Entre Deus e o diabo: mercados e interação humana nas ciências sociais

Autores

  • Ricardo Abramovay Universidade de São Paulo. Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária. Departamento de Economia

DOI:

https://doi.org/10.1590/S0103-20702004000200002

Palavras-chave:

Nova sociologia econômica, Nova economia institucional, Interação social, Mercados, Interdisciplinaridade

Resumo

A principal característica da nova sociologia econômica, que ganha prestígio crescente nos Estados Unidos e na Europa, é estudar os mercados não como mecanismos abstratos de equilíbrio, mas como construções sociais. Essa orientação, entretanto, longe de opor-se aos procedimentos da ciência econômica, é também partilhada por alguns de seus mais importantes expoentes. É bem verdade que a economia contemporânea faz jus à reputação tão difundida de ciência cinzenta, mecânica e incapaz de incorporar preceitos éticos a seus pressupostos. Mas parte importante e cada vez mais significativa da disciplina se volta justamente ao estudo de formas concretas de interação social e questiona as motivações puramente egoístas e maximizadoras postuladas axiomaticamente pela tradição neoclássica. Entre essas correntes destaca-se a nova economia institucional, cujos temas são objeto também da nova sociologia econômica. Apesar de suas diferenças de abordagem, ambas contribuem para evitar que mercados sejam encarados como soluções mágicas a todos os problemas sociais ou como formas diabolizadas de interação que a emancipação humana acabará um dia por suprimir.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

ABRAMOVAY, Ricardo. (2001), “Desenvolvimento e instituições: a importância da explicação histórica”. In: ARBIX, Glauco; ZILBOVICIUS, Mauro & ABRAMOVAY, Ricardo (orgs.). Razões e ficções do desenvolvimento. São Paulo, Edunesp/Edusp, pp. 165-177.

BECKER, Gary S. (1976), The economic approach to human behavior. Chicago, The University of Chicago Press.

BECKERT, Jens. (1996), “What is sociological about economic sociology? Uncertainty and the embeddedness of economic action”. Theory and Society, 25: 803-840.

BERGER, Peter L. (1991), Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. São Paulo, Vozes (1 ed. 1963).

BIANCHI, Ana Maria. (1988), A pré-história da economia: de Maquiavel a Adam Smith. São Paulo, Hucitec.

BIANCHI, Ana Maria & MURAMATSU, Roberta. (no prelo), “A volta de Ulisses: anotações sobre a lógica de planos e compromissos”. Revista de Economia Política.

BOURDIEU, Pierre. (2000), Les structures sociales de l’économie. Paris, Seuil.

CASTILLA, Emilio J.; HWANG, Hokyu; GRANOVETTER, Ellen & GRANOVETTER, Mark.

(2000), “Social networks in Silicon Valley”. In: LEE, C. M.; MILLER, W. F.; ROWEN, H. & HANCOCK, M. (orgs.). The Silicon Valley edge: a habitat for innovation and entrepreneurship. Stanford, Stanford University Press.

COASE, Ronald H. (1937), “The nature of the firm”. Economica, 4: 386-408.

COASE, Ronald H. (1988), The firm, the market and the law. Chicago, Chicago University Press.

DAHRENDORF, Ralf. (1991), Homo sociologicus: ensaio sobre a história, o significado e a crítica da categoria de papel social. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro (1 ed. 1967).

DAHRENDORF, Ralf. (1997), Após 1989: moral, revolução e sociedade civil. Rio de Janeiro, Paz e Terra.

DENZAU, Arthur & NORTH, Douglass. (1994), “Shared mental models: ideologies and institutions”. Kylos, 47 (1): 3-31.

DEQUECH, David. (2003), “Uncertainty and economic sociology: a preliminary discussion”. The American Journal of Economics and Sociology, 62 (3): 509-532.

DUMONT, Louis. (1986), Essays on individualism: modern ideology in anthropological perspective. Chicago, University of Chicago Press.

DUPUY, Jean-Pierre. (1992), Introduction aux sciences sociales. Paris, Ellipses.

