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Ladrilho hidráulico – uma arte a ser defendida, um patrimônio a ser preservado

Ladrilho de cerâmica do século XIV. Fonte: British Museum

Release de Margareth Artur para o Portal de Revistas da USP

Quando visitar o Teatro Municipal ou o Mosteiro de São Bento, olhe para o piso com atenção, pois você estará caminhando sobre um ladrilho especial, muitas vezes de grande beleza: os ladrilhos hidráulicos. Tanto em São Paulo quanto no Rio, o revestimento das calçadas com ladrilhos hidráulicos foram utilizados em residencias e comércios, e estão presentes também em outros locais públicos de nossa cidade: Teatro São Pedro, Casa da Marquesa de Santos, Bolsa Oficial do Café, em Santos, Paróquia Nossa Senhora do Brasil, o prédio do Iphan, entre outros. Mas por que ladrilhos hidráulicos, e o que são eles?

Os autores do artigo publicado na revista Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material informam que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) considera o ladrilho hidráulico um “bem material, natural ou imóvel que possui significado e importância artística, cultural, religiosa, documental ou estética para a sociedade”, e que precisa ser preservado, pois é produção artesanal passada de geração a geração, mesmo com os avanços tecnológicos. O ladrilho representa, até os dias de hoje, não só o encantamento pelo antigo, mas a lembrança nostálgica que revela “brasões familiares, armas, selos, casas de nobreza, castas clericais, preces ou trechos bíblicos”, admirados pela beleza e a durabilidade que desafiam o tempo. Esse trabalho revela a presença dos ladrilhos nas cortes do século 19, criados para expressar a arte e a religiosidade das construções.

O artigo conta que a mistura de calcário e argila resultou em um pó denominado “cimento Portland”, em virtude de apresentar cor e características de uma pedra encontrada na Ilha de Portland, Inglaterra. De acordo com o manual da Associação Brasileira de Cimento Portland, explicam os autores, “ladrilho hidráulico é uma placa de concreto de alta resistência ao desgaste para acabamentos de paredes e pisos internos e externos, indicado para passeios públicos, praças, etc.“, apresentando a qualidade de ser antiderrapante, o que facilita a mobilidade das pessoas mesmo quando os espaços estão molhados. Totalmente artesanal, os ladrilhos são feitos um a um, a partir de uma combinação de pó de mármore, cimento e corantes.

Os ladrilhos são colocados em uma fôrma de ferro, com moldes dos desenhos feitos de ferro ou de bronze, mais resistentes que os atuais feitos de latão. No Brasil, como na Europa, os ladrilhos eram criados para decorar e revestir os pisos e paredes, revelando “arte e religiosidade, estilo e modernidade”. Com a Revolução Industrial, ressalta o artigo, e a “expansão do comércio mundial, da burguesia industrial e de novas doutrinas sociais e econômicas“, surge o ladrilho, em sintonia com “o modo de viver da sociedade burguesa, especialmente ligado à arte decorativa“.

O processo de produção desses ladrilhos, em todos os seus detalhes, é mantido em segredo pelos familiares-fabricantes, pois é ofício que passa de pai para filho. O ladrilho hidráulico atravessa o tempo, e seu maior valor é o legado de “atributos estéticos, históricos, científicos, sociais e espirituais intrínsecos à memória coletiva a que pertencem ou pela qual foram declarados bem culturais a ser preservados“, afirmam os autores.  Desse modo, partindo de todos os conceitos e ideias abordadas, os ladrilhos hidráulicos alcançam status de arte, “uma arte a ser defendida, um patrimônio visual de cunho material e imaterial que está sendo esquecido”.    

Fabricação de ladrilho hidráulico na Fábrica de ladrilho/Créditos: Foto dos autores/Fonte: Arquivos pessoais dos autores

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Artigo

LAMAS, M.; LONGO, O; SOUZA, V. A produção de ladrilho e o ofício de ladrilhar: método de produção de ladrilhos do século XVIII aos nossos dias. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, v. 26, e09, p. 01- 22, 2018. ISSN: 10.1590. DOI: https://doi.org/10.1590/1982-02672018v26e09. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/148057. Acesso em: 25 fev. 2019. 

Contatos 

Márcia Lopes Lamas – Bolsista do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal  Fluminense/ Niterói, RJ. e-mail: marciallamas@gmail.com

Orlando Celso Longo – Professor do Departamento de Engenharia Civil da  Universidade Federal Fluminense/ Niterói, RJ e doutor em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. e-mail: orlando-longo@gmail.com

Vicente Custódio de Souza – Professor  do  Departamento de Engenharia Civil da  Universidade  Federal  Fluminense/ Niterói, RJ, e pós-doutor pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil. e-mail: vcmdesouza@hotmail.com

Margareth Artur – Portal de Revistas USP

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