Políticas da indigestão (Antropofagia revisitada)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2178-0447.ars.2022.197334

Palavras-chave:

Antropofagia, Denilson Baniwa, Tarsila do Amaral, João Loureiro, Lyz Parayzo

Resumo

A antropofagia, no contexto brasileiro dos anos 1920, foi elaborada a partir da ideia de uma devoração de referências externas como estratégia defensiva contra a dominação cultural. Consistiu na assimilação crítica de elementos heterogêneos, pois implicava escolha, edição e transformação. Indigestão, por sua vez, sugere que a antropofagia é um conceito potencialmente mistificador e, portanto, problemático. A partir de alguns estudos de caso, esta reflexão visa retraçar brevemente algumas das tensões históricas e atuais da antropofagia, tomando qualquer consenso como falso, pois oculta os conflitos em sua aparência de sociabilidade homogênea e dócil, como as forças da miscigenação (no debate sociopolítico dos anos 1920) e da globalização (na atualidade) buscam produzir.

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Biografia do Autor

  • Luiz Renato Montone Pera, Universidade de São Paulo

    Luiz Renato Montone Pera é artista, pesquisador e docente. Doutor, Mestre (ambos sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Claudio Mubarac) e Bacharel em Artes Plásticas pela Universidade de São Paulo, foi, também, pesquisador visitante do programa de pós-graduação da Technological University Dublin, sob supervisão da Profa. Dra. Niahm O’Malley (Irlanda, 2018). Recebeu bolsas da CAPES/CNPQ (2019-2021), Government of Ireland International Education Scholarship (2018) e FAPESP (2015-2016). Foi premiado por seus projetos artísticos no 42 Salão Nacional de Arte de Ribeirão Preto (2017), 24 Visualidade Nascente (2016), Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais (2012) e VI Encontro de Artes de Atibaia (2007). Recebeu indicações ao Prêmio PIPA em 2017 e 2014. Participou das residências artísticas Museu Sem Paredes (Museu de Arte do Espírito Santo, 2021), Red Bull House of Art (São Paulo, 2011) e Programa de Residencias Artísticas Para Creadores de Iberoamérica y Haití en México (2010). Desde 2018, é docente no curso de Artes Visuais da FMU, em São Paulo.

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Publicado

2022-08-31

Edição

Seção

Chamada aberta | Modernidade Brasileira

Como Citar

Políticas da indigestão (Antropofagia revisitada). (2022). ARS (São Paulo), 20(45), 470-516. https://doi.org/10.11606/issn.2178-0447.ars.2022.197334