[PRAZO PRORROGADO] Chamada aberta para o nº38 - Escritoras críticas

2023-08-02

A Cidade das damas, de Christine de Pizan, é erigida sobre as bases da atividade de leitura crítica: do recolhimento de seu gabinete de leitura e diante do texto literário que definia de maneira estreita o papel da mulher na sociedade medieval, a narradora Christine, auxiliada pelas damas Razão, Retidão e Justiça, toma para si a tarefa de erguer uma cidade fortaleza alicerçada na palavra. Se Christine de Pizan, escritora da Idade Média, erige uma cidade-fortaleza, a narradora de Um teto todo seu, de Virginia Woolf, convidada a proferir uma palestra sobre mulheres e literatura, coloca uma questão: do que precisam as mulheres para escrever? Quinhentas libras de renda e um teto todo seu. Um teto, um quarto, um espaço privado e seguro que abrigue a prática da escrita. Em ambas, a criação ficcional acolhe a atividade crítica de escritoras que se colocam questões sobre as representações de e sobre mulheres em literatura. Em ambas, o espaço aparece como elemento central, espaço metafórico ou físico, pouco importa, mas separado e protegido. 

Entre a experiência étnica e de gênero, Conceição Evaristo sugere o conceito da escrevivência como aparato para se ler, e também para ler parte da história da literatura brasileira. A aula inaugural de Yanick Lahens no Collège de France, “Urgence(s) d’écrire, rêve(s) d’habiter”, recupera criticamente a história (literária) do Haiti. Nancy Huston, em A espécie fabuladora, trata da necessidade de fabular como indissociável e distintiva da espécie humana. Paloma Vidal tem se dedicado a pensar o fazer artístico e seu inacabamento relacionado à própria prática criativa, mas também à de outros escritores e artistas contemporâneos. Daquilo que constitui ao que se dispersa e se desfaz, essas escritoras transitam por espaços de criação e de recriação crítica. 

Em ensaios para jornais, artigos para livros e revistas, imbricada na ficção, na autobiografia, em aulas e conferências públicas, em entrevistas, a crítica literária feita por escritoras se espraia por todos estes espaços de criação. Espaços diversos que não se encerram por muros de fortalezas nem no teto todo seu, mas que cada vez mais se colocam em diálogo em horizontes abertos. 

Qual o espaço das escritoras na crítica literária? Quando nos deparamos com ementas e bibliografia de cursos de literatura, quantas mulheres aparecem? A crítica, a história e a teoria literária têm sido espaços ocupados por homens. Neste número da Revista Criação e Crítica, propomos pensar na crítica literária feita por mulheres, que também tratem de representações do feminino, mas não necessariamente, ou não exclusivamente. 

 

Data limite para submissões: 20 de dezembro de 2023.

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