O Livro do desassossego, de Fernando Pessoa, no cinema: a distribuição e exibição do filme de João Botelho

Autores

  • Teresa Duarte Martinho Universidade de Lisboa. Instituto de Ciências Sociais

DOI:

https://doi.org/10.1590/0103-20702015212

Resumo

O objetivo desse artigo é analisar o plano de distribuição e exibição doFilme do desassossego, do cineasta português João Botelho, com base no Livro do desassossego, de Fernando Pessoa. A iniciativa configurou um sistema incomum de difusão cinematográfica, por assentar-se na exibição do filme em cineteatros e auditórios municipais em uma itinerância nacional por Portugal e pela diversidade de papéis que o realizador assumiu em um projeto concertado com a produtora da obra. A abordagem pretende contribuir para aprofundar o conhecimento dos processos e das dinâmicas de circulação da arte em moldes não estandardizados. O texto evidencia o caráter de interdependência no trabalho cinematográfico e, logo, a menor capacidade de controle por parte dos cineastas na gestão de diversos recursos de produção e difusão. Ilustra ainda os efeitos de uma conjugação particular entre arte e comércio, que surgiu da vontade de arriscar e fazer um gesto dissidente. Sendo empresário do seu próprio trabalho, João Botelho procurou firmar sua obra com mais autonomia e chamar atenção para o filme no sentido de estar proporcionando uma experiência singular.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Aaron, Michele. (2007), Spectatorship: the power of looking on. Londres, Wallflower Press.

Abercrombie, Nicholas & Longhurst, Brian. (1988), Audiences: a sociological theory or performance and imagination. Londres, Sage.

Adorno, Theodor W. & Horkheimer, Max. ([1947] 1985), Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro, Jorge Zahar.

Adorno, Theodor W. ([1941] 1986), “Sobre música popular”. In: Cohn, Gabriel (org.). Theodor Adorno: sociologia. São Paulo, Ática.

Agência Lusa. (2008), “Congresso/Pessoa: João Botelho vai fazer filme baseado no ‘Livro do Desassossego’ em 2009”. Disponível em noticias.sapo.pt/lusa/artigo/bdb057d61deb992bc8e249.html, consultado em 30/9/2013.

Alonso, Luis Enrique. (2005), La era del consumo. Madri, Siglo.

Becker, Howard S. (1982), Art wolds. Nova York/Berkeley, ca, University of California Press.

Benjamin, Walter. ([1936] 1992), Sobre arte, técnica, linguagem e política. Lisboa, Relógio D’Água.

Bourdieu, Pierre. (1979), La distinction: critique sociale du jugement. Paris, Minuit.

Cabral, Manuel Villaverde. (2013), “Nós precisamos da fachada dos cinemas”. Público, 12 jan.

Carrell, Severin. (2009) “Box office draw: Highland film fans feel pulling power of Tilda Swinton”. The Guardian, 2 ago. Disponível em www.theguardian.com/film/2009/aug/02/tilda-swinton-mobile-cinema, consultado em 12/11/2013.

Carvalho, Ana Margarida. (2010), “O cinema é uma arte com pecado”. Visão, 30 set.

Castro, Sofia Canelas. (2010), “Este filme é um ajuste de contas com Pessoa”. Correio da Manhã, 30 set.

Chiapello, Eve. (1998), Artistes versus managers: le management culturel face à la critique artiste. Paris, Métailié.

Chisholm, Brad. (1992), “Film and Photo League exhibition strategies”. Jump Cut: A Review of Contemporary Media, 37: 110-114.

Conde, Idalina. (2000), “A nossa múltipla condição”. In: Ventura, Maria da Graça Mateus (org.), A definição dos espaços sociais, culturais e políticos do mundo ibero-atlântico (de finais do séc. xviii até hoje). Lisboa, Colibri, pp. 95-110.

Correio da Manhã. (2010), “Pessoa visto por Botelho”. Correio da Manhã, 30 set.

Disponível em www.cmjornal.xl.pt/cultura/detalhe/pessoa-visto-por-botelho.html, consultado em 10/9/2015.

Crane, Diane (1992), Foundations of popular culture. Vol. 1: The production of culture: media and the urban arts. Newbury Park/Londres/Nova Déli, Sage.

Cruz, Maria Teresa. (1998), “Media art ou mediacracia”. Cyber 98: a criação na era digital [catálogo de exposição]. Lisboa, Centro Cultural de Belém, pp.11-16.

Dias, Vanessa Sousa. (s.d.), “Novas e velhas tendências no cinema português contemporâneo”. Disponível em biblio.estc.ipl.pt/opac-tmpl/prog/images/recortes/novas_velhas_total.pdf, consultado em 11/11/2013.

Doane, Mary Ann. (1980), “The voice in the cinema: the articulation of body and space”. Yale French Studies, 60: 33-50.

