A influência do comportamento do magistrado brasileiro no problema da incerteza jurisdicional: um teste empírico

Autores

  • Brisa Lopes de Mello Ferrão

Palavras-chave:

Sistema judicial, Crescimento, Imparcialidade, Incerteza jurisdicional, Análise de jurisprudência.

Resumo

Este artigo discute o conceito de incerteza jurisdicional, entendida como a incerteza associada ao estabelecimento de relações contratuais sob a Jurisdição brasileira e que se manifesta principalmente como um viés contra o poupador e contra o credor. De acordo com Arida et al (2005), os juízes brasileiros tendem a favorecer a parte mais fraca em uma ação judicial, e não a parte detentora de direitos, como uma forma de justiça social e redistribuição de renda em favor dos menos favorecidos. O artigo mostra que não existe fundamento nesse suposto favorecimento dos mais pobres. Uma função de utilidade é discutida, levando em conta as vantagens que um juiz poderia obter, decidindo desta forma sopesadas contra as penalidades possíveis, como a crítica profissional dos pares e de advogados ou mesmo a possibilidade de reversão da decisão em grau de recurso. Como resultado, o modelo prevê que o juiz evitará afrontar o bom entendimento da lei, e que essa forma de decidir em geral favorecerá a parte economicamente ou politicamente mais forte. Um teste empírico foi realizado, analisando 181 decisões judiciais, com resultados confirmando as proposições do artigo. Demonstra-se que um contrato terá 45% mais de chance de ser mantido se for favorável a parte mais rica, e que o Judiciário apenas afasta o contrato nas áreas para as quais o Legislativo decidiu proteger a parte mais fraca, como nos contratos de trabalho, previdência social ou em questões de Direito Ambiental. Nas áreas de contratos financeiros, comerciais e de inquilinato os juízes mantêm uma postura neutra.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

ALBAUM, G. S.; MUNSINGER, G. Methodological questions concerning the use of semantic differential. Paper apresentado no encontro do Southwestern Marketing Association, 1973.

ALCHIAN, Armen A.; DEMSETZ, Harold. Production, Information Costs and Economic Organization. The American Economic Review, 1972.

ALSTON, L. J.; GARY, D.; MUELLER, B. Property rights to land and land reform: legal inconsistences and the sources of violent conflict in the brazilian amazon. Washington: ISNIE 1999.

ARIDA, Pérsio; BACHA, Edmar; RESENDE, André Lara. Credit, interest, and jurisdictional uncertainty: Conjectures on the case of Brazil. Rio de Janeiro: IEPE/CdG, Texto para Discussão n. 2, 2003, Publicado em GIAVAZZI. F.; GOLDFAJN, I.; HERRERA, S. (Orgs.). Inflation targeting, debt, and the Brazilian experience, 1999 to 2003. Cambridge, MA: MIT Press, may 2005.

ARIDA, Pérsio. A Pesquisa em Economia e em Direito, a ser publicado na Revista de Direito da FGV-SP, n. 1, 05/2005.

ARROW, Kenneth J. Social choice and individual value. Journal of Political Economy. New York: 1951.

ARRUÑADA, B.; GARICANO, L.; VÁSQUEZ, L. Contractual allocation of decision rights and incentives: the case of automobile distribution. Seminários Acadêmicos FIPE. São Paulo, 2001.

BARZEL, Y. The old firm and the new organization. Economic Analysis of Property Rights. New York: Cambridge University Press, 1997.

______. The formation of rights. Economic Analysis of Property Rights. New York: Cambridge University Press, 1997.

BECKER, Gary S. A theory of competition among pressure groups for political influence. The Quarterly Journal of Economics, v. 98, n. 3, 1983.

BELAISCH, Agnês. Do brazilian banks compete? IMF working paper 03/113, maio 2003. Disponível em: . Acesso em: 12 set. 2005.

BUCHANAN, James M.; TULLOCK, Gordon. The calculus of consent. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1962.

CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Access to justice. Milan: Dott. A. Giuffrè Editore, 1978. v. 1.

COASE, Ronald Harry. The nature of the firm. The Firm, the Market, and the Law. The University of Chicago Press, 1995.

