Tentando não afundar na lama: impasses da modernidade brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2178-0447.ars.2022.205227

Palavras-chave:

Arquitetura, Modernismo, Projeto, Construtivismo, Brutalismo

Resumo

A arquitetura desempenhou um papel fundamental na modernidade brasileira. Inequivocamente moderna, não carregava os resíduos de primitivismo e nacionalismo que tanto marcaram nossa pintura e literatura. E se a arquitetura de Oscar Niemeyer sublima seus materiais e os esforços estruturais, o brutalismo da Escola Paulista afirma o materialismo dialético, acentuando o peso ao invés da leveza, procurando antecipar na forma um desenvolvimento infraestrutural do país. Com o retorno da democracia no Brasil, Paulo Mendes da Rocha realiza uma arquitetura que alegoriza aquele desenvolvimento pretendido, atestando sua falta de chão histórico. Característica que nos permite aproximar sua arquitetura das esculturas de Amilcar de Castro, em que a ferrugem transmite uma morosidade mineral à clareza geométrica, problematizando seu construtivismo de base.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Guilherme Wisnik, Universidade de São Paulo

    Guilherme Wisnik é professor Livre-Docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Autor de livros como Lucio Costa (Cosac Naify, 2001), Estado crítico: à deriva nas cidades (Publifolha, 2009), Dentro do nevoeiro: arte, arquitetura e tecnologia contemporâneas (Ubu, 2018) e Lançar mundos no mundo: Caetano Veloso e o Brasil (Fósforo, 2022). Publicou ensaios em diversos livros e revistas, tais como Artforum, Architectural Design, Domus, Arquitectura Viva, AV Monografías, 2G, Rassegna, Arch +, Baumeister, Urban China, Plot e Monolito. Foi curador das exposições “Cildo Meireles: rio oir” (Itaú Cultural, 2011), “Pedra no céu: arte e a arquitetura de Paulo Mendes da Rocha” (Museu Brasileiro da Escultura, 2017, com Cauê Alves), “Ocupação Paulo Mendes da Rocha” (Itaú Cultural, 2018) e “Infinito vão: 90 anos de arquitetura brasileira” (Casa da Arquitectura de Portugal, 2018, com Fernando Serapião). Foi o Curador Geral da 10a Bienal de Arquitetura de São Paulo (2013).

Referências

ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

ARTIGAS, Vilanova. A função social do arquiteto – quarta arguição [1984]. In Caminhos da arquitetura. São Paulo: Cosac Naify, 2004a, p. 186-231.

ARTIGAS, Vilanova. Sobre escolas [1970]. In Caminhos da arquitetura. São Paulo: Cosac Naify, 2004b, p. 122-131.

ARTIGAS, Vilanova. Tradição e ruptura [1984]. In Caminhos da arquitetura. São Paulo: Cosac Naify, 2004c, p. 174-182.

ARTIGAS, Vilanova. Uma falsa crise [1965]. In Caminhos da arquitetura. São Paulo: Cosac Naify, 2004d, p. 102-107.

BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo: vértice e ruptura do projeto construtivo brasileiro. São Paulo: Cosac Naify, 2000.

BRITO, Ronaldo. Tempo do espaço. In Amilcar de Castro. São Paulo: Takano Editora, 2001, p. 37-55.

BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.

CANDIDO, Antonio. Literatura e cultura de 1900 a 1945 (panorama para estrangeiros). In Literatura e sociedade – estudos de teoria e história literária. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1965, p. 109-138.

CARDOZO, Joaquim. Le chant architectonique de Niemeyer. NIEMEYER, Oscar. Oscar Niemeyer. Belmont-sur-Lausanne: Editions Alphabet, 1977.

CASTRO, Amilcar de. Gestos livres delimitam espaços exatos. Entrevista concedida a Angélica de Moraes. O Estado de S. Paulo, 14 out. 1995, p. D4.

DAMISCH, Hubert. Prólogo a la edición francesa. Ledoux con Kant. In KAUFAMANN, Emil Kaufmann. De Ledoux a Le Corbusier: origen y desarollo de la arquitectura autónoma. Barcelona: Gustavo Gili, 1982.

DUARTE, Paulo Sergio. Amilcar de Castro ou a aventura da coerência. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, vol. 3, n. 28, out. 1990, p. 152-158.

GARCIA, Walter. Bim bom: a contradição sem conflitos de João Gilberto. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

GIEDION, Siegfried. O Brasil e a arquitetura contemporânea [1952]. In MINDLIN, Henrique. Arquitetura moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999, p. 17-18.

GREENBERG, Clement. Arte e cultura: ensaios críticos. São Paulo: Ática, 1996.

GULLAR, Ferreira. Lições de Arquitetura. In Toda poesia (1950-1999). Rio de Janeiro: José Olympio, 2001, p. 301.

GULLAR, Ferreira. Teoria do não-objeto [1959]. In AMARAL, Aracy (org). Projeto construtivo na arte: 1950-1962. Rio de Janeiro/São Paulo: Museu de Arte Moderna, Pinacoteca do Estado, 1977 p. 85-94.