Domingues, Miguel. (2012), “Conversa com Pedro Borges: ‘isto parece tudo arte e cultura mas não é: é só comércio’”. À Pala de Walsh, 21 nov. Disponível em www.apaladewalsh.com/2012/11/21/conversa-com-pedro-borges-isto-parece-tudo-arte-

-e-cultura-mas-nao-e-e-so-comercio, consultado em 31/8/2013.

Eiras, Pedro. (2008),“Fragmentação”. In: Martins, Fernando Cabral (org.) Dicionário de Fernando Pessoa e do modernismo português. Lisboa, Caminho.

Expresso. (2007), “‘Corrupção’: Divergências com Botelho eram esperadas, afirma produtor”, 23 out. Disponível em expresso.sapo.pt/feeds/lusa/lusadesporto/cinema-corrupcao--divergencias-com-botelho-eram-esperadas-afirma-produtor=f148445, consultado em 6/10/2013.

Featherstone, Mike. (1997), “Culturas globais e culturas locais”. In: Fortuna, Carlos (org.), Cidade, cultura e globalização. Oeiras, Celta, pp. 83-103.

Ferreira, António Mega. (2010), “Um filme para Pessoa”. Diário de Notícias, 10 out.

Fraga, Pietra. (2006), “Neville D’Almeida: da liberdade à estética do deslimite”. Disponível em www.artecapital.net/entrevista-155-neville-d-almeida, consultado em 14/10/2013.

Gil, Inês. (2005), A atmosfera no cinema: o caso de A sombra do caçador de Charles Laughton. Entre Onirismo e Realismo. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian/Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Griswold, Wendy. (1987), “A methodological framework for the sociology of culture”. Sociological Methodology, 17: 1-35.

Heinich, Nathalie. (2000), Être écrivain: création et identité. Paris, La Découverte.

Ica. (2009), “Relatório de Actividades 2009”. Disponível em www.ica-ip.pt/pagina.aspx?pagina=409, consultado em 30/9/2013.

______. (2011), “Relatório de Actividades 2011”. Disponível em www.ica-ip.pt/Admin/Files/Documents/contentdoc2529.pdf, consultado em 7/10/2013.

______. (2012), “Anuário Estatístico & Cinema Portugal”. Disponível em www.ica-ip.pt/Admin/Files/Documents/contentdoc2504.pdf, consultado em 12/11/2013.

Kennedy, Dennis. (2009), The spectator and the spectacle: audiences in modernity and postmodernity. Cambridge, Cambridge University Press.

Lash, Scott & Lury, Celia. (2007), Global culture industry. Cambridge, Polity Press.

Lee, Benjamin & Lipuma, Edward. (2002), “Cultures of circulation: the imaginations of modernity”. Public Culture, 14 (1): 191-213.

Lemière, Jacques. (2006), “‘Um centro na margem’: o caso do cinema português”. Análise Social, Lisboa, 180 (41): 731-765.

Lopes, João. (2010), Texto integrante do Programa do ccb de Filme do desassossego. Lisboa, Ar de Filmes.

_____. (2013), “A morte lenta da cinefilia”. Diário de Notícias, 29 set.

Lopes, João Teixeira. (1998), A cidade e a cultura: um estudo sobre práticas culturais urbanas. Tese de doutorado. Porto, Universidade do Porto.

Lourenço, Eduardo. (2008), Fernando Pessoa: rei da nossa Baviera. Lisboa, Gradiva.

Martins, Hermínio & Garcia, José Luís (2013), “Web”. In: Cardoso, José Luís; Magalhães, Pedro & Pais, José Machado (orgs.), Portugal de A a Z: temas em aberto. Paço de Arcos, Impresa Publishing/Expresso, pp. 285-293.

Marcuse, Herbert. (1964), One-dimensional man: studies in the ideology of advanced industrial society. Boston, Beacon Press.

Martins, Maria João. (2010), “Ópio na alma”. Jornal de Letras e Artes, 22 set., pp. 22-25.

Matta, João Paulo Rodrigues & Souza, Elisabete Regina Loiola da Cruz (2009), “Cidade de Deus e Janela da alma: um estudo sobre a cadeia produtiva do cinema brasileiro”. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, 1 (49): 27-37.

Menger, Pierre-Michel. (2002), Portrait de l’artiste en travailleur: métamorphoses du capitalisme. Paris, Seuil.

Moço, João. (2010), “É preciso educar de novo as pessoas a irem ao cinema”. Diário de Notícias, 4 set.

Monteiro, Paulo Filipe. (2001), “Uma margem no centro: a arte e o pode do ‘novo cinema’”. In: Torgal, Luís Reis (org.). O cinema sob o olhar de Salazar. Lisboa, Temas e Debates, pp. 306-338.

Neves, António Loja. (2010), “Ah! Mas os atores moldam-nos imenso!”. Expresso, 9 out.

