Governo, ditadura e ciências sociais: o caso português

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2019.134487

Palavras-chave:

Sociologia, Governo, Ditadura, Portugal

Resumo

O presente artigo discute a presumida inexistência de ciências sociais durante o Estado Novo português, executa uma síntese dos mais recentes trabalhos sobre a história da sociologia em Portugal, integra-a no contexto internacional pertinente e sugere que a institucionalização parcial daquele saber no decurso da ditadura pode ser compreendida como “consequência não desejada” de determinadas ações do regime e resultado dos esforços subsequentes da parte de quadros médios da burocracia oficial e/ou de institutos conexos de aconselhamento político no sentido de dar dignidade universitária às suas atividades técnicas. De forma complementar, o mesmo processo pode ainda ser entendido enquanto “autonomização” progressiva e atalhada de “campos sociais” científico-sociais com matrizes diversas.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Frederico Ágoas, Universidade Nova de Lisboa

    Pesquisador do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (CICS.NOVA, FCSH-UNL). Bolsista de pós-doutoramento (SFRH/BPD/73985/2010) da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT, Portugal).

Referências

Ágoas, Frederico. (2010a), “Economia rural e investigação social agrária nos primórdios da sociologia em Portugal”. In: Domingos, Nuno & Pereira, Victor (orgs.). O Estado Novo em questão. Lisboa, Edições 70, pp. 197-231.

Ágoas, Frederico. (2010b), “Povo, população e sociedade na investigação econômico-agrária do início do século XX”. In: Neves, José (org.). Como se faz um povo. Lisboa, Tinta-da-China, pp. 293-309.

Ágoas, Frederico. (2012), “Estado, universidade e ciências sociais: a introdução da sociologia na Escola Superior Colonial (1952-1972)”. In: Jerónimo, Miguel Bandeira Jerónimo (org.). O Império colonial em questão (sécs. xix-xx). Poderes, saberes e instituições. Lisboa, Edições 70, pp. 317-47.

Ágoas, Frederico. (2013a), “Narrativas em perspectiva sobre a história da sociologia em Portugal”. Análise Social, 206, xlviii (1): 221-256.

Ágoas, Frederico. (2013b), “‘Abaixo da linha de miséria’: anatomia de um gesto científico-social em ‘Contribuição para o Estudo da Questão Agrária’”. In: Neves, José (org.). Álvaro Cunhal. Política, história e estética. Lisboa, Tinta-da-China, pp. 135-149.

Ágoas, Frederico. (2013c), “Science, state and society: the emergence of social research in Portugal”. In: Trindade, Luís (org.). The making of modern Portugal. Newcastle Upon Tyne, Cambridge Scholars Publishing, pp. 149-177.

Almeida, Ana Nunes de et al. (1999), Perfil da investigação científica em Antropologia, Demografia, Geografia e Sociologia em Portugal. Lisboa, Ministério da Ciência e da Tecnologia, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Observatório da Ciência e Tecnologia.

Bourdieu, Pierre. (1994), O poder simbólico. Lisboa, Difel.

Bulmer, Martin et al. (orgs.). (1991), The social survey in historical perspective, 1880-1940. Cambridge, Cambridge University Press.

Cardoso, José Luís. (2013), “O Gabinete de Estudos Corporativos (1949-1961) e a gênese de uma biblioteca moderna de ciências sociais”. Análise Social, 206 (1): 193-219.

Castelo, Cláudia. (1998), O modo português de estar no mundo: o luso-tropicalismo e a ideologia colonial portuguesa (1933-1961). Coimbra, Edições Afrontamento.

Castro, Celso & Blank, Thais. (2014), “O 25 de Abril e as ciências sociais” (vídeo). Disponível em http://cpdoc.fgv.br/cientistassociais/csplp/edicoestematicas#25abril, consultado em 10/12/2016.

Cruz, Manuel Braga da. (1983), Para a história da sociologia acadêmica em Portugal. Coimbra, Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.

Cruz, Manuel Braga da. (2000), “Sociologia”. In: Serrão, Joel et al. (orgs.). Dicionário de História de Portugal. Porto, Livraria Figueirinhas, vol. ix, pp. 466-468.

Descamps, Paul. (1935), Le Portugal: la vie sociale actuelle. Paris, Firmin-Didot et Cie.

Ferreira, Maria Emília Freitas. (2009), “Serviço social e sociedade, cumplicidades e interações: contributos para uma análise da produção acadêmica portuguesa no período de 1936 a 1972”. Em Pauta, 23: 161-190.

Ferreira, Nuno Estêvão. (2006), A sociologia em Portugal: da igreja à universidade. Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais.

Foucault, Michel. (1975), Surveiller et Punir. Paris, Gallimard.

Garcia, José Luís; Graça et al. (2014), “Portuguese sociology: a non cesurial perspective”. In: Koniordos, Sokratis & Kyrtsis, Alexandros-Andreas (orgs.). Routledge Handbook of European sociology. Oxon/Nova York, Routledge, pp. 357-75.