ELSTER, Jon. (1986), Making sense of Marx. Cambridge/Paris, Cambridge University Press/Maison des Sciences de l’Homme.

FAVEREAU, Olivier; BIENCOURT, Olivier & EYMARD-DUVERNEY, François. (2002), “Structural economic sociology for a society of organizations”. In: FAVEREAU, Olivier & LAZEGA, Emmanuel (orgs.). Conventions and structures in economic organization: markets, networks and organizations (New horizons in institutional and evolutionary economics). Cheltenham, Edward Elgar Publishing, pp. 213-252.

GARCIA-PARPET, Marie-France. (1994), “Espace de marché et modes de domination”. Études Rurales, 131-132.

GARCIA-PARPET, Marie-France. (2003), “A construção social de um mercado perfeito: o caso de Fontaine-en Sologne”. Estudos Sociedade e Agricultura, 20: 5-44, abr.

GRANOVETTER, Mark. (1974), Getting a job: a study of contacts and careers. Harvard, Harvard University Press.

GRANOVETTER, Mark. (1985), “Economic action and social structure: the problem of embeddedness”. American Journal of Sociology, 91: 481-510.

GRANOVETTER, Mark. (1994), “Business groups”. In: Swedberg, R. & Smelser, N. J. The handbook of economic sociology. Princeton/Nova York, Princeton University Press/Russel Sage Foundation, pp. 453-475.

HAUSMAN, Daniel. (1992), The inexact and separate science of economics. Cambridge, Cambridge University Press.

HIRSCHMAN, A. O. (1982), “Rival interpretations of market society: divilizing, destructive or feeble”. Journal of Economic Literature, 20:1463-1484.

LEVINE, Donald N. (1997), Visões da tradição sociológica. Rio de Janeiro, Jorge Zahar.

LEWIN, Shira B. (1996), “Economics and psychology: lessons for our own day from the early twentieth century”. Journal of Economic Literature, XXXIV: 1293-1323, set.

LITTLE, I. (1949), “A reformulation of the theory of consumer’s behaviour”. In: ZAMAGNI, Stefano. (1987), Microeconomic theory: an introduction. Oxford, Basil Blackwell.

MARX, Karl. (1989), O capital. Crítica da economia política. São Paulo, Abril Cultural (série Os Economistas) (1 ed. 1863).

MINGIONE, Enzo. (2003), Sociologia della vita econômica. Roma, Carocci.

NEE, Victor. (2003), “A new institutional approach to economic sociology”. CSES Working Papers Series, 4. Ithaca, Nova York, Cornell University, Departamento de Sociologia, Center for the Study of Economy and Society.

NEVILLE Keynes, John. (1999), The scope and method of political economy. Batoche Books. http://socserv2.socsci.mcmaster.ca/~econ/ugcm/3ll3/keynesjn/Scope.pdf, consultado em 25/6/2004 (1 ed. 1890).

NORTH, Douglass. (1994), Institutions, institutional change and economic performance. Cambridge, Cambridge University Press.

NORTH, Douglass. (1977), “Markets and other allocation systems in history: the chalenge of Karl Polanyi”. Journal of European Economic History, 6: 703-716.

NORTH, Douglass. (1993), “Economics and cognitive science”. http://econwpa.wustl.edu/eprints/eh/papers/9309/9309003.abs, consultado em 6/4/2004.

NORTH, Douglass. (1981), Structure and change in economic history. Nova York, W. W. Norton.

PARSONS, Talcott. (1985), “Hobbes and the problem of order”. In: MAYHEW, Leon H. (org.). On institutions and social evolution. Selected writings. Chicago, The University of Chicago Press (1 ed. 1949).

PAULANI, Leda M. (2004), Modernidade e discurso econômico. Tese de livre-docência. FEA/USP, Departamento de Economia, São Paulo.

PIERUCCI, Antônio Flávio. (2003), O desencantamento do mundo: todos os passos do conceito em Max Weber. São Paulo, Editora 34.

POLANYI, Karl. (1980), A grande transformação: as origens da nossa época. 3 ed. Rio de Janeiro, Campus (1 ed. 1944).

