“Susana e os velhos” em questão: um episódio bíblico, suas representações e relações com o governo da justiça no Antigo Regime (séculos XVI-XVII)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1982-02672021v29e22

Palavras-chave:

Susana e os velhos, Representações do poder, Justiça régia

Resumo

A partir do episódio bíblico conhecido por “Susana e os velhos”, que consta no livro de Daniel, este artigo propõe um conjunto de questões para discutir as razões pelas quais essa história foi tão representada por pintores, sobretudo entre meados do século XVI e a centúria seguinte, em diversas regiões da Europa. O argumento axiológico é o de que esse episódio estabelece relações estreitas com o exercício da justiça e do direito régio, exatamente em uma conjuntura em que as monarquias europeias buscavam não apenas conferir centralidade ao governo da justiça, mas também instrumentalizar a arte como tecnologia potencial para suas soluções de lidimidade e de conservação. No plano conclusivo, o artigo sustenta a ideia de que o episódio era manipulado, na esfera moralizante, para disciplinar comportamentos sociais, sobretudo de mulheres; enquanto, na esfera jurídica, para ferir a legitimidade da aplicação de justiças sumárias ou particulares, fortalecendo a primazia de um direito régio.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Fernanda Deminicis de Albuquerque, Universidade Federal Fluminense

    Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH-UFF). Mestre pelo Programa de Artes & Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). E-mail: fernanda.deminicis@gmail.com

  • Marcello José Gomes Loureiro, Universidade Federal Fluminense

    Doutor em História e Civilização pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) e doutor
    em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHIS-UFRJ). Pós-doutor em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH-UFF). E-mail: marcelloloureiro@yahoo.com.br

Referências

FONTES IMPRESSAS

BÍBLIA. São Paulo: Paulus, 1990. p. 1162-1164.

BLUTEAU, Raphael. Vocabulario Portuguez e Latino […]. Diversos volumes. Coimbra: Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1728.

VIEIRA, António. Obra completa do padre António Vieira. Direção de José Eduardo Franco e Pedro Calafate. Tomo II. Volume XI. São Paulo: Loyola, 2015.

LIVROS, ARTIGOS E TESES

ANTUNES, Álvaro de Araújo. As paralelas e o infinito: uma sondagem historiográfica acerca da história da justiça na América portuguesa. Revista de História, São Paulo, n. 169, p. 21-52, jul./dez. 2013.

ARGAN, Giulio Carlo. Clássico Anticlássico: o Renascimento de Brunelleschi a Bruegel. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

BARTH, Fredrik. Process and form in social life. London: Routledge & Kegan Paul, 1981.

BAXANDALL, Michael. Padrões de intenção: a explicação histórica dos quadros. São Paulo: Cia das Letras, 2006.

BICALHO, Maria Fernanda. As Tramas da Política: Conselhos, secretários e juntas na administração da monarquia portuguesa e de seus domínios ultramarinos. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Fátima (orgs.). A Trama das Redes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 2010. p. 343-371.

BICALHO, Maria Fernanda; ASSIS, Virgínia; MELLO, Isabele de Matos. Introdução. In: BICALHO, Maria Fernanda; ASSIS, Virgínia; MELLO, Isabele de (orgs.). Justiça no Brasil Colonial: agentes e práticas. São Paulo: Alameda, 2017. p. 1-21.

BILOU, Francisco. A Igreja de São Francisco e o Paço Real de Évora. Lisboa: Edições Colibri, 2014.

BOUCHERON, Patrick; BRIOIST, Pascal; CARRANGEOT, Delphine; TRAVERSIER, Mélanie. Le Prince et les Arts: France, Italie XIV-XVIII siècles. Neully: Atlande, 2010.

BOUZA, Fernando. Del Escribano a la biblioteca: la civilización escrita europea en la alta Edad Moderna (siglos XV-XVII). Madrid: Akal, 2018.

BRAUDEL, Fernand. O modelo italiano. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

BROWN, Jonathan. Felipe IV como mecenas y coleccionista. In: COBOS, Andrés. El palacio del Rey Planeta: Felipe IV y el Buen Retiro. Madrid: Museo Nacional del Prado, 2005. p. 44-62.

CACHO, Maria Teresa. Éduquer pour le silence. In: MERLE, Alexandra; GUILLAUME-ALONSO, Araceli (orgs.). Les vois du silence dans l’Espagne des Habsbourg. Paris: PUPS, 2013. p. 123-136.

CALAFATE, Pedro. Da origem popular do poder ao direito de resistência: doutrinas políticas no Portugal do século XVII. Lisboa: Esfera do Caos, 2012.

