Quilombos, política federal de patrimônio e reparação

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1982-02672020v28d2e57

Palavras-chave:

Quilombo, Políticas de patrimônio, Reconhecimento social, Reparação

Resumo

Considerando pedidos de reparação como solicitações de reconhecimento, é possível pensar em políticas governamentais de patrimônio como esferas que articulam reconhecimento cultural e jurídico-político e mobilizam dinâmicas que ligam Estado, sociedade civil e comunidades detentoras de patrimônio. A constituição de um patrimônio afro-brasileiro nos anos 1980, por meio do tombamento da Serra da Barriga – considerada o local do Quilombo dos Palmares, no século XVII –, teve importante papel de incorporar a dimensão
cultural e jurídico-política do reconhecimento, influenciando na dimensão de reparação que
a categoria “quilombo” ganhou na Constituição Federal de 1988. Posteriormente, a partir do
ordenamento jurídico constitucional, com a criação da categoria “comunidade remanescente de quilombo” e a ampliação dos instrumentos utilizados para identificação e reconhecimento
de patrimônios culturais pelo Estado, as políticas e narrativas patrimoniais puderam reconhecer mais do que o desrespeito histórico da escravidão e a posição subalterna dos afrodescendentes na sociedade brasileira. Estas também permitiram o reconhecimento de formas de organização social e cultural específicas que, nesse caso, geram a designação particular “quilombola”.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Joseane Paiva Macedo Brandão, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

    Bacharel e mestre em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e doutora
    em Sociologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), tendo realizado doutorado-sanduíche no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal). Atualmente é docente do Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no Centro Lucio Costa (RJ).

Referências

FONTES IMPRESSAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA. Documento do Grupo de Trabalho sobre comunidades negras rurais no encontro realizado em 17/18 outubro de 1994 – ABA/Rio de Janeiro. Brasília, DF: ABA, 1994.

BOLETIM SPHAN/PRÓ-MEMÓRIA. Brasília, DF: Fundação Nacional Pró-Memória, n. 12, 1981a.

BOLETIM SPHAN/PRÓ-MEMÓRIA. Brasília, DF: Fundação Nacional Pró-Memória, n. 15, 1981b.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Processo de Tombamento nº 1.069-T-82: Serra da Barriga, Quilombo dos Palmares. Arquivo Noronha Santos. Rio de Janeiro: Iphan, 1982.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Processo de Tombamento nº 1.352-T-95: Quilombo de Frechal/Frexal/Flexal. Arquivo Noronha Santos. Rio de Janeiro: Iphan, 1995a.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Processo de Tombamento nº 1.353-T-95: Quilombos de Oriximiná. Arquivo Noronha Santos. Rio de Janeiro: Iphan, 1995b.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Processo de Tombamento nº 1.428-T-98: Quilombo de Ambrósio. Arquivo Noronha Santos. Rio de Janeiro: Iphan, 1998.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Ata da 117ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Brasília, DF: Iphan, 1985.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Ata da 25ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, Brasília, DF: Iphan, 2000.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Processo Iphan nº 01450.004794/2014-59: solicitação de registro do Sistema Agrícola Tradicional Quilombola do Vale do Ribeira, SP. Brasília, DF: Iphan, 2014.

LIVROS, ARTIGOS E TESES

ABREU, Marta. Cultura imaterial e patrimônio histórico nacional. In: Cultura Política e leituras do passado: historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Terra de quilombo, terras indígenas, “babaçuais livre”, “castanhais do povo”, faixinais e fundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas. Manaus: Ufam, 2008.

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

ANDRADE, Anna Maria et al. Sistema Agrícola Tradicional Quilombola do Vale do Ribeira, SP. In: EIDT, Jane Simoni; UDRY, Consolacion (eds.). Sistemas Agrícolas Tradicionais do Brasil. Brasília, DF: Embrapa, 2019. p. 55-92.

ARANTES, Antônio Augusto. Introdução: cultura e cidadania. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, DF, n. 24, p. 9-13, 1996.