______. The problem of social cost. The Firm, the Market, and the Law. The University of Chicago Press, 1995.

COLLAÇO, R. T. C. Discurso de posse do Juiz Rodrigo Tolentino de Carvalho Collaço, na Presidência da Associação dos Magistrados Brasileiros, em 16 de dezembro de 2004, em Brasília/DF. Disponível em: <http://www.amb.com.br/institucional/discurso.asp>.

DIXIT, Avinash. Lawlessness and Economics. 1st ed. New Jersey: Princeton University Press, 2004.

DJANKOV, S.; LA PORTA, R.; LOPEZ-DE-SILANES, F.; SHLEIFER A. Courts: the lex mundi project. National Bureau of Economic Research (NBER). Working Paper 8890, 2002.

DWORKIN, Ronald. A visão econômica do Direito. Uma Questão de Princípio. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 2001.

______. Levando os direitos a sério. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 2002.

FACHADA, Pedro; FIGUEIREDO, Luiz Fernando; LUNDBERG, Eduardo. Sistema judicial e mercado de crédito no Brasil. Nota Técnica do Banco Central do Brasil n. 35, março de 2003. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pec/NotasTecnicas/Port/2003nt35sistemajudicialmercadocredbrasilp.pdf>. Acesso em: 9 maio 2004.

FARIA, José Eduardo Campos de Oliveira. Poder e legitimidade. São Paulo: Perspectiva, 1978.

______. (Org.). Direito e justiça: a função social do Judiciário. São Paulo: Ática, 1989.

______. Justiça e conflito: os juízes em face dos novos movimentos sociais. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992.

______. Direito e economia na democratização brasileira. São Paulo: Malheiros, 1993.

______. O Direito na economia globalizada. São Paulo: Malheiros, 2000.

FERRÃO, Brisa L. de Mello; CARDOSO, Evorah L. et al. O judiciário e as políticas públicas de saúde no Brasil: O caso AIDS. Prêmio IPEA 40 Anos. IPEA-CAIXA 2004: monografias premiadas. Brasília: IPEA, 2005. p. 387-432.

GALANTER, Marc. Why the “Haves” come out ahead: speculations on the limits of legal change. Law and Society Review, fall (1974). p 95-160.

GLAESER, E. L.; LAIBSON, D. I.; SCHEINKMAN, J. A.; SOUTTER, C. L. Measuring Trust. The Quarterly Journal of Economics, v. 115, n. 3, p. 811-846, 2000.

GLAESER, Edward; SCHEINKMAN, José; SHLEIFER, Andrei. The injustice of inequality. Journal of Monetary Economics, n. 50, p. 199-222, 2003.

GONÇALVES, Fernando M.; HOLLAND, Marcio; SPACOV, Andrei D. Can jurisdictional uncertainty and capital controls explain the high level of real interest rates in Brazil? Evidence from panel data. Mimeo fornecido pelos autores, junho, 2005.

JENSEN, Michel C.; MECKLING, William H. Theory of the firm: managerial behavior, agency costs and ownership structure. Journal of Financial Economics, New York, n. 3, 1976.

KRUEGER, Anne O. The political economy of the rent-seeking society. The American Economic Review, v. 64, n. 3, p. 291-303, 1974.

LAEVEN, Luc; MAJNONI, Giovanni. Does Judicial Efficiency Lower the Cost of Credit? World Bank Policy Research Working Paper 3159, 2003.

LAMOUNIER, B.; SOUZA, A. As elites brasileiras e o desenvolvimento nacional: fatores de consenso e dissenso. São Paulo: Idesp, 2002.

LAZZARINI, Sergio G. et al. Measuring trust: an experiment in Brazil. SSRN working paper. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=484342>. Acesso em: 30 jun. 2005.

LEHMANN, D. R.; HULBERT, J. Are three-point scales always good enough? Journal of Marketing Research. n. 9, 11/1972.

LUNDBERG, Eduardo Luis (Org.). Economia bancária e crédito: avaliação de 4 anos do projeto de juros e spread bancário no Brasil. Estudo do Departamento de Estudos e Pesquisas – DEPEP – do Banco Central do Brasil. Dezembro de 1999. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/ftp/rel_economia_bancaria_credito.pdf>.

MAURO, Paolo. Corruption and Growth. The Quarterly Journal of Economics, v. 110, n. 3, p. 681-712, aug. 1995.

