Depois da democracia racial

Autores

  • Antonio Sérgio Alfredo Guimarães Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

DOI:

https://doi.org/10.1590/S0103-20702006000200014

Palavras-chave:

Democracia racial, Desigualdades raciais, Multiculturalismo, Estado popular

Resumo

Neste artigo, meu objetivo é refletir sobre um cenário futuro, que se torna cada vez mais real e próximo: aquele em que as desigualdades raciais no Brasil convivem com um regime de Estado do qual as organizações negras e outras organizações populares participam ativamente na formulação de políticas multiculturalistas e no qual a ideologia da democracia racial cessou de ser hegemônica. Se, por um lado, nesse cenário, ganhamos efetiva consciência das limitações de nossa democracia, da heterogeneidade da nossa formação e da insidiosa reprodução das desigualdades raciais, nem por isso somos capazes de reverter esse quadro. Essa é a oportunidade de expor alguns equívocos interpretativos atualmente correntes na literatura: nem as desigualdades raciais resultam da "democracia racial", nem a reprodução das desigualdades pode ser explicada pela simples existência de categorizações de base racial.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

AZEVEDO, Thales de. (1953), Les élites de couleur dans une ville brésilienne. Paris, Unesco.

BARTH, Frederik. (1994), “Enduring and emerging issues in the analysis of ethnicity”. In: VERMEULEN, Hans & GOVERS, Cora (eds.), The anthropology of ethnicity, beyond “Ethnic Groups and Boundaries”. Amsterdã, Het Spinhuis, pp. 11-32.

BASTIDE, Roger & FERNANDES, Florestan. (1955), Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo. São Paulo, Unesco-Anhembi.

BRYSK, Alison & WISE, Carol. (1997), “Liberalization and ethnic conflict in Latin America”. Studies in Comparative International Development, 32 (2).

CAMPOS, Maria José. (2002), Arthur Ramos: luz e sombra na antropologia brasileira: uma versão da democracia racial no Brasil nas décadas de 1930 e 1940. São Paulo. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, FFLCH-USP.

CAMPOS, Maria José. (2005-2006), “Cassiano Ricardo e o ‘mito da democracia racial’: uma versão modernista em movimento”. Revista USP, 68.

CARVALHO, José Murilo de. (2004), “Genocídio racial estatístico”. O Globo, 27 de dezembro.

FAORO, Raymundo. (1958), Os donos do poder. Rio de Janeiro, Globo.

FERES JR., João. (2005), “Ação afirmativa no Brasil: a política pública entre os movimentos sociais e a opinião douta”. Trabalho apresentado no Seminário Internacional “Ações afirmativas nas políticas educacionais: o contexto pós-Durban”, 20 a 22 de setembro, Brasília.

FERNANDES, Florestan. (1965), A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo, Cia. Editora Nacional.

FREYRE, Gilberto. (1933), Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro, Schimidt.

FREYRE, Gilberto. (1936), Sobrados e mucambos. Rio de Janeiro, Editora Nacional.

FREYRE, Gilberto. (1938), Conferências na Europa. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Saúde.

FRY, Peter. (1995-1996), “O que a Cinderela Negra tem a dizer sobre a política racial brasileira”. Revista USP, 28: 122-135.

GILROY, Paul. (1993), The black Atlantic: modernity and double consciousness. Londres/Nova York, Verso.

GROS, Christian. (2000), Políticas de la etnicidad. Identidad, estado y modernidad. Bogotá, ICANH.

GUIMARÃES, Antonio Sérgio. (1999), Racismo e anti-racismo no Brasil. São Paulo, Editora 34.

GUIMARÃES, Antonio Sérgio. (2001), “Democracia racial: o ideal, o pacto e o mito”. Novos Estudos Cebrap, XX (61): 147-162. São Paulo.

GUIMARÃES, Antonio Sérgio. (2002), Classes, raças e democracia. São Paulo, Editora 34.

GUIMARÃES, Antonio Sérgio. (2003), “Démocratie raciale”. Cahiers du Brésil Contemporain, 49/50: 11-38. Paris.

HALE, Charles. (2002), “Does multiculturalism menace? Governance, cultural rights and the politics of identity in Guatemala”. Journal of Latin American Studies, 34:485-524.

HARRIS, Marvin. (1956), Town and country in Brazil. Nova York, Columbia University Press.

