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Apontada como tecnologia inovadora de tratamento, a musicoterapia reduz o estresse de dependentes químicos

Release de Margareth Artur para o Portal de Revistas da USP

Todos sabem que o consumo constante de drogas gera dependência, principalmente detectada por sintomas psico-fisiológicos, mesmo o usuário estando ciente de problemas graves que esse consumo possa ocasionar. “Há um padrão de autoadministração repetida que, em geral, resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de consumo da substância“, afirmam os autores do artigo da Revista Latino-Americana de Enfermagem. O consumo de drogas é um fenômeno mundial que existe desde sempre, mas que hoje em dia tornou-se um vício desenfreado, associado à violência e ao crime organizado, atingindo todas as classes sociais em idades cada vez mais precoces. A droga, “no campo físico, causa doenças que podem levar à morte; no psíquico, dependência psicológica; e no social pode causar problemas no relacionamento familiar, no trabalho e com o sistema judiciário”.

O artigo enfoca a questão do estresse que acomete os dependentes químicos, mostrando os efeitos da arte, mais especificamente da musicoterapia nos usuários de drogas. A pesquisa é um estudo “quase-experimental” em instituição filantrópica localizada no Rio de Janeiro, com 18 dependentes químicos em tratamento. O cortisol salivar, liberado diante de uma situação estressora, é considerado o hormônio do estresse, “uma medida eficaz, acessível, rápida e não invasiva desse fenômeno“. Na pesquisa, o cortisol salivar foi coletado e após uma hora de musicoterapia houve “redução estatisticamente significante nas médias dos níveis de cortisol salivar“.

O tratamento com musicoterapia envolve apenas som, mas também expressão e movimento em que o musicoterapeuta facilita não só o estado de consciência criativa do indivíduo, mas também a comunicação deste com os outros participantes do tratamento, “no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas”. Partindo da certeza que a musicoterapia é capaz de desestressar os pacientes de várias doenças, esta pesquisa procura analisar e mostrar que a musicoterapia é instrumento eficaz no tratamento e reabilitação de dependentes químicos. Na sessão única de musicoterapia a idade média dos pacientes estava em torno dos 40 anos, 61% do sexo masculino. Com músicas escolhidas pelos próprios dependentes, a sessão foi realizada uma só vez, pois o estudo quis avaliar o efeito imediato da musicoterapia sobre o estresse, “com recriação e improvisação vocal“.

Estudos mostram que participantes que abandonaram o tratamento tiveram maior pico de estresse do que aqueles que continuaram. Apesar de complementar o tratamento de várias doenças, ainda há poucos estudos sobre os efeitos da musicoterapia na dependência química. O diferencial na pesquisa é mostrar que o estresse em dependentes químicos pode ser avaliado pela medição de cortisol salivar, possibilitando “um olhar clínico para enfermeiros e outros profissionais de saúde que cuidam desses pacientes“. A pesquisa partiu de uma investigação clínica que confirmou que a musicoterapia reduziu de forma importante o estresse de dependentes químicos, mas não isoladamente, e sim, “em conjunto com tratamento psiquiátrico e psicológico, podendo ajudá-los nos momentos de fissura durante a abstinência“.

Estudos científicos há mais de três séculos confirmam os efeitos da música suave acalmando pacientes agitados. Esta pesquisa se volta para a musicoterapia essencialmente interativa, “o musicoterapeuta e o paciente estiveram ativamente envolvidos no processo de fazer música“, aumentando a  autoestima, estimulando a “reflexão intensa sobre externam sentimentos e emoções durante as músicas por meio de lágrimas ou sorrisos“. A musicoterapia, trazendo benefícios inegáveis para a redução do estresse quando das recaídas durante o curso do tratamento de dependentes químicos, também pode ser apontada como “uma tecnologia inovadora de cuidado se for organizada como uma atividade ao mesmo tempo sistemática e criativa, pois facilita a expressão de emoções, a comunicação interpessoal e a possibilidade de efeito terapêutico”. 

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Artigo

TAETS, G.; Jomar, R.; ABREU, A. M.; CAPELLA, M. Efeito da musicoterapia sobre o estresse de dependentes químicos. Revista Latino-Americana de Enfermagem, São Paulo, v. 27, n. e3115, 2019. INSS: 10.1590. DOI: https://doi.org/10.1590/1518-8345.2456.3115. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rlae/article/view/155689. Acesso em: 03 maio 2019. 

Contatos

Gunnar Glauco De Cunto Taets – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Departamento de Fundamentos do Cuidado de Enfermagem, Macaé, RJ. e-mail: oenfermeiro2007@hotmail.com

Rafael Tavares Jomar – Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Coordenação de Assistência, Rio de Janeiro, RJ.

Angela Maria Mendes Abreu – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery, Rio de Janeiro, RJ.

Marcia Alves Marques Capella – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Rio de Janeiro, RJ.

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