CANTARINO, Elena. Du silence de la raison aux raison du silence. Considérations pour une théorie du silence à l’époque baroque. In: MERLE, Alexandra; GUILLAUME-ALONSO, Araceli (orgs.). Les vois du silence dans l’Espagne des Habsbourg. Paris: PUPS, 2013. p. 83-103.

CARDIM, Pedro. Portugal y la Monarquía Hispánica. Madrid: Marcial Pons, 2017.

CERUTTI, Simona. Normes et pratiques, ou de la legitimité de leur opposition. In: LEPETIT, Bernard (ed.). Les formes de l’expérience: une autre histoire sociale. Paris: Albin Michel, 1995. p. 127-149.

CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 2002.

CHASTEL, André. Il gesto nell’arte. Roma: Laterza, 2010.

COSENTINO, Francisco Carlos. Governadores Gerais do Estado do Brasil (séculos XVI-XVII): ofício, regimentos, governação e trajetórias. São Paulo: Annablume, 2009.

COTTRET, Monique. Tuer le tyran? : le tyrannicide dans l’Europe moderne. Paris: Fayard, 2009.

FOSSI, Gloria. Galleria degli Uffizi: arte, storia, collezioni. Firenze: Giunti, 2017.

HESPANHA, António Manuel. A Monarquia: a legislação e os agentes. In: MONTEIRO, Nuno Gonçalo (org.). História da Vida Privada em Portugal. A Idade Moderna. Lisboa: Temas e Debates; Círculo de Leitores, 2011. p. 12-31.

HESPANHA, António Manuel. Caleidoscópio do Antigo Regime. São Paulo: Alameda, 2012.

KRYNEN, Jacques. L’empire du roi: idées et croyances politiques en France (XIIIe-XVe). Paris: Gallimard, 1993.

MAROI, Fulvio. Riflessi di diritto nelle arti classiche figurative. Modena: Società Tipografica Modenese, 1927.

MARTIRÉ, Eduardo. Las Audiencias y la Administración de Justicia en las Indias: de iudex perfectus al judex solutus. Buenos Aires: Historica, 2009.

MONTEIRO, Rodrigo Bentes. Aparente e essencial. Sobre a representação do poder na Época Moderna. In: SOUZA, Laura de Mello e; FURTADO, Júnia; BICALHO, Fernanda (orgs.). O governo dos povos. São Paulo: Alameda, 2009. p. 519-538.

PAIVA, José Pedro. O Estado na Igreja e a Igreja no Estado: contaminações, dependências e dissidência entre o Estado e a Igreja em Portugal (1495-1640). Revista Portuguesa de História, Coimbra, t. XL, p. 383-397, 2009.

PEREIRA, Paulo. História da arte portuguesa. Lisboa: Temas e Debates, 1995. v. 2.

PRODI, Paolo. Uma história da Justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

SABATIER, Gérard. Le prince et les arts: stratégies figuratives de la monarchie française de la renaissance aux lumières. Seyssel: Champ Vallon, 2010.

SANTAMARIA, Jean-Baptiste. Le secret du prince: gouverner par le secret: France, Bourgogne XIIIe-XVIe siècle. Ceyzérieu: Champ Vallon, 2018.

SCHELLING, Friedrich Wilhelm Joseph. Filosofia da arte. São Paulo: Edusp, 2001.

SENELLART, Michel. As artes de governar. São Paulo: 34, 2006.

VEIGA, Bernardo. A ética das virtudes segundo Tomás de Aquino. Campinas: Ecclesiae, 2017.

WELCH, Evelyn. Art in Renaissance Italy. Oxford: Oxford University Press, 2000.

XAVIER, Ângela Barreto; HESPANHA, António Manuel. A Representação da sociedade e do poder. In: HESPANHA, António Manuel (org.). História de Portugal. O Antigo Regime (1620-1807). Lisboa: Círculo dos Leitores, 1993. p. 121-145.

SITE

DESSINS de la Renaissance: Artistes et Commanditaires. Bibliothèque Nationale de France, Paris, 10 abr. 2004. Disponível em: <https://bit.ly/3gqF1SU>. Acesso em: 2 set. 2019.

Downloads

Publicado

2021-06-14

Edição

Seção

Estudos de Cultura Material

Dados de financiamento

Como Citar

ALBUQUERQUE, Fernanda Deminicis de; LOUREIRO, Marcello José Gomes. “Susana e os velhos” em questão: um episódio bíblico, suas representações e relações com o governo da justiça no Antigo Regime (séculos XVI-XVII). Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, v. 29, p. 1–28, 2021. DOI: 10.1590/1982-02672021v29e22. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/174994.. Acesso em: 8 maio. 2024.