Chamada para Dossiê Temático - “Arlindo Machado: Conceitos e processos poéticos nas comunicações e artes”

2020-11-16

Em julho de 2020 o fim da vida biológica de Arlindo Machado comoveu a comunidade acadêmica e gerou manifestações de afeto com as mais variadas configurações. O professor e pesquisador desenvolveu profícuo percurso entre a Comunicação e Semiótica na PUC/SP, onde se pós-graduou e lecionou e a Universidade de São Paulo, onde cursou a graduação, lecionou e fez Livre Docência, vínculos institucionais que lhe conferiram um lugar entre os pesquisadores mais citados da área de comunicações.

A Revista Significação convida pesquisadores a problematizar a obra de Arlindo Machado em dossiê a ser lançado em julho de 2021, efeméride de ano de sua morte. A proposta é analisar e discutir o crítico de vídeo na imprensa, o pesquisador, o curador, o pesquisador em comunicações e artes, além de realizador de filmes científicos, curtas experimentais – entre eles o documentário Apito da panela de pressão e o trabalho Eisenstein multimídia.

Sua obra abarca contextos históricos e conjunturas singulares relacionadas a “imagens técnicas”, expressão corrente em seus livros, artigos e currículo. Contempla ainda investigações em meios de difusão como a TV, o cinema e as galerias, abarcando formas expressivas como a fotografia, a TV, o primeiro cinema, o cinema, o vídeo e a arte experimental desenvolvida a partir de pesquisa técnica. Nestes campos de investigação explora recortes pouco frequentados, inaugurando leituras originais de gêneros como o vídeo-clip, o filme científico, programas de televisão de grandes cineastas, séries e novelas. Como suporte teórico adota via de regra arcabouço advindo da linguística. A semiótica de C. S. Peirce é apresentada de forma palatável para qualquer estudante neófito, assim como a semiótica de Umberto Eco. Arlindo Machado dialoga ainda com teorias do cinema como as do dispositivo, do filme ensaio e da montagem, notadamente Sergei Eisenstein, a quem dedicou um livro. Teorias da comunicação são fruto do contato com pensadores latino-americanos como Jesus Martin-Barbero e Nestor Canclini. Dialoga ainda com a abordagem do canadense Marshall MacLuhan e sua perspectiva sobre as materialidades das imagens, antes mesmo deste nome haver se consolidado.

Em sua irreverência, o pensamento de Arlindo Machado questiona classificações disciplinares. Atravessa as clivagens entre teoria e prática, que valorizam a primeira em detrimento da segunda em um dos maiores exemplos de preconceito com a realização e com a técnica que as estruturas acadêmicas foram capazes de produzir. Atravessa periodizações historiográficas e formatos industriais estabelecidos, enfim, enfrenta o desafio sucessivamente atualizado de pensar criticamente as mídias não convencionais.

A proposta deste dossiê não é a de domesticar um pensamento que se abriu em tantas direções. A ideia é estimular a produção de textos que desenvolvam questões postas, mas não respondidas pelo trabalho de Arlindo Machado. Pretendemos assim contribuir para fazer avançar a agenda da pesquisa e da realização audiovisual nas diversas áreas semeadas pelo trabalho de um mestre que nos deixa o legado de investigações transversais e campo heterogêneo de temas.

Lembramos estar recebendo artigos para as demais Seções da Revista a ser publicado na mesma edição.

Atenciosamente,

Patricia Moran

(editora)

Esther Hamburger

(editora)