POLANYI, Karl. (1957), “The place of economics in societies”. In: POLANYI, Karl; ARENSBERG, Conrad & PEARSON, Harry W. (orgs.). Trade and market in the early empires: economies in history and theory. Nova York/Londres, The Free Press/CollierMacmillan.

POLANYI, Karl. (1977), “The two meanings of economic”. In: PEARSON, Harry W. (ed.). The livelihood of man. Nova York, Academic Press, pp. 19-34.

RABIN, Matthew. (2002), “A perspective on psychology and economics”. European Economic Review, 46: 657-685.

ROBBINS Lionel. (1997), “On the significance of economic science”. In: DESAI, Meghnad (org.). LSE on equality: a centenary anthology. Londres, London School of Economics and Political Science (1 ed. 1932).

ROSDOLSKI, Roman. (2001), Gênese e estrutura de “O capital” de Karl Marx. Rio de Janeiro, Contraponto.

SADER, Emir. (2003), “Público versus mercantil”. Folha de São Paulo, Tendências e Debates, p. A3, 19/6/2003.

SAPIR, Jacques. (2000), Les trous noirs de la science économique: essai sur l’impossibilité de penser le temps et l’argent. Paris, Albin Michel.

SEN, Amartya. (1999), “Comportamento econômico e sentimentos morais”. In: Sobre ética e economia. São Paulo, Companhia das Letras (1 ed. 1987).

SEN, Amartya. (2000), Desenvolvimento como liberdade. São Paulo, Companhia das Letras.

SHACKLE, G. L. S. (1991), Origens da economia contemporânea: invenção e tradição no pensamento econômico (1926-1939). São Paulo, Hucitec (1 ed. 1967).

SMITH, Vernon. (2003). “What is experimental economics?”. http://www.ices-gmu.net/article.php/368.html, consultado em 17/6/2004.

STIGLITZ, Joseph. (1990), “Peer monitoring in credit markets”. World Bank Economic Review, 4 (3): 351-366.

SWEDBERG, Richard. (1994), “Markets as social structures”. In: SWEDBERG, Richard & SMELSER, Neil J. The handbook of economic sociology. Princeton/Nova York, Princeton University Press/Russel Sage Foundation, pp. 255-282.

SWEDBERG, Richard. (2003), Principles of economic sociology. Princeton, Princeton University Press.

VALADÃO DE MATTOS, Laura. (1998), Economia política e mudança social: a filosofia econômica de John Stuart Mill. São Paulo, Edusp/Fapesp.

VINHA, Valéria. (2001), “Polanyi e a nova sociologia econômica: uma aplicação contemporânea do conceito de enraizamento social (social embeddedness)”. Econômica, 3 (2): 207-230, dez.

WEBER, Max. (1991), Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília, Editora UNB, vol. 1 (1 ed. 1921).

WEBER, Max. (1999), “Marginal utility analysis and ‘The fundamental law of psychophysics’”. In: SWEDBERG, Richard (org.). Max Weber: essays in economic sociology. Princeton, Princeton University Press (1 ed. 1908).

WHITE, Harrison. (1981), “Where do markets come from?”. American Journal of Sociology, 87: 514-547.

WHITE, Harrison. (1992), Identity and control: a structural theory of social action. Princeton, Princeton University Press.

WILLIAMSON, Oliver. (1994), “Transaction cost economics and organization theory”. In: SWEDBERG, Richard & SMELSER, Neil J. (orgs.). The handbook of economic sociology. Princeton/Nova York, Princeton University Press/Russel Sage Foundation, pp. 77-107.

WILLIAMSON, Oliver. (1975), Markets and hierarchies: antitrust implications. Nova York, Free Press.

ZAMAGNI, Stefano. (1995), “Introduction”. In: (org.). The economics of altruism. The International Library of Critical Writings in Economics, 48. An Elgar Reference Collection, pp. xv-xxiii.

Downloads

Publicado

2004-11-01

Edição

Seção

Balanços

Como Citar

Abramovay, R. (2004). Entre Deus e o diabo: mercados e interação humana nas ciências sociais . Tempo Social, 16(2), 35-64. https://doi.org/10.1590/S0103-20702004000200002