A águia e os estorninhos: Galileu e a autonomia da ciência

Autores

  • Pablo Mariconda Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia
  • Hugh Lacey Swarthmore College

DOI:

https://doi.org/10.1590/S0103-20702001000100005

Palavras-chave:

Galileu Galilei, fato, valor, ciência

Resumo

A idéia de que a ciência é "livre de valores" pode ser reconduzida à emergência da distinção entre fato e valor no século XVII. Pode-se considerar que essa idéia tem três componentes: imparcialidade, neutralidade e autonomia. Mostramos que partes importantes dessas idéias componentes foram desenvolvidas e defendidas por Galileu, principalmente em suas cartas a Castelli e à grã-duquesa Cristina e em seus livros O ensaiador e Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo. O argumento de Galileu em favor da autonomia é particularmente poderoso e, embora não tenha a generalidade introduzida por argumentos posteriores (uma vez que seu principal objetivo era o de garantir a autonomia da ciência com relação à autoridade da Igreja), permanece no cerne de todas as defesas subseqüentes da autonomia da ciência. Esse argumento está baseado em três suposições: que o entendimento científico está sujeito a critérios que são independentes da autoridade da Igreja e de qualquer perspectiva de valor; que os cientistas cultivam as virtudes do "ethos científico"; e que (porque usam linguagens diferentes - o argumento dos "dois livros") não pode existir contradição entre os juízos científicos apropriados e as declarações da Igreja. Finalmente, algumas limitações dos argumentos de Galileu são indicadas, sem serem desenvolvidas.

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Publicado

2001-05-01

Edição

Seção

Dossiê Universidade e Autonomia

Como Citar

A águia e os estorninhos: Galileu e a autonomia da ciência . (2001). Tempo Social, 13(1), 49-65. https://doi.org/10.1590/S0103-20702001000100005