ARRUTI, José Maurício. Diferenciar, redistribuir, reconhecer: ensaio de atualização dos debates sobre terra e educação para quilombos. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 20, p. 285-294, 2011.

BRASIL. Lei nº 7.668, de 22 de agosto de 1988. Autoriza o Poder Executivo a constituir a Fundação Cultural Palmares – FCP e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, p. 160025, 23 ago. 1988a. Disponível em: <https://bit.ly/3oDIIt7>. Acesso em: 6 nov. 2020.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988b. Disponível em: <https://bit.ly/3oDIIt7>. Acesso em: 6 nov. 2020.

BRASIL. Decreto nº4.887, de 20 de novembro de 2003. Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Diário Oficial da União, Brasília, DF, p. 4, 21 nov. 2003.

BRESSIANI, Nathalie. Redistribuição e reconhecimento: Nancy Fraser entre Jürgen Habermas e Axel Honneth. Caderno CRH, Salvador, v. 24, n. 62, p. 331-352, 2011

CAMPOS, Yussef Daibert Salomão de. Desafios propostos pela Constituição de 1988 ao patrimônio cultural. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, DF, n. 35, p. 203-211, 2017.

CAMPOS, Yussef Daibert Salomão de. Os conceitos de lugar e território na composição do patrimônio cultural: quilombos e terras indígenas na Constituição Federal brasileira. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 10, n. 25, p. 99-114, 2018.

CARVALHO, Luciana Gonçalves de. Aporias da proteção do patrimônio cultural e natural de uma comunidade de remanescente de quilombo na Amazônia. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, DF, n. 37, p. 211-231, 2018.

CHEIBUB, Michelle de Carvalho. Patrimônio cultural e comunidades remanescentes de quilombos: direitos culturais e instrumentos de proteção do Iphan. 2015. Dissertação (Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural) – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, DF, 2015.

CHUVA, Márcia. Fundando a nação: a representação de um Brasil barroco, moderno e civilizado. Topoi, Rio de Janeiro, v. 4, n. 7, p. 313-333, 2003.

CHUVA, Márcia. Possíveis narrativas sobre duas décadas de patrimônio: de 1982 a 2002. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, DF, n. 35, p. 79-103, 2017.

CICALO, André. Uma voz para o passado: a construção de patrimônio da escravidão na região portuária do Rio de Janeiro. In: MATTOS, Hebe (org.). História oral e comunidades: reparações e culturas negras. São Paulo: Letra e Voz, 2016. p. 49-70.

DOMINGUES, Petrônio; GOMES, Flávio. Histórias dos quilombos e memórias dos quilombolas no Brasil: revisitando um diálogo ausente na Lei 10.639/03. Revista da ABPN, Goiânia, v. 5, n. 11, p. 5-28, 2013.

FONSECA, Maria Cecília Londres. Da modernização à participação: a política federal de preservação nos anos 70 e 80. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, DF, n. 24, p. 153-164, 1996.

FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005.

FRASER, Nancy. Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça numa era “pós-socialista”. Tradução de Júlio Assis Simões. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 14/15, p. 231-239, 2006.

GONÇALVES, José Reginaldo. A retórica da perda: os discursos do patrimônio cultural no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.

GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Democracia racial: o ideal, o pacto e o mito. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n. 61, p. 147-162, 2001.

HEYMANN, Luciana; ARRUTI, José Mauricio. Memória e reconhecimento: notas sobre as disputas contemporâneas pela gestão da memória na França e no Brasil. In: GONÇALVES, Márcia de Almeida et al. (orgs.). Qual o valor da história hoje? Rio de Janeiro: FGV, 2012. p. 96-119.

HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence. A invenção das tradições. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2012.

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. Tradução de Luiz Repa. São Paulo: Editora 34, 2003.

LIMA, Antonio Carlos de Souza; CASTRO, João Paulo Macedo. Notas para uma abordagem antropológica da(s) política(s) pública(s). Revista Anthropológicas, Recife, v. 26, n. 2, p. 17-54, 2015.