LE CORBUSIER. Precisões. São Paulo: Cosac Naify, 2004, p. 229 (grifo meu).

LISPECTOR, Clarice. Brasília. In Visão do esplendor. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975, p. 9-15.

MAMMÌ, Lorenzo. João Gilberto e o projeto utópico da bossa nova. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, vol. 3, n. 34, nov. 1992, p. 63-70.

MAMMÌ, Lorenzo. Noites brancas. In RAMOS, Nuno. Noites brancas. São Paulo: Casa da Imagem, 2002, p. 5-21.

MARTINS, Luiz Renato. Amilcar no MuBE (parte I). A terra é redonda, 7 jun. 2021a. Disponível em: https://aterraeredonda.com.br/amilcar-no-mube/?doing_wp_cron=1625493180.6640999317169189453125. Acesso em: 3 dez. 2022.

MARTINS, Luiz Renato. Amilcar de Castro no MuBE (parte II). A terra é redonda, 5 jul. 2021b. Disponível em: https://aterraeredonda.com.br/amilcar-de-castro-no-mube/?utm_term=2021-07-05&doing_wp_cron=1627478052.8173820972442626953125. Acesso em: 3 dez. 2022.

NAVES, Rodrigo. Da dificuldade de forma à forma difícil. In A forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 15-41.

NAVES, Rodrigo. Amilcar de Castro: matéria de risco. In A forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 233-259.

NIEMEYER, Oscar. Depoimento. Módulo, n. 9, Rio de Janeiro, fev. 1958, p. 3-6.

OITICICA, Hélio. Programa ambiental [1966]. In Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Centro de Arte Hélio Oiticica, p. 103-105.

PEDROSA, Mário. A arquitetura moderna no Brasil. In Arquitetura: ensaios críticos / Organização, prefácio e notas de Guilherme Wisnik. São Paulo: Cosac Naify, 2015, p. 61-73.

RAMOS, Nuno. O ferro futuro (Amilcar de Castro). In Ensaio geral: projetos, roteiros, ensaios, memória. São Paulo: Globo, 2007, p. 167.

ROCHA, Paulo Mendes da. Edifícios escolares: comentários. Acrópole, São Paulo, n. 377, set. 1970, p. 35.

ROCHA, Paulo Mendes da. Genealogia da imaginação. In ARTIGAS, Rosa (org.). Paulo Mendes da Rocha: projetos 1957-1999. São Paulo: Cosac Naify, 2000, p. 69-73.

ROCHA, Paulo Mendes da. Arquitetura como uma forma peculiar de mobilizar o conhecimento (Entrevista a Marta Bogéa). In WISNIK, Guilherme (org.). Paulo Mendes da Rocha. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2012, p. 98-111.

ROCHA, Paulo Mendes da. MuBE 02: concepção arquitetônica. https://www.youtube.com/watch?v=bZ4ZN3kqOGQ.

ROSCOE, ALLEN. Espetáculo, simples e forte, entrevista com Allen Roscoe. In WISNIK, Guilherme; CASTRO, Rodrigo de (orgs.). Na dobra do mundo: Amilcar de Castro no MuBE de Paulo Mendes da Rocha. São Paulo: MuBE, 2021, p. 120-137.

ROWE, Colin. The Mathematics of the Ideal Villa: Palladio and Le Corbusier Compared. The Architectural Review, n. 101, mar. 1947, p. 101-104.

SCULLY Jr., VINCENT. Arquitetura moderna: a arquitetura da democracia. São Paulo: Cosac Naify, 2002.

TELLES, Sophia Silva. O desenho: forma e imagem. Arquitetura e Urbanismo – AU, São Paulo, n. 55, 1994, p. 91-95.

TELLES, Sophia Silva. A arquitetura como ação. Folha de S. Paulo, Jornal de Resenhas, 9 mai. 1998.

VELOSO, Caetano. Diferentemente dos americanos do norte, In O mundo não é chato. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 42-73.

WISNIK, Guilherme; WISNIK, José Miguel; NIKITIN, Vadim. Polis cósmica e caótica: cosmopolitismo em Caetano Veloso. Caramelo, São Paulo, n. 7, GFAU, 1994, p. 78-93.

WISNIK, Guilherme. Oscar Niemeyer: intuição trágica e repouso In Estado crítico: à deriva nas cidades. São Paulo: Publifolha, 2009, p. 180-185.

WISNIK, Guilherme. Prefácio. In Mário Pedrosa: arquitetura: ensaios críticos / Organização, prefácio e notas de Guilherme Wisnik. São Paulo: Cosac Naify, 2015, p. 7-28.

Downloads

Publicado

2022-12-31

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Tentando não afundar na lama: impasses da modernidade brasileira. (2022). ARS (São Paulo), 20(46), 24-74. https://doi.org/10.11606/issn.2178-0447.ars.2022.205227