Em busca do gesto espontâneo: a subjetivação da mulher negra em A cor púrpura, de Alice Walker

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.i27p118-138

Palavras-chave:

Processos de subjetivação, Literatura e psicanálise, Escrita feminina, D. W. Winnicott, Alice Walker

Resumo

Partindo do diálogo entre literatura e psicanálise, este artigo visa apresentar uma possível leitura do romance A cor púrpura, de Alice Walker, segundo a teoria winnicottiana do amadurecimento. Neste romance, Walker apresenta a triste história de Celie, uma jovem negra arrancada violentamente do convívio de seus filhos e de sua irmã. Casada com um homem violento, Celie vive como se não tivesse existência. O ambiente opressor e violento descrito por Walker ilustra bem as falhas ambientais que Winnicott considera presentes na constituição do falso self. Em contrapartida, a construção do verdadeiro self, caracterizado pela criatividade e pelo “gesto espontâneo”, pressupõe um processo de subjetivação marcado por uma experiência afetiva e “suficientemente boa” da alteridade. Neste sentido, é possível compreender as transformações vividas por Celie em seu encontro com Shug Avery, de modo a vivenciar a sua própria feminilidade. A experiência do encontro humano possibilita processos de ressignificação e de elaboração das falhas ambientais, por conseguinte, processos de desenvolvimento emocional. Neste romance, o tempo da narrativa revela o tempo do amadurecimento humano, destacando-se, ao lado da crítica social, a relação dos componentes masculinos e femininos que integram o ser e o fazer como dimensões fundamentais e constitutivas do self.

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Biografia do Autor

  • Natália de Sousa Almeida, Universidade Federal de Goiás

    Graduada em Psicologia. Atualmente é Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Goiás. Área de Conhecimento em Psicanálise. Tem experiência na clínica psicanalítica.

  • Rodrigo Vieira Marques, Universidade Federal de Goiás

    É psicanalista, membro do Grupo de Estudos Psicanalíticos de Goiânia, instituição vinculada à Federação Brasileira de Psicanálise - FEBRAPSI e à International Psychoanalytical Association - IPA. Possui graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2001), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás (2004) e doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (2011). Atualmente é professor adjunto da Faculdade de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Goiás. Tem experiência nas áreas de Filosofia e de Psicanálise, atuando principalmente nos seguintes temas: Psicanálise freudiana e pós-freudiana, Epistemologia da Psicologia e da Psicanálise, Fenomenologia e Psicologia, Filosofia e Psiquiatria, Psicanálise e Literatura. É membro do Círculo Fenomenológico da Clínica e da Vida, projeto vinculado ao Núcleo de Pesquisas e Laboratório Prosopon (USP). É membro do Círculo Latino-americano de Fenomenologia (CLAFEN).

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Publicado

2020-11-11

Como Citar

Almeida, N. de S., & Marques, R. V. (2020). Em busca do gesto espontâneo: a subjetivação da mulher negra em A cor púrpura, de Alice Walker. Revista Criação & Crítica, 27, 118-138. https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.i27p118-138