ALGUNS DADOS EPIDEMIOLÓGICOS SÔBRE A MORTALIDADE POR DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS RESPIRATÓRIAS AGUDAS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO (COM UMA CRÍTICA SUCINTA A RESPEITO DA MORBIDADE E DA LETALIDADE)

Autores

  • Ary Walter Schmid

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2358-792X.v13i2p263-370

Resumo

A- GERAIS

1. Os caracteres epidemiológicos das doenças apresentam, sempre, um cunho local, de acôrdo com a estrutura epidemiológica de cada comunidade. Através da comparação dos estudos realizados em várias regiões, podem-se apontar os fatôres comuns a várias comunidades, e posteriormente generalizar as conclusões obtidas, Estabelecendo dêste modo a teoria ou filosofia geral das doenças, o que permite sugerir as medidas que devem ser tomadas para a sua profilaxia. A principal finalidade desta tese é a de contribuir, pela utilização dêste método, para que se tenham informações sôbre os caracteres epidemiológicos de algumas doenças no Município de São Paulo, possibilitando um melhor conhecimento sôbre a sua epidemiologia. 2. Os dados de estatística sanitária e os relativos aos censos registram um número insuficiente de informações sôbre as características individuais, limitando sobremaneira as indagações sôbre a ocorrência das doenças em relação aos vários atributos da população. 3. Os dados de mortalidade pelas várias causas costumam ser mais fidedignos dentre os de estatística vital, sendo as falhas limitadas às variações no conceito clínico das doenças, à melhoria gradativa no diagnóstico, às variações na classificação internacional de doenças e causas de morte e no critério usado para a classificação da causa primária do óbito. 4. Os dados de morbidade sofrem as restrições de todos conhecidas. No entanto, seu estudo é importante para que se tenha uma idéia sôbre a incidência das moléstias, principalmente no caso das muito benignas, em que a mortalidade é muito baixa, e por conseguinte não constitui boa estimativa de sua incidência.

 

B - MORTALIDADE

1. Os dados oficiais sôbre a mortalidade pelas várias causas no Município de São Paulo devem estar próximos da realidade, pois a assistência médica é relativamente boa, os cemitérios clandestinos são pràticamente inexistentes e a percentagem de óbitos por causas mal definidas e desconhecidas é muito baixa, especialmente a partir de 1930. 2. A mortalidade pelas doenças transmissíveis respiratórias agudas apresenta uma tendência nítida à diminuição no Município de São Paulo. Êste fato tem se observado em todo o mundo, em maior ou menor grau, e decorre de múltiplos fatôres, como a melhoria das condições de vida, menor aglomeração, evolução da medicina no tocante ao diagnóstico e tratamento, etc.3. Das doenças em estudo, o grupo das pneumonias é o que apresenta maior mortalidade, constituindo-se, portanto, em grande problema de Saúde Pública. Contudo, deve-se assinalar que muitos óbitos são classificados como devidos às pneumonias quando estas são apenas uma complicação final. Por isto, é necessário estudar melhor a epidemiologia das pneumonias, a fim de evitar, ao menos em parte, os óbitos por êste grupo de moléstias. 4. Entre nós, a maioria das doenças estudadas apresenta mortalidade máxima nos grupos etários inferiores, especialmente no de O a 4 anos. A gripe e a pneumonia exibem maiores coeficientes nesta idade e nos velhos. 5. Deve ser feita uma campanha sistemática de vacinação contra a coqueluche, a difteria e a varíola, para que se possam baixar os coeficientes de mortalidade por estas moléstias entre nós. Como êstes são muito elevados no primeiro ano de vida, e como grande parte dos óbitos ocorre em menores de seis meses, e mesmo em menores de 1 mês, a imunização deverá ser iniciada mais precocemente, de preferência em crianças de menos de três meses de idade, e mesmo em recém-nascidos. 6. Em sua maioria, as doenças estudadas apresentam maior mortalidade no sexo masculino que no feminino, o que é a norma no caso das moléstias transmissíveis. Fazem exceção a difteria, o sarampo e especialmente a coqueluche: nesta, o coeficiente é muito mais elevado no sexo feminino, o que é, aliás, clássico. 7. Nossos dados sugerem maior mortalidade por estas doenças no grupo dos pretos e pardos, seguindo-se os brancos e finalmente os amarelos. A interpretação dêstes dados é difícil, e o estudo que fizemos a respeito, nesta tese, deve ser considerado como preliminar. Há vários fatôres que podem estar alterando os coeficientes: o principal, a nosso ver, é a imperfeita Classificação dos indivíduos quanto à côr, tanto nos dados relativos aos censos como na declaração de óbito. 8. A maioria das doenças não apresentou uma variação sazonal típica no tocante à mortalidade. Embora o número de óbitos fôsse mais elevado, em geral, nos meses mais frios do ano, a diferença entre o número de óbitos nestes e nos meses de maior temperatura não foi de grande monta.

 

C - MORBIDADE E LETALIDADE

1. No Município de São Paulo, a notificação dos casos é muito incompleta, e tudo indica que a comunicação às autoridades sanitárias está se tornando ainda mais falha. Disto resulta ser urgentemente necessário incrementar a notificação dos casos de doenças transmissíveis entre nós. 2. Segundo os dados oficiais, a morbidade pelas doenças transmissíveis respiratórias agudas apresenta, neste município, uma tendência franca à diminuição. 3. A letalidade relativa aos casos notificados segue também a mesma tendência, o que deve ser devido, em grande parte, ao uso de quimioterápicos e antibióticos no tratamento específico das doenças e de suas complicações.

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Publicado

1959-12-01

Edição

Seção

Não Definida

Como Citar

ALGUNS DADOS EPIDEMIOLÓGICOS SÔBRE A MORTALIDADE POR DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS RESPIRATÓRIAS AGUDAS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO (COM UMA CRÍTICA SUCINTA A RESPEITO DA MORBIDADE E DA LETALIDADE). (1959). Arquivos Da Faculdade De Higiene E Saúde Pública Da Universidade De São Paulo, 13(2), 263-370. https://doi.org/10.11606/issn.2358-792X.v13i2p263-370