Newman, Michael Z. (2009), “Indie culture: in pursuit of the authentic autonomous alternative”. Cinema Journal, 3 (48): 16-34. Observatório Europeu do Audiovisual. (2013), “Cinema admissions in Europe down overall, but some countries make big strides”. Disponível em www.obs.coe.int/en/-/cinema-admissions-in-europe-down-overall-but-some-countries-make-big-strides;jsessionid=A1cbafefc2C42B1C2C849D19D539F8ff, consultado em 22/11/2013.

Obercom. (2011), Cinema: para além do mercado. Contributos para novos modos de análise e reflexão. Lisboa, Obercom.

Pais, José Machado (2013), “Kitsch”. In: Cardoso, José Luís; Magalhães, Pedro & Pais, José Machado (orgs.), Portugal de A a Z: temas em aberto. Paço de Arcos, Impresa Publishing/Expresso, pp. 130-138.

Pessoa, Fernando. (1982), Livro do desassossego por Bernardo Soares. Ed. Jacinto Prado Coelho. Lisboa, Ática.

_____. (2008), Livro do desassossego. Ed. Teresa Sobral Cunha. Lisboa, Relógio d’Água.

_____. (2010), Livro do desasocego. Ed. Jerónimo Pizarro. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

_____. ([1998] 2012), Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. Ed. Richard Zenith. Lisboa, Assírio & Alvim.

_____. (2013), Livro do desassossego. Ed. Jerónimo Pizarro. Rio de Janeiro, Tinta da China.

Peterson, Richard A. & Anand, N. (2004), “The production of culture perspective”. Annual Review of Sociology, 30: 311-334.

Pizarro, Jerónimo (org.). (2009), Fernando Pessoa: o guardador de papéis. Alfragide, Texto.

______. (2013), “Prefácio”. In: Pessoa, Fernando. Livro do desassossego. Ed. Jerónimo Pizarro. Rio de Janeiro, Tinta da China.

Portela, Manuel. (2013), “‘Nenhum problema tem solução’: um arquivo digital do Livro do desassossego”. matlit: Revista do Programa de Doutoramento em Materiali dades da Literatura, 1 (2): 9-33. Disponível em iduc.uc.pt/index.php/matlit/article/view/1618, consultado em 19/9/2013.

Ramos, Jorge Leitão. (2010), “Catedral de névoa”. Expresso/Actual, 2 out., p. 21.

Rezende, Marcelo. (1995), “Falso movimento”. Folha de S.Paulo, 19 nov.

Rochefort, Robert. (1996), La societé des consommateurs. Paris, Odile Jacob.

Santoro, Marco. (2008), “Culture as (and after) production”. Cultural Sociology, 1 (2): 7-31.

Santos, Maria de Lourdes Lima dos. (2012), Sociologia da cultura: perfil de uma carreira. Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais.

Shils, Edward. (1992), Centro e periferia. Lisboa, Difel.

Silva, Augusto Santos & Santos, Helena. (2010), “A transformação cultural de cidades médias, segundo os seus agentes culturais”. Sociologia, Problemas e Práticas, 62: 11-34.

Simmel, Georg. ([1903] 2005), “As grandes cidades e a vida do espírito”. Mana, 2 (11):577-591.

Simões, Marta & Jácome, Jorge. (s.d), “Novas e velhas tendências no cinema português contemporâneo”. Disponível em: biblio.estc.ipl.pt/opac-tmpl/prog/images/recortes/novas_velhas_total.pdf, consultado em 30/11/2013.

Steiner, Georg. (2001), “A man of many parts”. The Observer, 3 jun.

Szymborska, Wislawa. (1996), “The poet and the world”. Disponível em www.nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/1996/szymborska-lecture.html, consultado em 20/11/2013.

Valente, Francisco. (2010), “O desassossego de João Botelho”. Público, 24 set.

Veblen, Thorstein. ([1899] 1994), The theory of leisure class. Nova York, Penguin Books.

Visão. (2009), “A ‘Corte do norte’ salvou-me a vida”, 12 mar. Disponível em visao.sapo.pt/cinemaa-corte-do-norte-salvou-me-a-vida-joao-botelho=f499307, consultado em 18/9/2013.

Waizbort, Leopoldo. (2000), As aventuras de Georg Simmel. São Paulo, Editora 34.

Weil, Pascale. (1994), A quoi rêvent les annés 90: les noveaux imaginaires. Consommation et communication. Paris, Seuil.

Zallo, Ramón Elguezabal. (2011), Estructuras de la comunicación y de la cultura: políticas para la era digital. Barcelona, Gedisa.

Downloads

Publicado

2015-12-01

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

O Livro do desassossego, de Fernando Pessoa, no cinema: a distribuição e exibição do filme de João Botelho . (2015). Tempo Social, 27(2), 255-278. https://doi.org/10.1590/0103-20702015212