“Camarão que dorme a onda leva”: ponderações éticas sobre o trabalho de campo em contextos perigosos

Autores

  • Maycon Lopes Universidade Federal da Bahia, Bahia

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v26i1p385-407

Palavras-chave:

ética de pesquisa, trabalho de campo, etnografia, periferia

Resumo

A partir do relato de uma situação extrema – de violência e ameaça direta à vida – experimentada no curso de uma etnografia, pretendo neste texto abordar questões metodológicas e éticas mais amplas inerentes à dinâmica de trabalho de campo. Exploro, entre outros pontos, a introdução (neste caso, indevida) de dispositivos fotográficos durante a observação participante e os desdobramentos deste episódio na produção dos dados e na conformação da investigação de modo geral. Argumento que diante da violência que permeia a cidade contemporânea, e a que necessariamente – com níveis de risco variados – os estudiosos estão expostos nas chamadas pesquisas in loco em contextos marcados pela criminalidade (como favelas dominadas pelo tráfico de drogas), é fundamental discutirmos medidas que possam vir ao auxílio dos mesmos, seja para não comprometer a realização do estudo, seja, principalmente, para salvaguardar sua integridade física e psíquica.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Maycon Lopes, Universidade Federal da Bahia, Bahia

Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia, bolsista CNPq.

Referências

BIONDI, Karina. Uma ética que é disciplina: formulações conceituais a partir do ‘crime’ paulista. Revista Fevereiro - Política, Teoria, Cultura, [s.l.], v. 10, p. 304-319, 2018.

BOURGOIS, Philippe. Confronting anthropological ethics: ethnographic les-sons from Central America. Journal of Peace Research, London, v. 27, n. 1, p. 43-54, 1990.

CASTILLO, Lisa Earl. A fotografia e seus usos no candomblé da Bahia. Pon-tos de Interrogação, v. 3, n. 2, jul./dez. 2013. Disponível em: <https://www.revistas.uneb.br/ index.php/pontosdeint/article/view/1579/1040>. Acesso em: 10 out. 2015.

DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Políticas. In: ______. Diálogos. Lisboa: Relógio D’Água, 2004. p. 151-176.

EMERSON, Robert M.; FRETZ, Rachel I.; SHAW, Linda L. Writing ethno-graphic fieldnotes. Chicago; London: The University of Chicago Press, 2011.

FAVRET-SAADA, Jeanne. Ser afetado. Cadernos de Campo, São Paulo, v. 13, n. 13, p. 155-161, 2005.

FELTR AN, Gabriel de Santis. Trabalhadores e bandidos: categorias de nomea-ção, significados políticos. Te m á t i ca s, Campinas, v. 15, p. 11-50, 2007. Dis-ponível em: <http://neip.info/novo/ wp-content/uploads/ 2015/04/anexo--2-temticas.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2015.

FONTES, Larissa Yelena Carvalho. A dádiva do segredo: a negociação do segre-do ritual nas religiões afro-alagoanas. 2015. 122 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia) - Universidade Federal da Bahia, Salvador.

FRANÇA, Isadora Lins. Um mapa da pesquisa. In: ______. Consumindo luga-res, consumindo nos lugares: homossexualidade, consumo e subjetividades na cidade de São Paulo. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012. p. 25-73.

GAMA, Aline; PEIXOTO, Clarice. Identidades em movimento: uma etnogra-fia em contexto de violência. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 60, n. 3, p. 186-210, 2017.

GOLDMAN, Marcio. Alteridade e experiência: antropologia e teoria etnográ-fica. Etnográfica, Lisboa, v. 10, n. 1, p. 161-173, 2006.

GOLDSTEIN, Donna M. Perils of witnessing and ambivalence of writing: whiteness, sexuality, and violence in Rio de Janeiro shantytowns. In: HUGGINS, M. K.; GLEBBEEK, M-L. (Eds.). Women fielding danger: nego-tiating ethnographic identities in field research. New York: Rowman & Littlefield, 2009. p. 227-249.

INGOLD, Tim. Chega de etnografia! A educação da atenção como propósito da antropologia. Educação, Porto Alegre, v. 39, n. 3, p. 404-11, set./dez. 2016.

JANSSON, André. Indispensable things: on mediatization, materiality, and space. In: LUNDBY, K. (Ed.). Mediatization of Communication. Berlin, Bos-ton: Mouton de Gruyter, 2014. p. 273-295.

