«Não basta ser mulher para ser justa»: resistência à marginalização de Paulina Chiziane fora do registo ficcional

Autores

  • Cremildo Bahule Universidade Eduardo Mondlane

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2595-2536.v29i1p101-112

Resumo

Na perspectiva de refl ectir a marginalização feminina, este artigo perscruta o ideal de resistência da mulher em Moçambique. Apura, ainda, as referências histórico-culturais que recriam a amolgadura da discriminação da mulher e da sua personalidade partindo da tradição que funciona como um instrumento de controlo social. Nesse sentido, Chiziane adquire uma efi cácia douta e transporta tais enigmas sociais inseridos na sociedade moçambicana. No imaginário da tradição songa, por exemplo, ainda é abundante a ideia de que a mulher deve carregar trouxas e ser submissa porque foi lovolada (referente ao lovolada – casamento tradicional praticado em Moçambique). A consciência da marginalização da mulher é, ainda, predominante à medida que os pressupostos de engendração nos remetem a um caminho que deve ser seguido cegamente. Em consequência, a mulher percebe-se como um ser marginal. A sua voz é penhorada em nome da sociedade, hegemonicamente, masculina. Contudo, a mulher – na lógica da resistência, segundo Chiziane – engendra uma nova utopia: a resistência, o espaço intermediário onde a fragmentação pode se instalar, mesmo que em luta, desafi ando, assim, o poder de controlo do dominador. Quando a mulher resiste à marginalização subsidia-se, basicamente, em dois propósitos complementares: (i) uma estratégia de sobrevivência dentro de um campo de batalha e (ii) um elemento agregador do tecido humano na sociedade moçambicana. Chiziane constrói, mesmo que de forma utópica, uma lógica de oposição da mulher. O intuito de resistência de Chiziane assenta no reconhecimento de que o homem deve dar aos desígnios do feminismo. Pensando como Anderson (1989), as mulheres querem engendrar uma nova «consciência social» dentro do tecido social moçambicano.

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Biografia do Autor

  • Cremildo Bahule, Universidade Eduardo Mondlane

    Ensaísta moçambicano e pesquisador independente. Poeta, editor e membro do concelho
    editorial da revista brasileira Griots: Literaturas e Culturas Africanas. Entre 2007-2010,
    investigador associado da UDS [Unidade de Diagnóstico Social] do CEA [Centro de
    Estudos Africanos] da UEM [Universidade Eduardo Mondlane]. Entre 2010-2013,
    investigador do ARPAC (Instituto de Investigação Sócio Cultural). Participou, como
    investigador, na elaboração do livro: Multiculturalidade e Plurilinguismo – Tradição
    Oral e Educação Plurilingue na África Central e Austral (www.contafrica.com). Dos
    livros publicados, destacam-se: Carlos Cardoso – Um Poeta de Consciência Profética
    (Alcance Editores, 2010), Literatura feminina, Literatura de Purifi cação: O Processo de
    Ascese da Mulher na Trilogia de Paulina Chiziane (Ndjira, 2013). Actualmente, editor
    da Khuzula.

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Publicado

2018-08-10

Como Citar

«Não basta ser mulher para ser justa»: resistência à marginalização de Paulina Chiziane fora do registo ficcional. (2018). Cadernos CERU, 29(1), 101-112. https://doi.org/10.11606/issn.2595-2536.v29i1p101-112