Graham, Loren et al. (orgs.). (1983), Functions and uses of disciplinary histories. Dordrecht, D. Reidel.

Hespanha, Pedro. (1996), “Os custos e os benefícios da institucionalização tardia da sociologia em Portugal”. Oficina do ces, 78.

Jackson, Luiz Carlos. (2007), “Gerações pioneiras na sociologia paulista (1934-1969)”. Tempo Social, 19 (1): 115-130.

Kalaora, Bernard, (1989), “Paul Descamps ou la sociologie leplaysienne à l’épreuve du Portugal de Salazar”. Gradhiva, 6: 50-64.

Klingemann, Carsten. (2005), “Social-scientific experts – no ideologues: sociology and social research in the Third Reich”. In: Turner, Stephen P. & Käsler, Dirk (orgs.). Sociology responds to fascism. Londres/Nova York, Routledge, pp. 125-150.

Kuhn, Thomas S. (2009), A estrutura das revoluções científicas. Lisboa, Guerra e Paz.

Martins, Alcina Maria de Castro. (1993), “A escola da Ciência Social de Le Play na construção do conhecimento do Serviço Social português”. Intervenção Social, 7: 9-34.

Merton, Robert King. (1936), “The unanticipated consequences of purposive social action”. American Sociological Review, 1 (6): 895-904.

Miceli, Sergio (org.). (1989), História das Ciências Sociais no Brasil. São Paulo, Sumaré, vol. 1.

Miceli, Sergio (org.). (1995), História das Ciências Sociais no Brasil. São Paulo, Sumaré, vol. 2.

Motta, Rodrigo Patto Sá. (2014), As universidades e o regime militar: cultura política brasileira e modernização autoritária. Rio de Janeiro, Zahar.

Pereira, Rui. (2005), Conhecer para dominar. O desenvolvimento do conhecimento antropológico na política colonial portuguesa em Moçambique (1926-1959). Lisboa, tese de doutorado, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Pinto, António Costa. (2011), “Portugal, Michael Mann, o fascismo europeu”. In: Mann, Michael. Fascistas. Lisboa, Edições 70, pp. 9-28.

Pinto-Correia, David. (1980), “Uma escrita acerca do povo ou da possibilidade de um discurso etnográfico”. In: Redol, Alves. Glória: uma aldeia no Ribatejo. Lisboa, Publicações Europa-América, pp. 9-29.

Rosas, Fernando. (2001), “O salazarismo e o homem novo: ensaio sobre o Estado Novo e a questão do totalitarismo”. Análise Social, xxxv (157): 1031-1054.

Rosas, Fernando & Sizifredo, Cristina. (2013), Estado Novo e universidade: a perseguição aos professores. Lisboa, Tinta-da-China.

Sá, Victor de. (1978), Esboço histórico das ciências sociais em Portugal. Lisboa, Instituto de Cultura Portuguesa.

Sá, Victor de. (1979), A historiografia sociológica de António Sérgio. Lisboa, Instituto de Cultura Portuguesa.

Savoye, Antoine. (1994), Les débuts de la sociologie empirique: études socio-historiques (1830-1930). Paris, Meridiens Klincksieck.

Schwarcz, Lilian Moritz & Botelho, André (orgs.). (2009), Um enigma chamado Brasil. São Paulo, Companhia das Letras.

Silva, Elisa Lopes da. (2013), “Time to Settle Down: Property, state and its subject”. In: Trindade, Luís (org.). The making of modern Portugal. Newcastle Upon Tyne, Cambridge Scholars Publishing, pp. 178-200.

Silva, Felipe Carreira da. (2016), Sociology in Portugal: a short history. Nova York, Palgrave Pivot.

Trindade, Luís. (2013), “Introduction: unmaking modern Portugal”. In: Trindade, Luís (org.). The making of modern Portugal. Newcastle Upon Tyne, Cambridge Scholars Publishing, pp. 1-22.

Turner, Stephen P. (2005), “Sociology and fascism in the interwar period: the myth and its frame”. In: Turner, Stephen P. & Käsler, Dirk (orgs.). Sociology responds to fascism. Londres/Nova York, Routledge, pp. 1-13.

Turner, Stephen P. & Käsler, Dirk (orgs.). (2005), Sociology responds to fascism. Londres/Nova York, Routledge.

Vecchio, Angelo del & Diéguez, Carla. (2008), As pesquisas sobre o padrão de vida dos trabalhadores da cidade de São Paulo. Horace Davis e Samuel Lowrie, pioneiros da sociologia aplicada no Brasil. São Paulo, Editora Sociologia e Política.

Yeo, Eileen Janes. (2003), “Social surveys in the eighteenth and nineteenth centuries”. In: Porter, Theodor M. & Ross, Dorothy (orgs.). The modern social sciences, The Cambridge history of science, vol. 7. Cambridge, Cambridge University Press, pp. 83-99.

Downloads

Publicado

2019-04-17

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Governo, ditadura e ciências sociais: o caso português. (2019). Tempo Social, 31(1), 263-276. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2019.134487