Narrar ´e encadear tempos e espaços perdidos: violência de gênero e trauma em "Um amor incômodo" de Elena Ferrante

Autores

  • Tatianne Santos Dantas Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
  • Lia Aguirre Silveira da Rosa Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
  • Karla Julliana da Silva Sousa Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
  • Helena Pillar Kessler Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
  • Ana Paula Bellochio Thones Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.i27p264-284

Palavras-chave:

Violência de gênero, Trauma, Abuso sexual, Elena Ferrante, Um amor incômodo, Psicanálise

Resumo

No presente artigo, pretendemos evidenciar como o romance Um amor incômodo, de Elena Ferrante, é atravessado por um abuso sexual que resvala na relação entre uma filha e sua mãe. Na medida em que se articula à violência de gênero, esse acontecimento apresenta-se como um ponto cego da cultura, configurando-se como traumático. Ao final do livro, após reconstituir a história de sua mãe, é possível para a narradora, Delia, lembrar do abuso que sofreu quando criança e significar pontos de sua trajetória que se apresentam como um mal-estar. O incômodo do título, que diz respeito à relação mãe e filha, atravessa a trama ressoando o incômodo da violência que é desvelada no final do romance. Como aporte teórico, tomamos as considerações da crítica literária Shoshana Felman acerca de literatura, testemunho e traumas culturais. Com o intuito de relacionar o trauma com a violência de gênero, retomamos a perspectiva de Sigmund Freud sobre o tema, assim como a discussões mais atuais, através de Cathy Caruth e Gayle Rubin. Assim, propomos que o romance de Elena Ferrante permite um esgarçamento das possibilidades narrativas do trauma do abuso sexual e da violência de gênero, enquanto pontos cegos da cultura.

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Biografia do Autor

  • Tatianne Santos Dantas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

    Psicóloga, psicanalista, mestre em Psicanálise: Clínica e Cultura (UFRGS), doutoranda em Estudos Literários (UFS). Membro do Centro Internacional e Multidisciplinar de Estudos Épicos (CIMEEP).

  • Lia Aguirre Silveira da Rosa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

    Psicóloga, psicanalista, membro do NUPPEC (Núcleo de pesquisa em Psicanálise, Educação e Cultura).

  • Karla Julliana da Silva Sousa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

    Psicóloga, psicanalista, mestre em Psicanálise: Clínica e Cultura (UFRGS), em especialização em Atendimento Clínico -ênfase em Psicanálise (UFRGS).

  • Helena Pillar Kessler, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

    Psicóloga, psicanalista, doutoranda em Psicologia Social e Institucional (UFRGS), mestre em Psicanálise: Clínica e Cultura (UFRGS).

  • Ana Paula Bellochio Thones, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

    Psicóloga, psicanalista, doutora em Educação pela UFRGS, membro do NUPPEC (Núcleo de pesquisa em Psicanálise, Educação e Cultura)

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Publicado

2020-11-11

Como Citar

Narrar ´e encadear tempos e espaços perdidos: violência de gênero e trauma em "Um amor incômodo" de Elena Ferrante. (2020). Revista Criação & Crítica, 27, 264-284. https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.i27p264-284