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A influência da música nos desenhos de Di Cavalcanti

Di  Cavalcanti, Emiliano (Rio de Janeiro 1897-1976) – “Sem Título”, 1934 – (cena de café-concerto). Nanquim e lápis de cor sobre papel  26.7 x 20.8 Foto: Nelson Kon, 1934 – Acervo MAC-USP, com agradecimentos à sra. Elizabeth Di Cavalcanti (filha do artista). Reprodução.

O artigo publicado na Revista USP destaca Di Cavalcanti e sua relação com o ambiente musical de sua época por meio dos desenhos do artista, os quais, segundo Leite e Oliveira, “revelam sua personalidade e todo o seu repertório poético”.  Os autores também ressaltam o traço “marcado pelo traço e pelos contornos que subjugaram a cor na composição de suas telas”.

Emiliano Di Cavalcanti, aos 17 anos, publicou ilustrações e caricaturas com foco na política e na charge social, fato que o levou a desenvolver-se como pintor: “Sua estreita ligação com as artes gráficas praticamente o conduziram à pintura e, mais tarde, ao Modernismo”. Ilustrador de livros de grandes escritores como Manuel Bandeira e Oscar Wilde, retratou, no desenho, a vida de personagens da noite paulistana, época em que integrou o grupo dos criadores da Semana de Arte Moderna de 1922 – ” foi o autor da capa e do catálogo do programa do evento”, participando ativamente no movimento que é um marco na história da arte brasileira, desprezando o academismo e optando pela linguagem vanguardista que mostrava os temas nacionais e a preocupação social do artista.

Di  Cavalcanti, Emiliano (Rio de Janeiro 1897-1976)  – “Sem Título”, 1950 – (casal com violão). Scraperboard sobre papel  50.2 x 29.71950 Foto: Romulo Fialdini, 1950 – Acervo MAC-USP, com agradecimentos à sra. Elizabeth Di Cavalcanti (filha do artista)

Engajado no Modernismo, Di Cavalcanti tratou de temas populares, como a vida nas favelas e as reivindicações do povo, tornando-se “um cronista da vida mundana carioca”, repleta de pescadores, músicos e o proletariado. A figura feminina se destaca em grande parte de seus desenhos, com tons de sensualidade, mistério, elegendo as mulatas “como musas e representantes da identidade brasileira”. Nesse contexto, cabe citar a frase dos autores: “o Brasil de Di Cavalcanti não era urbano, era, antes de tudo, suburbano”, e a mulher que ele retrata é “a mãe, a trabalhadora, a amante e a prostituta […] As mulatas, para Di Cavalcanti, tinham papel social: traduziam o Brasil e sua gente”.

Di  Cavalcanti, Emiliano (Rio de Janeiro 1897-1976) – Sem título –  [Figura Feminina ao Piano]. Grafite sobre papel  21.8 x 16.0 Foto:  Romulo Fialdini, 1942 – Acervo MAC-USP, com agradecimentos à sra. Elizabeth Di Cavalcanti (filha do artista)

Di Cavalcanti sempre primou pela arte figurativa, o que pode ser visto nos 564 desenhos e quatro telas em acervo no MAC-USP, atuando como uma ponte “entre a burguesia, os artistas e as classes subalternas”, tornando-se um dos mais representativos artistas do Museu. Leite e Oliveira ressaltam os 15 desenhos em sua maioria feitos a lápis, existentes no acervo do museu, relacionados ao universo musical vivenciado por Di Cavalcanti, que retratam instrumentos, cantores, grupos instrumentais que evidenciam sua preferência pelo samba, pelo choro e pelo carnaval de rua. Nesse contexto, o artigo cita Mário de Andrade: “Di Cavalcanti não confundiu o Brasil com paisagens; e em vez de Pão de Açúcar nos dá samba; em vez de coqueiros, mulatas, pretos e carnavais”.

Em síntese, Di Cavalcanti foi “um pintor solar, aberto, claro, sem mistério, mas que buscou sua fonte inspiradora nos encontros boêmios e no universo íntimo feminino”. Seus desenhos constituem uma espécie de relato de seu cotidiano, tratando de assuntos  universais, mas sempre a partir do regional brasileiro.  Segundo Leite e Oliveira, Di Cavalcanti foi, reconhecidamente, “um agente de transformação que traduziu a alma brasileira para sua arte engajada, de forma reflexiva e encantadora, e que lhe valeu o título de ‘pintor de nossa gente’ ”.

Artigo

LEITE, Edson; OLIVEIRA, Alecsandra Matias de. Desenhos de Di Cavalcanti: anotações musicais no acervo do MAC-USP. Revista USP, São Paulo, n. 114, p. 132-149, set. 2018. ISSN: 2316-9036. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i114p132-149. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/142373/137505>. Acesso em: 20 maio 2019. 

Contatos

Edson Leite – Professor titular do MAC-USP e do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte da USP.

Alecsandra Matias de Oliveira – Doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), especialista em cooperação e extensão pela USP.

Margareth Artur para o Portal de Revistas USP

 

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