MATTOS, Hebe. Introdução. In: MATTOS, Hebe (org.). História oral e comunidades: reparações e culturas negras. São Paulo: Letra e Voz, 2016. p. 7-14..

MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. O campo do patrimônio cultural: uma revisão de premissas. In: INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. I Fórum Nacional do Patrimônio Cultural: Sistema Nacional de Patrimônio Cultural: desafios, estratégias e experiências para uma nova gestão, Ouro Preto/MG, 2009. Brasília, DF: Iphan,

v. 1, p. 25-39.

NOGUEIRA, Antonio Gilberto Ramos. Diversidade e sentidos do patrimônio cultural: uma proposta de leitura da trajetória de reconhecimento da cultura afro-brasileira como patrimônio nacional. Anos 90, Porto Alegre, v. 15, n. 27, p. 233-255, 2008.

REZENDE, Maria Beatriz; GRIECO, Bettina; TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON, Analucia. Secretaria e Subsecretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: 1979-1990. In: REZENDE, Maria Beatriz; GRIECO, Bettina; TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON, Analucia (orgs.). Dicionário Iphan de patrimônio cultural. Rio de Janeiro: Copedoc/Iphan, 2015. Verbete.

Disponível em: <https://bit.ly/354SAEl>. Acesso em: 6 nov. 2020.

SAILLANT, Francine. Reconhecimento e reparações: o exemplo do movimento negro no Brasil. In: MATTOS, Hebe (org.). História oral e comunidades: reparações e culturas negras. São Paulo: Letra e Voz, 2016. p. 17-48.

SERRA, Ordep José Trindade. Monumentos negros: uma experiência. Afro-Ásia, Salvador, n. 33, p. 169-205, 2005.

THOMPSON, Analucia. Campo cultural e contexto histórico: nomes do Iphan. In: Motta, Lia (org.). Um panorama do campo da preservação do patrimônio cultural. Rio de Janeiro: Copedoc/Iphan, 2015. p. 9-78. (Caderno de Estudos do PEP/MP, 9).

VAZ, Beatriz Accioly. Quilombos. In: GRIECO, Bettina; TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON, Analucia (orgs.). Dicionário Iphan de patrimônio cultural. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Copedoc/Iphan, 2016. Verbete. Disponível em: <https://bit.ly/3p2HbwX>. Acesso em: 6 nov. 2020.

VELHO, Gilberto. Antropologia e patrimônio cultural. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 20, p. 37-39, 1984.

VELHO, Gilberto. Patrimônio, negociação e conflito. Mana [online]. vol.12, n.1. p.237-248, 2006.

SITES

ABDIAS Nascimento. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de arte e cultura brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Verbete. Disponível em: <https://bit.ly/3l568oV>. Acesso em: 15 jul. 2020.

FREIRE, Jacqueline. Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros comemora 33 anos durante Caiite 2015. Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 12 jun. 2015. Disponível em: <https://bit.ly/2IfW2D5>. Acesso em: 16 jan. 2020.

JOEL, Rufino dos Santos. Global Editora, São Paulo, 29 set. 2018. Disponível em: <https://bit.ly/354kmks>. Acesso em: 20 dez. 2019.

O QUE SÃO ações afirmativas? Gemaa, Rio de Janeiro, 24 ago. 2011. Disponível em: <https://bit.ly/38q4o66>. Acesso em: 10 jan. 2020.

Downloads

Publicado

2020-12-14

Edição

Seção

ECM/Dossiê: Democracia, Patrimônio e Direitos: a década de 1980 em perspectiva

Como Citar

BRANDÃO, Joseane Paiva Macedo. Quilombos, política federal de patrimônio e reparação. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, v. 28, p. 1–29, 2020. DOI: 10.1590/1982-02672020v28d2e57. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/165856.. Acesso em: 19 abr. 2024.