, Universidade de São Paulo. Faculdade de Direito

    Professor Doutor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Referências

AGAMBEN, Giorgio. Note liminaire sur le concept de démocratie. In: AGAMBEN, Giorgio et al. Démocratie, dans quel état? Paris: La Fabrique, 2009. p. 9-13.

ANDERSEN, Niels. A. Discursive analytical strategies: understanding Foucault, Koselleck, Laclau, Luhmann. Bristol. UK: Policy Press, 2003.

ARNAUD, André-Jean. Gouvernants sans frontières. Entre mondialisation et post-mondialisation, v. 2 de la Critique de la raison juridique. Paris: LGDJ, 2003.

ARON, Raymond. Démocratie et totalitarisme. Paris: Gallimard, 1965.

AUDARD, Catherine. Le príncipe de légitimité démocratique et le débat Rawls-Habermas. In: ROCHLITZ, Rainer. (Coord.). Habermas, l’usage publique de la raison. Paris: PUF, 2002. p. 95-132.

BADIOU, Alain. L’emblème démocratique. In: AGAMBEN, Giorgio et al. Démocratie, dans quel état? Paris: La Fabrique, 2009. p. 15-25.

BENHABIB, Seyla. Toward a deliberative model of democratic legitimacy. In: ______. Democracy and difference: contesting the boundaries of the political. New Jersey: Princeton University Press, 1996. p. 67-94.

BENSAÏD, Daniel. Le scandale permanent. In: AGAMBEN, Giorgio et al. Démocratie, dans quel état? Paris: La Fabrique, 2009. p. 27-58.

BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. Tradução de Sérgio Bath. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2001.

______. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. 6. ed. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

______. Liberalismo e democracia. 3. ed. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Brasiliense, 1990.

______. Teoria geral da política: a filosofia e as lições dos clássicos. 16. reimp. Tradução de Daniela Beccaccia Versiani. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000.

BROWN, Wendy. Nous sommes tous démocrates à present. In: AGAMBEN, Giorgio et al. Démocratie, dans quel état? Paris: La Fabrique, 2009. p. 59-75.

CAMPILONGO, Celso Fernandes. Direito e democracia. São Paulo: Max Limonad, 2000.

CAPELLER, Wanda de Lemos. L’engrenage de la répression. Stratégies sécuritaires et politiques criminelles. Paris: LGDJ, 1995.

CHEVALLIER, Jacques. L’État de droit. Paris: Montchrestien, 1992.

______. L’État post-moderne. 3e éd. Paris: L.G.D.J., 2008.

______. L’État. 2e éd. Paris: Dalloz, 2011.

CHIGNOLA, Sandro. História dos conceitos e história da filosofia política. In: JASMIN, Marcelo Gantus; FERES JÚNIOR, João (Org.). História dos conceitos: diálogos transatlânticos. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio: Edições Loyola: IUPERJ, 2007. p. 45-57.

CLAM, Jean. Pièges du sens, dynamiques des structures. Le projet d’une sémantique historique chez Niklas Luhmann. Archives de philosophie du droit, 43, 1999, p. 361-378.

COGGIOLA, Osvaldo (Org.) A Revolução Francesa e seu impacto na América Latina. São Paulo: Nova Stella: EDUSP; Brasília, DF: CNPq, 1990.

COHEN, Joshua. Philosophy, politics, democracy: selected essays. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2009.

COHEN, Jean L.; ARATO, Andrew. Civil society and political theory. Massachusetts: Massachusetts Institute of Technology Press, 1994.

COLLIOT-THÉLÈNE, Catherine. La démocratie sans “demos”. Paris: PUF, 2011.

DAHL, Robert. A. Democracy and its critics. New Haven: Yale University Press, 1998.

______. Sobre a democracia. Tradução de Beatriz Sidou. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2001.

DELMAS-MARTY, Mireille. Libertés et sûreté dans un monde dangereux. Paris: Seuil, 2010.

DOSSE, François. Reinhart Koselleck entre sémantique historique et herméneutique critique. In: DELACROIX, Christian; DOSSE, François; GARCIA, Patrick (Dirs.). Historicités. Paris: Éditions La Découverte, 2009. p. 115-129.

FERES JÚNIOR, João. (Org.). Léxico da história dos conceitos políticos no Brasil. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2009.

FILIPPI, Alberto; LAFER, Celso. A presença de Bobbio: América Espanhola, Brasil, Península Ibérica. São Paulo: Editora UNESP, 2004.

FINLEY, Moses. Democracia antiga e moderna. Tradução de Waldéa Barcellos e Sandra Bedran. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

FONSECA, Márcio Alves da. Michel Foucault e a constituição do sujeito. 3. ed. São Paulo: Educ, 2011.

GONÇALVES, Guilherme Leite; VILLAS BÔAS FILHO, Orlando. Teoria dos sistemas sociais: direito e sociedade na obra de Niklas Luhmann. São Paulo: Saraiva, 2013.

