Machado de Assis e Borges: Dois Classicistas em Plena Modernidade

Autores

  • André Luiz Barros Universidade Federal de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2317-9651.i20p662-695

Palavras-chave:

Machado de Assis, Jorge Luis Borges, Contos e romances de libertinagem, Literaturas brasileira e latinoamericana, Teoria da literatura

Resumo

Analisamos as relações de personagens específicos, bem como do próprio narrador malicioso criado por Machado de Assis, com um personagem surgido no século XVII inglês: o libertino. Do Don Juan transposto para o teatro inglês naquele século ao romance de libertinagem francês do XVIII, ele se caracteriza pelo ímpeto erótico-amoroso e pelo cinismo elitista, cruel e amoral. Em quatro contos-chave de Machado – “Missa do Galo”, “Singular ocorrência”, “D. Paula” e “Almas agradecidas” –, notamos a incidência maior de libertinas mulheres. Traços dos personagens se acham no narrador típico do autor, nos romances da fase madura. A partir do debate crítico sobre tal narrador, propomos que, em sua constituição, a influência dos moralistas franceses do século XVII, incluindo seus precursores (por ex., Castiglione e Gracián), é maior que a de Voltaire. Isso indicaria proximidade desse narrador com o pessimismo amoral e a aversão a transcendências do libertino. Por fim, comparamos tal narrador com o do argentino Jorge Luis Borges. Como o autor brasileiro, Borges criou um narrador elitista e cínico, a dispor com ironia da tradição literária pré-moderna. Se os elementos do conto de horror fantasista em Borges afastam os dois autores, ambos refletem a indiferença cruel do tom elitista em um continente marcado por violenta desigualdade social.

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Biografia do Autor

  • André Luiz Barros, Universidade Federal de São Paulo

    Professor de Literatura – UNIFESP. Livro: Sensibilidade, coquetismo e libertinagem (Alameda, 2019). Tradução e posfácio: Novelas trágicas, do Marquês de Sade (Carambaia, 2017). Ensaios: sobre O Ateneu em Comparative Perspectives on the Rise of Brazilian Novel. (Londres: UCL Press, 2019); “Literatura na margem: pensando o par centro/periferia entre filosofia e estética” (Revista O Eixo e a Roda, 2017).

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Publicado

2020-12-23

Como Citar

BARROS, André Luiz. Machado de Assis e Borges: Dois Classicistas em Plena Modernidade. Caracol, São Paulo, Brasil, n. 20, p. 662–695, 2020. DOI: 10.11606/issn.2317-9651.i20p662-695. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/caracol/article/view/162745.. Acesso em: 19 abr. 2024.