MARQUES, Adalton. Do ponto de vista do “crime”: notas de um trabalho de campo com “ladrões”. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 22, n. 45, p. 335-367, jan./jun. 2016.

MINTZ, Sidney W. Encontrando Taso, me descobrindo. Dados, Rio de Janeiro, v. 27, n. 1, p. 45-58, 1984.

NILAN, Pamela. ‘Dangerous fieldwork’ re-examinated: the question of re-searcher subject position. Qualitative Research, [s.l.], v. 2, n. 3, p. 363-386, 2002.

OPIPARI, Carmen; TIMBERT, Sylvie. O artifício da imagem na construção do real. In: FERR AZ, A. L. C; MENDONÇA, J. M. de (Orgs.). Antropologia visual: perspectivas de ensino e pesquisa. Brasília: ABA, 2014. p. 371-406.

PERITORE, N. Patrick. Reflections on dangerous fieldwork. The American So-ciologist, [s.l.], v. 21, n. 4, p. 359-372, dec. 1990.

PERLONGHER, Néstor. Antropologia das sociedades complexas: identidade e territorialidade, ou como estava vestida Margaret Mead. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 8, n. 22, jun. 1993.

RABELO, Miriam C. M. Aprender a ver no candomblé. Horizontes Antropológi-cos, Porto Alegre, ano 21, n. 44, p. 229-251, jul./dez. 2015._

RABELO, Miriam C. M. Considerações sobre a ética no candomblé. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 59, n. 2, p. 109-130, 2016.

ROCHA, Rosamaria Luiza de Melo. Uma cultura da violência na cidade? Rup-turas, estetizações e reordenações. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 13, n. 3, p. 85-94, jul./set. 1999. ROGERS-BROWN, Jennifer B. More than a war story: a feminist analysis of doing dangerous fieldwork. In: DEMOS, V.; SEGAL, M. T. (Eds.). At the center: feminism, social science and knowledge. London: Emerald, 2015. p. 111-31.

SAMPSON, Helen; THOMAS, Michelle. Lone researchers at sea: gender, risk and responsability. Qualitative Research, [s.l.], v. 3, n. 2, p. 165-89, 2003.

SHARP, Gwen; KREMER, Emily. The safety dance: confronting harassment, intimidation, and violence in the field. Sociological Methodology, [s.l.], v. 36, p. 317-27, 2006.

SILVA, Cíntia Vieira da. Combater e compor: dilemas do agir em uma leitura deleuziana de Espinosa. Princípios, Natal, v. 19, p. 457-481, 2012.

SLUKA, Jeffrey A. Reflections on managing danger in fieldwork: dangerous anthropology in Belfast. In: ROBBEN, A. C. G. M.; SLUKA, J. A. (Eds.). Ethnographic fieldwork: an anthropological reader. Oxford: Blackwell, 2007. p. 259-68.

TELLES, Vera. Itinerários da pobreza e da violência. Sexta-Feira, São Paulo, n. 8, p. 106-110, 2006.

VILLANI, Maycon Lopes. Para não ser uma bicha da favela: uma etnografia so-bre corpo, sexualidade e distinção social. 2015. 146 f. Dissertação (Mestra-do em Ciências Sociais) - Universidade Federal da Bahia, Salvador.

WACQUANT, Löic. Corpo e alma: notas etnográficas de um aprendiz de boxe. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.

ZALUAR, Alba. A máquina e a revolta: as organizações populares e o significa-do da pobreza. Rio de Janeiro: Brasiliense, 1985.

ZALUAR, Alba. Juventude violenta: processos, retrocessos e novos percursos. Dados, Rio de Janeiro, v. 55, n. 2, 2012, p. 327-65.autorMaycon LopesÉ bacharel, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Uni-versidade Federal da Bahia, além de membro do Núcleo de Es-tudos em Ciências Sociais, Ambiente e Saúde (ECSAS).

Downloads

Publicado

2018-06-19

Como Citar

Lopes, M. (2018). “Camarão que dorme a onda leva”: ponderações éticas sobre o trabalho de campo em contextos perigosos. Cadernos De Campo (São Paulo - 1991), 26(1), 385-407. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v26i1p385-407

Edição

Seção

Especial