Violências contra trabalhadores adoecidos e instrumentos de gestão
uma relação a explorar
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v22i1p81-97Palavras-chave:
Violência no trabalho, Doenças do trabalho, Saúde do trabalhadorResumo
Trata-se de estudo realizado por demanda de um sindicato de trabalhadores metalúrgicos à Fundacentro, objetivando analisar as situações de violências vividas por trabalhadores adoecidos pelo trabalho em uma montadora de automóveis. Foram realizadas entrevistas com sindicalistas, visita à montadora, entrevistas individuais e coletivas com trabalhadores, validação dos dados. À luz da discussão sobre violências relacionadas ao trabalho e intensificação do trabalho, analisou-se sua relação com instrumentos de gestão. Com base na compreensão de gestão de Gaulejac e na perspectiva das evoluções conceituais sobre violência no trabalho, expressada por Soboll, entre outros, confirmaram-se práticas de exclusão e isolamento de trabalhadores adoecidos, humilhações e descaracterização das doenças relacionadas ao trabalho, deslegitimando e colocando os adoecidos sob suspeita. Instrumentos de gestão e elementos da cultura organizacional eram utilizados nestas práticas violentas caracterizando um modo de agir sistêmico que contribui para a cronificação de doenças e a geração de incapacidade, além de prejudicarem ações preventivas, tanto da própria empresa, como do Estado, pela ocultação de riscos e danos. Demandas dessa natureza são frequentes, evidenciando que a violência contra adoecidos pelo trabalho e o ocultamento de doenças do trabalho constituem sério problema social com impacto dramático nas vidas de trabalhadores e no sistema de saúde pública.
Downloads
Referências
Bardin, L. (2000). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.
Bernardo, M. H. (2009). Trabalho duro, discurso flexível: uma análise das contradições do toyotismo a partir da vivência de trabalhadores. São Paulo: Expressão Popular.
Cerest Campinas (2016). Relatório coletivo sobre riscos no trabalho de montagem de veículos a partir do atendimento a trabalhadores com doenças osteomusculares e transtornos mentais relacionados ao trabalho. Campinas. [digitado].
Dal Rosso, S. (2008). Mais trabalho! A intensificação do labor na sociedade contemporânea. São Paulo: Boitempo.
Daniellou, F., Laville, A., & Teiger, C. (1989). Ficção e realidade do trabalho operário. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 68 (17), 7-13.
Dejours, C. (2000). A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: FGV.
Filgueiras, V. A. & Carvalho, S. A. (2017). A ocultação do adoecimento laboral no Brasil. In V. A. Filgueiras (Org.), Saúde e segurança do trabalho no Brasil (pp. 79-119). Brasília: Movimento.
Freitas, M. E., Heloani, R., & Barreto, M. (2008). Assédio moral no trabalho (Coleção Debates em Administração). São Paulo: Cengage Learning.
Fundacentro. (2013). Proposta de diretrizes para uma política de reabilitação profissional. São Paulo: Fundacentro. Recuperado de https://bit.ly/2mlydii
Gaulejac, V. (2007) Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. Aparecida, SP: Ideias & Letras.
Laurell, A. C. & Noriega, M. (1989). Processo de produção e saúde: trabalho e desgaste operário. São Paulo: Hucitec.
Lima, C. Q. B., Barbosa, C. M. G., Mendes, R. W. B., & Patta, C. A. (2014). Assédio moral e violências no trabalho: caracterização em perícia judicial. Relato de experiência no setor bancário. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 39 (129), 101-110.
Maeno, M. (2017). História de dois brasileiros como tantos outros. In V. L. Navarro & E. A. S. Lourenço (Orgs.), O avesso do trabalho IV: precarização e adoecimento no mundo do trabalho (pp. 301-322). São Paulo: Outras Expressões.
Merlo, A. R. C., Jacques, M. G. C., & Hoefel, M. G. L. (2001). Trabalho de grupo com portadores de Ler/Dort: relato de experiência. Psicologia: Reflexão e Crítica, 14 (1), 253-258.
Minayo, M. C. S. (1994). Violência social sob a perspectiva da saúde pública. Cadernos de Saúde Pública, 10 (Suppl. 1), S7-S18.
Oddone, I., Marri, G., & Gloria, S. (1986). Ambiente de trabalho: a luta dos trabalhadores pela saúde. São Paulo: Hucitec.
Oliveira, F. (2014). Perspectivas psicossociais para o estudo do cotidiano de trabalho. Psicologia USP, 25 (1), 41-50.
Paparelli, R. (2011). Grupos de enfrentamento do desgaste mental no trabalho bancário: discutindo saúde mental do trabalhador no sindicato. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 36 (123), 139-146.
Pina, J. A. & Stotz, E. N. (2014). Intensificação do trabalho e saúde do trabalhador: uma abordagem teórica. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 39 (130), 150-160.
Praun, L. (2016). Reestruturação produtiva, saúde e degradação do trabalho. Campinas, SP: Papel Social.
Sato, L. (1991). Abordagem psicossocial do trabalho penoso: estudo de caso de motoristas de ônibus. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo.
Seligmann-Silva, E. (2011). Trabalho e desgaste mental: o direito de ser dono de si mesmo. São Paulo: Cortez.
Soboll, L. A. P. (2008). Assédio moral/organizacional: uma análise da organização do trabalho. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Spink, P. K. (1996). A organização como fenômeno psicossocial: notas para uma redefinição da psicologia do trabalho. Psicologia e Sociedade, 8 (1), 174-192.
Tavares, D. S., Lima, C. Q. B., Oliveira, J. A., Daldon, M. T. B., & Matsuo, M. (2019). A violência durante o processo de adoecimento pelo trabalho. São Paulo: Fundacentro. Recuperado de https://bit.ly/2m1hReG
Vieira, C. E. C., Lima, F. P. A., & Lima, M. E. A. (2012). E se o assédio não fosse moral? Perspectivas de análise de conflitos interpessoais em situações de trabalho. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 37 (126), 256-268.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos: autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution, permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e da publicação inicial nesta revista. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicado nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e da publicação inicial nesta revista. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.