Razão e razões masculinas: geração de desigualdades pelas práticas de meritocracia em uma empresa tecnocrática brasileira
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.cpst.2022.179850Palavras-chave:
Gênero, Desigualdade, Meritocracia, Discriminação no trabalho, Diferenças sexuaisResumo
O artigo revela como a meritocracia – transvestida como um sistema neutro de promoções – produz e reproduz as desigualdades entre atributos de gênero, em uma empresa brasileira do setor elétrico. O enfoque teórico estabelece paralelo entre a prática meritocrática, como luta de categorias e seus valores, e a praxiologia de Bourdieu. A abordagem é qualitativa, baseada em entrevistas semiestruturadas e observação participante. Da análise de conteúdo emergiram três pares de categorias analíticas: técnico/não técnico, meritoso/não meritoso e masculino/feminino. A associação entre atributos masculinos e méritos mais valorizados é uma relação desigual de gênero não explícita no discurso, mas envolta em atributos de mérito que se agrupam em rótulos neutros e dissimuladores associados à masculinidade. O estudo contribui com a ampliação da compreensão sobre a construção de significados que subjazem aos processos de ascensão na estrutura hierárquica organizacional, ao revelar as relações entre os atributos de méritos e de valor; além de os atributos de masculinidade e racionalidade.
Downloads
Referências
Allen, A. (2011). Michael Young’s The rise of the meritocracy: A philosophical critique. British Journal of Educational Studies, 59(4), 67-382. https://doi.org/10.1080/00071005.2011.582852
Allen, A. (2012). Life without the ‘X’ factor: Meritocracy past and present. Power and Education, 4(1), 4-19. https://doi.org/10.2304/power.2012.4.1.4
Aristóteles. (2014). História dos animais. WMF Martins Fontes.
Barbosa, L. (2014). Meritocracia à brasileira: O que é desempenho no Brasil? Revista do Serviço Público, 47(3), 58-102, 2014. https://doi.org/10.21874/rsp.v47i3.396
Bardin, L. (2010). Análise de conteúdo. Edições 70.
Bourdieu, P. (1977). Outline of a theory of practice. Cambridge University Press.
Bourdieu, P. (2006). O poder simbólico (7a ed.). Bertrand Brasil.
Bourdieu, P. (2012). A dominação masculina (11a ed.). Bertrand Brasil.
Bourdieu, P. (2015a). A distinção: Crítica social do julgamento. Zouk.
Bourdieu, P. (2015b). A produção da crença: Contribuição para uma economia dos bens simbólicos (3ªed). Zouk.
Bourdieu, P. (2016). Razões práticas: Sobre a teoria da ação (11ªed). Papirus.
Brah, A. (2006). Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu, (26), 329-376. https://doi.org/10.1590/S0104-83332006000100014
Celarent, B. (2009). [Review of] The rise of the meritocracy, 1870-2033 by Michael Young. American Journal of Sociology, 115(1), 322-326. https://doi.org/10.1086/605763
Connell, R.W., & Messerschmidt, J. W. (2005). Hegemonic masculinity: Rethinking the concept. Gender & society, 19(6), 829-859. https://doi.org/10.1177/0891243205278639
Corbetta, P. (2007). Metodología y técnicas de investigación social. Mcgraw-hill.
Corbin, A., Courdine, J. J., & Vigarello, G. (2013). História da Virilidade: A Invenção da Virilidade: da antiguidade às Luzes (Vol. 1). Vozes.
Eccel, S., & Grisci, C. L. I. (2011). Trabalho e gênero: A produção de masculinidades na perspectiva de homens e mulheres. Cadernos EBAPE.BR, 9(1), 57-78. https://doi.org/10.1590/S1679-39512011000100005
Gardiner, J. K. (2004). Men, masculinities. In M. S. Kimmel, J. Hearn, & R. W. Connell (Eds.), Handbook of studies on men and masculinities (pp. 35-50).
Gondim, S. M. G., Sobrinho, J. B. A., Santana, V. S., Santos, V. M., & Saveia, J. M. (2013). Gênero, autoconceito e trabalho na perspectiva de brasileiros e angolanos. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 16(2), 153-165.
Hall, S., & Woodward, K. (2005). Identidade e diferença: A perspectiva dos estudos culturais. Vozes.
Hassard, J., Holliday, R., & Willmott, H. (Eds.). (2000). Body and organization. Sage.
Jeffreys, S. (2002). Unpacking queer politics: A lesbian feminist perspective. Polity Press, 2002.
Krais, B. (2006). Gender, sociological theory and Bourdieu’s sociology of practice. Theory, Culture & Society, 23(6), 119-134. https://doi.org/10.1177/0263276406069778
Liff, S., & Wajcman, J. (1996). ‘Sameness’ and ‘difference’ revisited: Which way forward for equal opportunity initiatives? Journal of Management Studies, 33(1), 79-94. https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.1996.tb00799.x
Neves, L. M. P. (2015). Putting meritocracy in its place: The logic of performance in the United States, Brazil and Japan. Critique of Anthropology, 20(4), 333-358. https://doi.org/10.1177/0308275X0002000405
Piscitelli, A. G. (2004). Pioneiros: masculinidades em narrativas sobre fundadores de grupos empresariais brasileiros. In M. R. Schpun (Org.), Masculinidades (pp. 175-202). Boitempo.
Roussel, J., & Downs, C. (2008). Epistemological perspectives on concepts of gender and masculinity/masculinities. The Journal of Men’s Studies, 15(2), 178-196. https://doi.org/10.3149/jms.1502.178
Seidler, V. J. (2004). Rediscovering masculinity: Reason, language and sexuality. Routledge.
Seron, C., Silbey, S., Cech, E., & Rubineau, B. (2018). “I am Not a Feminist, but…”: Hegemony of a meritocratic ideology and the limits of critique among women in engineering. Work and Occupations, 45(2), 131-167. https://doi.org/10.1177/0730888418759774
Śliwa, M., & Johansson, M. (2013). The discourse of meritocracy contested/reproduced: Foreign women academics in UK business schools. Organization, 21(6), 821-843. https://doi.org/10.1177/1350508413486850
Stake, R. E. (2011). Pesquisa qualitativa: Estudando como as coisas funcionam. Penso.
Tan, K. P. (2008). Meritocracy and elitism in a global city: Ideological shifts in Singapore. International Political Science Review, 29(1), 7-27. https://doi.org/10.1177/0192512107083445
Treviño, L. J., Gomez-Mejia, L. R., Balkin, D. B., & Mixon, F. G., Jr. (2018). Meritocracies or masculinities? The differential allocation of named professorships by gender in the academy. Journal of Management, 44(3), 972-1000. https://doi.org/10.1177/0149206315599216
van den Brink, M., & Benschop, Y. (2011). Gender practices in the construction of academic excellence: Sheep with five legs. Organization, 19(4), 507-524. https://doi.org/10.1177/1350508411414293
Wacquant, L., & Akçaoğlu, A. (2017). Practice and symbolic power in Bourdieu: the view from Berkeley. Journal of Classical Sociology, 17(1), 55-69. https://doi.org/10.1177/1468795X16682145
Waling, A. (2019). Rethinking masculinity studies: Feminism, masculinity, and post structural accounts of agency and emotional reflexivity. The Journal of Men’s Studies, 27(1), 89-107. https://doi.org/10.1177/1060826518782980
Young, M. D. (1994). The rise of the meritocracy. Transaction.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Gustavo Leite Alvarenga, Ricardo Pimentel
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos: autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution, permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e da publicação inicial nesta revista. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicado nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e da publicação inicial nesta revista. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.