Coaching interno: do discurso gerencialista ao sequestro da subjetividade
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v24i2p249-263Palavras-chave:
Análise crítica do discurso, Coaching, Psicossociologia críticaResumo
Este artigo analisa como a instrumentalização do coaching pelas organizações, enquanto prática gerencial, propicia a reprodução de preceitos gerencialistas que se alinham ao sequestro da subjetividade do trabalhador. Para tal, efetuaram-se entrevistas semiestruturadas com 11 gestores que conduziam tal intervenção no ambiente de trabalho. A interpretação dos dados fundamenta-se na Análise Crítica do Discurso, textualmente orientada (Fairclough, 2003). Embora o coaching no trabalho suscite reflexividade, tal postura encontra-se a serviço do ideal gerencialista, reafirmando o ideário social de culto ao desempenho, que propaga auto (e alta) responsabilização individual. O paradoxo é que a subjetividade – hiper solicitada para dar lugar a uma “subjetividade realizadora” –, foi representada discursivamente como entrave ao desenvolvimento pessoal, o qual é indissociado de anseios organizacionais. Por fim, discute-se o papel da resistência no bojo do referido processo de intervenção.
Downloads
Referências
Abel, A. L., & Nair, S.V. (2015). The rise of coaching in organizations. In D. D. J. Riddle, E. R. Hoole, & E. C. Gullette (Eds.), The center for creative leadership: handbook of coaching in organizations (pp. 5-28). John Wiley & Sons.
Béhar, A. H. (2019). Meritocracia enquanto ferramenta da ideologia gerencialista na captura da subjetividade e individualização das relações de trabalho: uma reflexão crítica. Organizações & Sociedade, 26(89), 249-268.
Blackman, A., Moscardo, G., & Gray, D.E. (2016). Challenges for the theory and practice of business coaching: a systematic review of empirical evidence. Human Resource Development Review, 15(4), 459-486.
Braga, R. (2017). O golpe parlamentar e o fim da sociedade salarial no Brasil. IdeAs. Idées d'Amériques, 10, 1-6.
Brunel, V. (2004). Les managers de l’âme. La Découverte.
Brunel, V. (2006). Pratiques réflexives et régulation organisationnelle. Communication et Organisation, 28, 17-31.
Campos, T. M., & Pinto, H. M. N. (2012). Coaching nas organizações: uma revisão bibliográfica. Revista REUNA, 17(2), 15-26. https://revistas.una.br/reuna/article/view/439/482
Chambefort, C. (2006). Coaching: pour la promotion d’une idéologie normative? Communication et Organisation, 28, 1-17.
Cox, E., Bachkirova, T., & Clutterbuck, D. (2014). The complete handbook of coaching (2ª ed.). Sage.
Duarte, M. P. F. C., & Medeiros, C. R. O. (2019). Pop-Management: 15 anos depois: a incorporação do pop-management no trabalho de executivos de grandes empresas. Cadernos Ebape.BR, 17(1), 185-198.
Ellinger, A. D., Hamlin, R. G., & Beattie, R. S. (2008). Behavioural indicators of ineffective managerial coaching. Journal of European Industrial Training, 32(4), 240-257.
Enriquez, E. (1997). A organização em análise. Vozes.
Fairclough, N. (2003). Analysing discourse: textual analysis for social research. Routledge.
Fairclough, N. (2016). Discurso e mudança social (I. Magalhães, trad., 2ª ed.). EdUnB.
Faria, J. H., & Meneghetti, F. K. (2007). O sequestro da subjetividade. In Análise crítica das teorias e práticas organizacionais (pp. 45-67). Atlas.
Flick, U. (2009). Introdução à pesquisa qualitativa. Artmed.
Gaulejac, V. (2007). Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. Ideias & Letras.
Gaulejac, V. (2017). Vivre dans une société paradoxante. Nouvelle Revue de Psychosociologie, 2(24), 27-40.
Grant, A. M. (2016). The third ‘generation’ of workplace coaching: Creating a culture of quality conversations. Coaching: an International Journal of Theory, Research and Practice, 10(1), 37-53.
Linhart, D. (2015). La comédie humaine du travail: de la déshumanisation taylorienne à la sur-humanisation managériale. Editions Erès.
Louis, D., & Diochon, P. F. (2018). The coaching space: a production of power relationships in organizational settings. Organization, 25(6), 710-731.
Oliveira-Silva, L. C., Werneck Leite, C. D. S., Carvalho, P. S. F., dos Anjos, A. C., & Brandão, H. I. M. (2018). Desvendando o coaching: uma revisão sob a ótica da Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 38(2), 363-377.
Pagès, M., Bonetti, M., Gaulejac, V., & Descendre, D. (2006). O poder das organizações: a dominação das multinacionais sobre os indivíduos (10ª reimpr.). Atlas.
Resende, V. D. M., & Ramalho, V. (2006). Análise de discurso crítica. Contexto.
Salles, H. K. D., & Dellagnelo, E. H. L. (2019). A Análise Crítica do Discurso como alternativa teórico-metodológica para os Estudos Organizacionais: um exemplo da análise do significado representacional. Organizações & Sociedade, 26(90), 414-434.
Salles, W., Vieira, F. O., Souza, M. S., & Barros, S. R. S. (2019). “O canto do coaching”: uma análise crítica sobre os aspectos discursivos do triunfo ágil difundido no Brasil. Gestão e Sociedade, 13(36), 3231-3260.
Sarsur, A. M., & Parente, C. (2019). The coaching process seen from the daily (and controversial) perspective of experts and coaches. Revista de Gestão, 26(2), 126-142.
Shoukry, H., & Cox, E. (2018). Coaching as a social process. Management Learning, 49(4), 413-428.
Silver, B. J. (2005). Forças do trabalho: movimentos de trabalhadores e globalização desde 1870. Boitempo.
Siqueira, M. V. S. (2009). Gestão de pessoas e discurso organizacional: crítica à relação indivíduo-empresa nas organizações contemporâneas. Juruá.
Tonon, L., & Grisci, C. L. I. (2015). Gestão gerencialista e estilos de vida de executivos. Revista de Administração Mackenzie, 16(1), 15-39.
Wood, T., Tonelli, M. J., & Cooke, B. (2011). Colonização e neocolonização da gestão de recursos humanos no brasil (1950-2010). Revista de Administração de Empresas, 51(3), 232-243.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Gustavo Henrique Carvalho de Castro, Bárbara Novaes Medeiros, Cledinaldo Aparecido Dias, Marcus Vinicius Soares Siqueira

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos: autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution, permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e da publicação inicial nesta revista. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicado nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e da publicação inicial nesta revista. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.