O Carbonatito de Jacupiranga

Autores

  • Geraldo Conrado Melcher Universidade de São Paulo. Faculdade Filosofia, Ciências e Letras. Departamento Geologia e Paleontologia

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2526-3862.bffcluspgeologia.1965.121895

Resumo

O distrito alcalino de Jacupiranga constitui ocorrência brasileira clássica de rochas alcalinas e ultrabásicas. Descrito pela primeira vez por Derby e Hussak, muitas outras referências foram depois feitas à ocorrência, principalmente por Daly e Shand. A geologia geral das rochas alcalinas e ultrabásicas foi resumida por Melcher (1954) No presente trabalho os carbonatitos do morro da Mina são estudados em detalhe. A figura 1 mostra a localização de Cajati, pequena vila no município de Jacupiranga. A posição do morro da Mina, 2 km ao norte de Cajati, e suas relações com as rochas alcalinas do distrito são mostradas na figura 2. As rochas encaixantes dos carbonatitos são exclusivamente jacupiranguitos, descritos pela primeira vez por Derby (1891) Em sua descrição original, Derby referiu-se a rochas ígneas alcalinas constituídas essencialmente de titano-augita* magnetita, nefelina e biotita. A conveniência de restringir o têrmo original a rochas com êsses minerais em proporções, definidas foi discutidas por Melcher (1954) Os carbonatitos ocupam a parte elevada do morro da Mina, aflorando em área ovalada com diâmetros de 1 000 m e 400 m, respectivamente (figura 3) A elevação máxima da ocorrência é 225 m. Sondagens a diamante revelaram que os carbonatitos estendem-se a profundidade superior a 60 m abaixo do nível do mar A superfície do corpo de carbonatitos apresenta-se extremamente irregular, como conseqüência da dissolução diferencial dos carbonatos, principalmente ao longo de juntas radiais e concêntricas. O contacto entre jacupiranguitos e carbonatitos não mostra quaisquer indícios de metamorfismo ou metassomatismo. Nenhuma das rochas exibe modificações da composição mineralógica ou texturais nas proximidades do contacto. No interior do corpo carbonatítico são encontrados alguns xenólitos de jacupiranguito com diâmetros de um a dez metros. Ocorrem numerosos diques, constituídos essencialmente por carbonatos, apatita e magnetita, que em alguns casos exibem textura orientada e mais fina do que suas encaixantes. Os principais elementos estruturais do carbonatito são juntas, falhas, diques e texturas fluidais. Em seu conjunto, êsses elementos dispõe-se de maneira nitidam ente radial e concêntrica. Possivelmente essas estruturas correspondem a um corpo intrusivo com centro na parte sul da ocorrência (ponto A, figura 3), cortado por sua vez por intrusão posterior com centro na parte norte (ponto B) Algumas falhas foram observadas, porém seu rejeito não pôde ser verificado. O carbonatito é uma rocha branca, de granulação média a grossa. Em alguns afloramentos exibe textura orientada, mostrada pelo alinhamento dos acessórios escuros (fotos 5 e 6) Também a dolomita e a apatita podem estar alinhadas, sugerindo textura fluidal. Os minerais constituintes do carbonatito são calcita, dolomita, apatita, magnetita, forsterita, serpentina, clinohumita, flogopita, pirita, calcopirita, galena, ilmenita, espinélio, pirocloro, baddeleyita, barita e perovsquita. A apatita ocorre em pequenos cristais de forma ovóide, inclusos em indivíduos de carbonato, ou em agregados de cristais alongados, subparalelos (fotos 9 e 10) Provàvelmente trata-se de duas gerações. Magnetita e ilmenita encontram-se sempre intercrescidas, formando esta delgadas lamelas de exsolução ou indivíduos de formas irregulares. A magnetita contém teores relativamente elevados de MgO, Al2OlS e M n 0 2. Flogopita, forsterita e clinohumita ocorrem em cristais de alguns milímetros e formam concentrações locais no carbonatito. Foi observado um sulfeto não identificado, de estrutura semelhante à da pirrotita, contendo Fe, Mg, Ca e U O pirocloro ocorre em octaédros ou rombododecaédros amarelos a marron escuros com diâmetros de 0.1 a 1.0 mm. Sua densidade é 4.8, sendo elevado o teor em Ta (Nb: Ta = 4. 5:1) Baddeleyita constitui acessório raro e encontra-se sempre em delgadas placas, intercrescido com pirocloro. A figura 5 mostra a composição mineralógica de 25 amostras típicas de carbonatito. Cêrca de 80% das amostras da superfície do carbonatito contêm 5 a 15% de apatita e l a 4% de magnetita. A soma de todos outros acessórios raramente ultrapassa 1%. A distribuição de traços de pirocloro é mostrada na figura 6. Para a determinação da composição química foi estabelecida um a malha quadrática e colhidas mais de 400 amostras representativas na superfície do carbonatito. Os teores dos óxidos mais importantes, com exceção de CaO, são mostrados nas figuras 7, 8 e 9. Em comparação a outros carbonatitos, Jacupiranga é uma ocorrência relativamente pequena, de composição homogênea, com alta proporção de carbonatos e apatita, sendo excepcionalmente baixo o teor de outros acessórios. Numerosas feições, principalmente as estruturas e a constituição química e mineralógica, indicam que os carbonatitos são intrusivos nos jacupiranguitos encaixantes. Possivelmente trata-se de duas intrusões separadas, sendo a mais antiga, na parte sul, mais rica em fósforo e com teores mais baixos de magnésio do que a intrusão norte. Também as estruturas indicam que parte da primeira intrusão foi cortada posteriormente, ao norte. A lixiviação superficial dos carbonatos deu origem a um manto de minério apatítico residual com 22% P 2 O 3 e 26% Fe 2 O 3. As formas irregulares de superfície, resultantes da dissolução ao longo de juntas e falhas, controlaram em parte a acumulação dêsse minério residual (fotos 1, 2 e 3) O minério é beneficiado por lavagem e separação magnética, obtendo-se concentrados com 39-40% P 2 O 3 e um máximo de 2,5% Fe 2 O 3, que são utilizados na fabricação de fertilizantes. A recuperação da apatita do carbonatito não intemperizado está sendo investigada

Biografia do Autor

  • Geraldo Conrado Melcher, Universidade de São Paulo. Faculdade Filosofia, Ciências e Letras. Departamento Geologia e Paleontologia
    Professor de Prospecção e Aerofotogeologia

Downloads

Publicado

1965-12-01

Edição

Seção

não definida

Como Citar

O Carbonatito de Jacupiranga. (1965). Boletim Da Faculdade De Filosofia Ciências E Letras, Universidade De São Paulo. Geologia, 21, 5-70. https://doi.org/10.11606/issn.2526-3862.bffcluspgeologia.1965.121895