Trabalho, gestão e saúde-adoecimento: um estudo qualitativo sobre as vivências de bancários no Rio Grande do Sul
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.cpst.2022.186710Palavras-chave:
Trabalho bancário, Saúde-adoecimento, Sofrimento ético, Ideologia gerencialistaResumo
Este estudo teve o intuito de conhecer a vivência de trabalhadores bancários no que diz respeito às relações entre organização do trabalho e saúde mental. Foram realizados grupos focais em que participaram bancários de diferentes cidades do Rio Grande do Sul. Os tópicos de discussão buscavam compreender como os profissionais vivenciavam suas experiências laborais. As sessões grupais foram transcritas e submetidas à análise de conteúdo qualitativa, resultando em três grandes categorias: sentido do trabalho, gestão do trabalho bancário, e trabalho e adoecimento. Constatou-se que o sentido do trabalho se apresenta primordialmente como meio de subsistência; e as metas, excessivamente elevadas, contribuem para os trabalhadores renunciarem seus valores éticos. O sofrimento psíquico causado pelo trabalho influencia as relações interpessoais dos participantes, empobrecendo-as do ponto de vista afetivo. Evidenciou-se a necessidade da discussão política da relação entre trabalho e saúde/adoecimento. A partir deste estudo, aposta-se na ação coletiva e na retomada de laços de solidariedade como forma de resistência às estratégias de gestão individualizantes e alienantes.
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