Panela de barro, água de batata, linha de embaúba:

práticas xamânicas das mulheres tikmũ’ũn-maxakali

Autores

  • Claudia Magnani Universidade Federal de Minas Gerais
  • Ana Maria Rabelo Gomes Universidade Federal de Minas Gerais
  • Suely Maxacali
  • Maisa Maxakali

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v29i1p247-266

Palavras-chave:

Arte indígena, vida cotidiaa, etnologia ameríndia, xamanismo, mulheres indígenas

Resumo

Mulheres e homens tikmũ’ũn-maxakali vivenciam seu território por meio de encontros, relações e alianças com os múltiplos seres não-humanos que o habitam­ – os povos-espíritos yãmĩyxop – reproduzindo constantemente seu mundo sócio-cosmológico por meio de diversas e graduais formas de xamanismo. Neste contexto, a partir de uma etnografia realizada em Aldeia Verde, pretende-se vislumbrar a complexidade da agência das mulheres, ressaltando práticas femininas que reatualizam importantes vínculos com a terra e o território: a produção de panelas de barro, a preparação de alimentos e a tecelagem de linha de embaúba. Geralmente compreendidas como meras atividades ordinárias, estas são, ao contrário, práticas mediante as quais as mulheres intervêm na socialidade do grupo, interagem com os espíritos yãmĩyxop e realizam procedimentos de ordem xamânica. São essas mulheres – fortes, xamãs, artesãs, cantoras e conhecedoras das histórias ancestraisque, de formas diferentes e complementares aos homens, através da manipulação de substâncias femininas, cuidam de seu mundo.

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Biografia do Autor

  • Claudia Magnani, Universidade Federal de Minas Gerais

    Doutoura em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2018), com mestrado em Antropologia (2009) e Graduação em Antropologia, ambos pela Universidade de Bolonha (2006)

  • Ana Maria Rabelo Gomes, Universidade Federal de Minas Gerais

    Possui graduação em Pedagogia pelo Instituto de Educação de Minas Gerais, doutorado em Educação pela Universidade de Bolonha (1996) e pos-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional (PPGAS/MN-UFRJ) em 2007-2008. Atualmente é professor titular na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais

  • Suely Maxacali

    Presidente da Associação Maxakali de Aldeia Verde

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Publicado

2020-06-30

Edição

Seção

Especial

Como Citar

Panela de barro, água de batata, linha de embaúba:: práticas xamânicas das mulheres tikmũ’ũn-maxakali. (2020). Cadernos De Campo (São Paulo - 1991), 29(1), 247-266. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v29i1p247-266