MILGROM, Paul; ROBERTS, John. Economic Theories of the firm: past, present, and future. In: BUCKLEY, P. J.; MICHIE, J. Firms, Organizations and Contracts: A Reader in Industrial Organization. Oxford Management Readers. New York: Oxford University Press, 1996.

______. Ownership and property rights. Economics, Organization and Management. 1992.

______. Employment contracts, influence activities, and efficient organization design. The Journal of Political Economy, Chicago, v. 96, n. 1, p. 42-60, 1988.

NORTH, Douglass C. Institutions, institutional change and economic performance. New York: Cambridge University Press, 1990.

OLSON, Mancur. A lógica da ação coletiva. São Paulo: Edusp, 1965.

OSTROM, Elinor. Governing the commons. New York: Cambridge University Press, 1996.

PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Econometria: modelos e previsões. 4. ed. São Paulo: Elsevier, 2004.

PINHEIRO, Armando Castelar. O Judiciário e a economia no Brasil. São Paulo: Idesp, 2000.

______. Judiciário, reforma e economia: uma visão dos magistrados. 2002.

______. O componente judicial dos spreads bancários. In: Economia bancária e crédito, Banco Central do Brasil, dezembro, 2003.

RENAULT, Sérgio. Para secretário, justiça precisa deixar de ser “bom negócio”. Disponível em: <http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=169527>.

RIBEIRO, Ivan César. Juros bancários, concorrência e segurança jurisdicional: um teste empírico com os determinantes das taxas de juros em financiamentos de bens com cláusula de alienação fiduciária. Mimeo fornecido pelo autor, 2005a.

RIBEIRO, Ivan César. Relações entre Judiciário, corrupção e desenvolvimento: O Balanceamento Entre Desburocratização e a Garantia do Controle da Atividade Pública. Forthcoming in Controladoria Geral da União, premiados do I Concurso de Monografias (1º Lugar), 2005b. Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/sfc/monografias/arquivos/1.1.integra.pdf>.

RIBEIRO, Ivan César; SHERWOOD, Robert. Social network transacting versus judicial systems: an obstacle to development? Working Paper, Mimeo fornecido pelos autores, 2005.

SADEK, Maria Tereza. Reforma do Judiciário. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2003.

______. (Org.). Uma introdução ao estudo da justiça. São Paulo: Editora Sumaré, 1995.

______. (Org.). O sistema de justiça. São Paulo: Editora Sumaré, 1999.

______. (Org.). O judiciário em debate. São Paulo: Editora Sumaré, 1993.

SANTISO, Carlos. The elusive quest for the rule of law: promoting judicial reform in Latin America. Brazilian Journal of Political Economy, v. 23, n. 3, p. 112-134, 2003.

SELLTIZ, C. et al. Research methods in social relations. New York: Holt, Rinerhart and Winston, Inc., 1959.

SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

SHERWOOD, Robert M. Judicial systems and economic performance. The Quarterly Review of Economics and Finance, v. 34, 1994.

______. Propriedade intelectual e desenvolvimento econômico. São Paulo: Edusp, 1992.

THURSTONE, L. L. The measurement of values. Chicago: University of Chicago Press, 1959.

VIANNA, Luiz Werneck et al. Corpo e alma da magistratura brasileira. 1. ed. Rio de Janeiro: Revan, 1997.

WHITE, H. A Heteroskedasticity: consistent covariance matrix estimator and direct test for heteroskedasticity. Econometrica, v. 48, p. 817-838, 1980.

WILLIAMSON, O. E. The economic institutions of capitalism: firms, markets, relational contracts. New York: The Free Press, 1985.

______. The mechanisms of governance. New York: Oxford University Press, 1996.

WOOLDDRIDGE, J. M. Introductory Econometrics: a modern approach. 2nd ed. Ohio: Michigan State University, 2003.

WORLD BANK. Initiatives in Legal and Judicial Reform. Disponível em: <http://www.worldbank.org/legal/publications/initiatives-final.pdf>.

Downloads

Publicado

2007-01-01

Edição

Seção

Trabalhos Acadêmicos de Pós-Graduação

Como Citar

A influência do comportamento do magistrado brasileiro no problema da incerteza jurisdicional: um teste empírico. (2007). Revista Da Faculdade De Direito, Universidade De São Paulo, 102, 799-849. https://revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67778