HABERMAS, Jürgen. A constelação pós-nacional: ensaios políticos. Tradução de Márcio Seligmann-Silva. São Paulo: Littera Mundi, 2001.

______. Drei normative modelle der Demokratie. In: ______. Die Einbeziehung des Anderen. Studien zur politischen Theorie. 2. Auf. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1997. p. 277-305 [trad. port. A inclusão do outro: estudos de teoria política. Trad. George Sperber et. al. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 277-292].

______. Faktizität und Geltung: Beiträge zur Diskurstheorie des Rechts und des demokratischen Rechtsstaats. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1992. [trad. port.: Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. 2. v.].

______. O discurso filosófico da modernidade. Trad. Luiz Sérgio Repa e Rodnei Nascimento. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

HARTOG, François. De l’histoire universelle à l’histoire globale? Expériences du temps. In: Le Débat: histoire, politique, société, n. 154, p. 53-66, Mars-avril 2009.

______. Régimes d’historicité. Présentisme et expériences du temps. Paris: Éditions du Seuil, 2012.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

HOOCK, Jochen. La contribution de Reinhart Koselleck à la théorie de l’histoire. In: DELACROIX, Christian; DOSSE, François; GARCIA, Patrick (Dirs.). Historicités. Paris: Éditions La Découverte, 2009. p. 105-113.

JASMIN, Marcelo Gantus. História dos conceitos e teoria política e social: referências preliminares. In: Revista brasileira de ciências sociais. v. 20, n. 57, fev., p. 27-38, 2005.

______; FERES JÚNIOR, João. História dos conceitos: dois momentos de um encontro intelectual. In: JASMIN, Marcelo Gantus; FERES JÚNIOR, João. (Org.). História dos conceitos: debates e perspectivas. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio: Edições Loyola: IUPERJ, 2006, p. 9-38.

KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do Estado. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

KOSELLECK, Reinhart. Vergangene Zukunft. Zur Semantik geschichtlicher Zeiten. Frankfurt AM Main: Suhrkamp, 1989. [trad. port. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Trad. Wilma Patrícia Maas e Carlos Almeida Pereira. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006].

______. Estructuras de repetición en el lenguaje y en la historia. Revista de Estudios Políticos (nueva época), Madrid, v. 134, p. 17-34, dez. 2006.

______. Uma história dos conceitos: problemas teóricos e práticos. Estudos históricos, Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, p. 134-146 1992.

______. Uma resposta aos comentários sobre o Geschichtliche Grundbegriffe. In: JASMIN, Marcelo Gantus; FERES JÚNIOR, João. (Org.). História dos conceitos: debates e perspectivas. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio: Edições Loyola: IUPERJ, 2006. p. 97-109.

______. Conceptual history, memory and identity: an interview with Reinhart Koselleck. Contributions, IUPERJ: HPSCG, v. 2, n. 1, p. 99-127, 2006.

LAFER, Celso. Ensaios sobre a liberdade. São Paulo: Perspectiva, 1980.

______. Hannah Arendt: pensamento, persuasão e poder. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

LE GOFF, Jacques. Histoire et mémoire. Paris: Éditions Gallimard, 1988.

LUHMANN, Niklas. Introduction to systems theory. Tradução de Peter Gilgen. Cambridge, UK: Polity Press, 2013.

______. La sociedad de la sociedad. Tradução de Javier Torres Nafarrate. México: Herder/Universidad Iberoamericana, 2006.

______. Political theory in the welfare state. Tradução de John Bednarz Jr. Berlin. New York: Walter de Gruyter, 1990.

______. The world society as a social system. In: LUHMANN, Niklas. Essays on self-reference. New York: Columbia University Press, 1990. p. 175-191.

LÜSEBRINK, Hans-Jürgen. Histoire conceptuelle (Begriffsgeschichte). In: DELACROIX, Christian; DOSSE, François; GARCIA, Patrick; OFFENSTADT, Nicolas (Dirs.). Historiographies: concepts et débats, I. Paris: Gallimard, 2010. p. 177-183.

MARTIN, Luther H.; GUTMAN, Huck; HUTTON, Patrick H. (Ed.). Technologies of the self: a seminar with Michel Foucault. Amherst, MA: Massachusetts University Press, 1988.

NANCY, Jean-Luc. Démocratie finie et infinie. In: AGAMBEN, Giorgio et al. Démocratie, dans quel état? Paris: La Fabrique, 2009. p. 77-94.

NEVES, Marcelo. Entre Têmis e Leviatã: uma relação difícil: o Estado democrático de direito a partir e para além de Luhmann e Habermas. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

PROST, Antoine. Douze leçons sur l’histoire. Paris: Éditions du Seuil, 1996.

RANCIÈRE, Jacques. Aux bords du politique. Paris: Gallimard, 1998.

______. La haine de la démocratie. Paris: La Fabrique, 2005.

______. La mésentente: politique et philosophie. Paris: Éditions Galilée, 1995.

______. Les démocrates contre la démocratie. In: AGAMBEN, Giorgio et al. Démocratie, dans quel état? Paris: La Fabrique, 2009. p. 95-100.

