«Não basta ser mulher para ser justa»: resistência à marginalização de Paulina Chiziane fora do registo ficcional
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2595-2536.v29i1p101-112Resumo
Na perspectiva de refl ectir a marginalização feminina, este artigo perscruta o ideal de resistência da mulher em Moçambique. Apura, ainda, as referências histórico-culturais que recriam a amolgadura da discriminação da mulher e da sua personalidade partindo da tradição que funciona como um instrumento de controlo social. Nesse sentido, Chiziane adquire uma efi cácia douta e transporta tais enigmas sociais inseridos na sociedade moçambicana. No imaginário da tradição songa, por exemplo, ainda é abundante a ideia de que a mulher deve carregar trouxas e ser submissa porque foi lovolada (referente ao lovolada – casamento tradicional praticado em Moçambique). A consciência da marginalização da mulher é, ainda, predominante à medida que os pressupostos de engendração nos remetem a um caminho que deve ser seguido cegamente. Em consequência, a mulher percebe-se como um ser marginal. A sua voz é penhorada em nome da sociedade, hegemonicamente, masculina. Contudo, a mulher – na lógica da resistência, segundo Chiziane – engendra uma nova utopia: a resistência, o espaço intermediário onde a fragmentação pode se instalar, mesmo que em luta, desafi ando, assim, o poder de controlo do dominador. Quando a mulher resiste à marginalização subsidia-se, basicamente, em dois propósitos complementares: (i) uma estratégia de sobrevivência dentro de um campo de batalha e (ii) um elemento agregador do tecido humano na sociedade moçambicana. Chiziane constrói, mesmo que de forma utópica, uma lógica de oposição da mulher. O intuito de resistência de Chiziane assenta no reconhecimento de que o homem deve dar aos desígnios do feminismo. Pensando como Anderson (1989), as mulheres querem engendrar uma nova «consciência social» dentro do tecido social moçambicano.