HASENBALG, Carlos. (2005), “Estrutura de classes, estratificação social e raça”. In: Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. 1ª edição 1979. São Paulo, Humanitas, cap. 3.

HASENBALG, C. & SILVA, N. V. (1988), Estrutura social, mobilidade e raça. Rio de Janeiro, Vértice/Iuperj.

HASENBALG, C. & SILVA, N. V. (1992), Relações raciais no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro, Rio Fundo Editora.

HIRSCHMAN, Albert O. (1991), The rhetoric of reaction: perversity, futility, jeopardy. Cambridge, Mass., Belknap Press of Harvard University Press.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. (1936), Raízes do Brasil. Rio de Janeiro, José Olympio.

LEAL, Maria das Graças de Andrade. (2004), Manuel Querino entre letras e lutas – Bahia: 1851-1923. São Paulo. Tese de doutorado em História. Pontifícia Universidade Católica.

MACEDO, Márcio. (2006), Abdias do Nascimento: a trajetória de um negro revoltado: 1914-1968. São Paulo. Dissertação de mestrado em Sociologia. FFLCH-USP.

MAGGIE, Yvonne. (1996), “Aqueles a quem foi negada a cor do dia: as categorias de cor e raça na cultura brasileira”. In: MAIO, Marcos C. & SANTOS, Ricardo V. (orgs.), Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro, Fiocruz/Centro Cultural Banco do Brasil.

NASCIMENTO. Elisa L. (2003), O sortilégio da cor. São Paulo, Summus.

PETRUCCELLI. José. (2006), “Classificação étnico-racial brasileira: onde estamos e aonde vamos”. REAA, Textos para Discussão número 1.

PIERSON, Donald. (1971), Brancos e pretos na Bahia (estudo de contacto racial). 1ª edição 1942. São Paulo, Editora Nacional.

POLICE, Gerard. (2000), Abdias do Nascimento: l’afro -brésilien reconstruit. 1914-1944. França. Tese de doutorado. Département de Portugais, Université Rennes 2, Haute Bretagne, 2 vols.

PRZEWORSKI, Adam. (1985), Capitalism and social democracy. Cambridge, Cambridge University Press.

SANTOS, Joel Rufino dos. (1985), “O movimento negro e a crise brasileira”. Política e Administração, 2 (2): 287-307. Rio de Janeiro, jul./set.

SCHWARCZ, Lilia. (1999), “Questão racial e etnicidade”. In: MICELI, Sérgio. (org.), O que ler na Ciência Social brasileira (1970-1995). Vol. 1: Antropologia. São Paulo, Sumaré/Anpocs, pp. 267-326.

SILVA, Nelson do Valle. (1978), White-nonwhite income diferentials: Brazil 1960. PhD Thesis. University of Michigan.

SOARES, Sergei. (2000), “O perfil da discriminação no mercado de trabalho: homens negros, mulheres brancas e mulheres negras”. Ipea, Textos para discussão número 769.

TELLES, Edward. (2003), Racismo à brasileira. Rio de Janeiro, Relume-Dumará.

TILLY, Charles. (2003a), “Social boundaries mechanisms”. Draft paper for symposium on social mechanisms, Philosophy of Social Sciences.

TILLY, Charles. (2003b), “Historical perspectives on inequality”. Draft chapter for Mary Romero e Eric Margolis (eds.), Blackwell Companion to Social Inequalities.

VAN COTT, Donna Lee. (2000), The friendly liquidation of the past: the politics of diversity in Latin America. Pittsburgh, University of Pittsburgh Press.

VIOTTI DA COSTA, Emilia. (1985), “The myth of racial democracy: a legacy of the Empire”. In: The Brazilian Empire, myths and histories. Belmont, CA, Wadsworth Publishing Company.

WAGLEY, Charles (org.). (1952), Race and class in rural Brazil. Nova York, Columbia University Press.

WAGLEY, Charles (org.). (1960), Revolução brasileira: uma análise da mudança social desde 1930. Salvador, Progresso Editora.

YASHAR, Deborah. (1999), “Democracy, indigenous movements, and the postliberal challenge in Latin America”. World Politics, 52 (1).

Downloads

Publicado

2006-11-01

Edição

Seção

Dossiê - Sociologia da Desigualdade

Como Citar

Guimarães, A. S. A. (2006). Depois da democracia racial . Tempo Social, 18(2), 269-287. https://doi.org/10.1590/S0103-20702006000200014