Representações culturais do aborto clandestino em Portugal: uma análise comparada
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.i27p95-117Palavras-chave:
Aborto clandestino, Feminismo, Literatura comparada, Estudos culturais, Representações culturaisResumo
Desde o início da ditadura (1933) e até à despenalização do aborto em Portugal (2007) várias mulheres produziram objetos culturais onde retratam a realidade dos abortos clandestinos. Estas obras são importantes para o panorama artístico nacional e internacional e despoletaram tanto repressão social e política como largos movimentos de solidariedade. Neste artigo faz-se uma análise comparada de um conjunto de peças que evidenciam a preocupação e a realidade das mulheres que faziam desmanches ilegais. Através de uma abordagem diacrónica, analisam-se representações literárias e artísticas que foram produzidas em épocas diferentes numa mesma cultura. Utiliza-se a metodologia da literatura e história de arte comparadas, aplicando o close reading e a teoria da iconologia e iconografia de Erwin Panofsky. Parte-se de Novas cartas portuguesas, passando por Grades vivas e Ela é apenas mulher, focando depois na série Aborto. Começa-se por se fazer uma introdução, contextualiza-se a condição da mulher em Portugal particularmente durante o Estado Novo, analisam-se as representações culturais do aborto, aborda-se a perseguição social, política e a censura sofrida pelas autoras, finalizando-se com um debate sobre o tema do aborto nos dias de hoje, ameaças em ascenção do direito ao corpo e respetiva resistência cultural.
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