Espaços de misericórdia em São Paulo: ancestralidade

Autores

  • Maria Candelária V. Moraes Universidade Metropolitana de Santos
  • Sandra Regina Colucci Universidade Metropolitana de Santos

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2595-2536.v31i2p175-196

Palavras-chave:

Caridade, Santas casas de Misericórdia, Crianças abandonadas

Resumo

Este artigo trata de práticas de caridade associada à questão do abandono de crianças, e neste sentido das intervenções nas relações entre mães e filhos, principalmente aquelas promovidas pelas Santas Casas de Misericórdia. A Santa Casa de São Paulo, de acordo com seus princípios de misericórdia, instalou em 1825 uma Roda para Enjeitados, que aos poucos passou a ser identificada como espaço de infantes perigosos, e não mais como de infantes em perigo. O Estado passaria a ter a tutela dessas crianças considerando que elas estariam “sob o efeito da ausência dos pais”. 

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Biografia do Autor

  • Maria Candelária V. Moraes, Universidade Metropolitana de Santos

    Mestre em História pela PUCSP. Professora do curso de História e de Arqueologia da UNIMES. Coordenadora dos cursos de História, Arqueologia e Geografia da UNIMES

  • Sandra Regina Colucci, Universidade Metropolitana de Santos

    Doutora em História pela PUCSP. Professora do curso lato senso de História da PUCSP e do curso de História da UNIMES

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“O pretexto documental para a identificação da fundação da Misericórdia de Lisboa com a figura de D. Leonor foi o fato de o ato ter ocorrido numa altura em que o rei de Portugal, irmão da rainha viúva, partira para Castela, tendo esta assumido o trono. No entanto, esta circunstância adequava-se a lugares comuns que se prolongam até hoje: aos homens a guerra e a política, às mulheres a caridade. Este mito fundacional espelha uma ideologia de gênero que vigoraria na cultura erudita portuguesa até meados do século XX”. SÁ, Isabel dos Guimarães. As misericórdias portuguesas, séculos XVI a XVIII. RJ: Ed. FGV, 2013. p. 11/12.

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Após a transferência do Seminário para outro local, o prédio ficou em ruínas. Reformado mais tarde, o edifício abrigou a Casa da Pólvora e serviu como quartel para tropas militares. Em 1877, a chácara foi transformada em núcleo colonial, o que deu origem a

o bairro da Glória. Com os sugestivos nomes de Rua do Cemitério uma vez que por ela se chegava ao antigo Cemitério dos Aflitos (que pode ser localizado atualmente no entorno do "Beco dos Aflitos") e Rua da Santa Casa, porque ali se localizava esse hospital. Disponível

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se ainda membro da Assembleia Constituinte, logo dissolvida pelo Imperador D. Pedro I, em 1823. Decorridos dez anos, obteve vaga no Senado, lutando pela implementação de um governo representativo. Seu pai, homônimo Antonio Francisco de Paula Souza (1819-1866), era

médico, formado na Bélgica, fora deputado provincial, deputado geral, ministro da agricultura, elaborando, inclusive, projeto para a extinção da escravidão no Brasil. Sua mãe, Maria Raphaela de Barros (1827-1895) era filha de Antônio Paes de Barros, o primeiro Barão de Piracicaba. Esse pequeno histórico familiar leva à compreensão de que sua origem estava entre os aristocratas paulistas, não causando estranheza esse longo histórico de participação e atuação nos governos; afinal, é sabido que os rumos da política paulista, há muito, eram ditados por esses grupos familiares, detentores do capital com uma organização familiar caracterizada por casamentos endogâmicos como estratégia de aquisição e manutenção de poder.”

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Publicado

2020-08-16

Como Citar

Espaços de misericórdia em São Paulo: ancestralidade. (2020). Cadernos CERU, 31(2), 175-196. https://doi.org/10.11606/issn.2595-2536.v31i2p175-196