RAULET, Gérard. Du grand récit au petit récit? Histoires singulières et rationalité plurielle. In: DESCAMPS, Christian. (Org.). Philosophie et histoire. Paris: Éditions du Centre Georges Pompidou, 1987. p. 137-153.

RICHTER, Melvin. Avaliando um clássico contemporâneo: o Geschichtliche Grundbegriffe e a atividade acadêmica futura. In: JASMIN, Marcelo Gantus; FERES JÚNIOR, João (Org.). História dos conceitos: debates e perspectivas. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio: Edições Loyola: IUPERJ, 2006. p. 39-53.

RICOEUR, Paul. Temps et récit. 3. Le temps raconté. Paris: Éditions du Seuil, 1985.

ROSANVALLON, Pierre. La contre-démocratie: la politique à l’âge de la défiance. Paris: Éditions du Seuil, 2006.

______. La légitimité démocratique: impartialité, réflexivité, proximité. Paris: Éditions du Seuil, 2008.

______. La société des égaux. Paris: Éditions du Seuil, 2011.

______. Por uma história conceitual do político (lição inaugural proferida na quinta-feira, 28 de março de 2002, no Colégio de França, na cátedra de história moderna e contemporânea do político). In: ROSANVALLON, Pierre. Por uma história do político. Tradução de Christian Edward Cyril Lynch. São Paulo: Alameda, 2010. p. 65-101.

______. Por uma história filosófica do político. In: ROSANVALLON, Pierre. Por uma história do político. Tradução de Christian Edward Cyril Lynch. São Paulo: Alameda, 2010. p. 37-63.

ROSS, Kristin. Démocratie à vendre. In: AGAMBEN, Giorgio et al. Démocratie, dans quel état? Paris: La Fabrique, 2009. p. 101-121.

RUBY, Christian. L’interruption. Jacques Rancière et la politique. Paris: La Fabrique, 2009.

STÄHELI, Urs. Exorcising the “popular” seriously: Luhmann’s concept of semantics. International Review of sociology. v. 7, n. 1, p 127-14, 1997.

SUPIOT, Alain. Homo juridicus. Essai sur la fonction anthropologique du Droit. Paris: Seuil, 2005.

TERRA, Ricardo Ribeiro. A política tensa: ideia e realidade na filosofia da história de Kant. São Paulo: Iluminuras, 1995.

______. Kant & o direito. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

TILLY, Charles. Democracy. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.

VILLAS BÔAS FILHO, Orlando. A esfera pública levada a sério. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais. v. 23, n. 68, São Paulo, Out. 2008, p. 177-179. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v23n68/v23n68a16.pdf> Acesso em: 31 maio 2013.

______. A historicidade da dogmática jurídica: uma abordagem a partir da Begriffsgeschichte de Reinhart Koselleck. In: RODRIGUEZ, José Rodrigo; Silva e Costa, Carlos Eduardo Batalha da; BARBOSA, Samuel Rodriguez (Orgs.). Nas fronteiras do formalismo: a função da dogmática jurídica hoje. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 27-61.

______. Democracia: estado idílico da política? Revista Brasileira de Ciências Sociais. v. 25, n. 74, São Paulo, p. 183-186, out. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v25n74/a13v2574.pdf>. Acesso em: 31 maio 2013

______. Différentiation fonctionnelle. In: ARNAUD, André-Jean (Dir.). Dictionnaire de la globalisation. Droit, science politique, sciences sociales. Paris: Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence, 2010. p. 144-148.

______. Direito e liberdade: algumas considerações acerca de uma abordagem atenta à historicidade dos conceitos. In: BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ADEODATO, João Maurício (Orgs.). Filosofia e teoria geral do direito: homenagem a Tercio Sampaio Ferraz Junior. São Paulo: Quartier Latin, 2011.

______. Legalidade e legitimidade no pensamento de Jürgen Habermas. In: NOBRE, Marcos; TERRA, Ricardo (Orgs.). Direito e democracia: um guia de leitura de Habermas. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 147-172.

______. Teoria dos sistemas e o direito brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2009.

WOLFF, Francis. Aristóteles e a política. São Paulo: Discurso Editoral, 1999.

YOUNG, Iris Marion. Communication and the other: beyond deliberative democracy. In: BENHABIB, Seyla. Democracy and difference: contesting the boundaries of the political. New Jersey: Princeton University Press, 1996. p. 120-135.

ŽIŽEK, S. De la démocratie à la violence divine. In: AGAMBEN, Giorgio et. al. Démocratie, dans quel état?. Paris: La Fabrique, 2009. p. 123-149.

Downloads

Publicado

2013-11-22

Edição

Seção

Filosofia do Direito

Como Citar

Democracia: a polissemia de um conceito político fundamental. (2013). Revista Da Faculdade De Direito, Universidade De São Paulo, 108, 651-696. https://revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67999