Chamada para o nº 31 — Literatura e Música

2021-05-04

Chamada de contribuições ao dossiê: Literatura e música

Música e literatura são campos que, historicamente, espelham-se, misturam-se, delimitam-se, ampliam-se em múltiplos e complexos entrelaçamentos. Uma engendra a outra, promove simulações, analogias, atravessamentos, usos, empréstimos, imitações, complementos, prolongamentos, fusões, confusões. Não há tempo ou lugar em que a palavra não tenha imantado o som ou que a música não tenha tocado o verbo.

Certamente, a voz é uma cena experimental para esses encontros e confrontos, carícias e atritos. Do gesto vocal à palavra cantada, da poesia fonética (e sonora, vocal, etc.) à improvisação ritmada, do verbivocovisual dos concretistas aos poemas-partitura (que vêm pelo menos de Mallarmé e estão sempre a ressurgir), aos gritos e sussurros do canto popular. O século XX, especialmente fértil, deu lugar tanto aos laborintos vocais de Luciano Berio, entre outros/as, quanto à miríade de experiências que lhe valeram a alcunha de “século da canção”, em especial nas vertentes culturais do Atlântico Negro.

Mas as interpenetrações do musical e do literário não se pautam necessariamente pela voz. Mallarmé novamente dá o tom: a modernidade refundiu os gêneros – literários, musicais, de outros campos – e abriu possibilidade para inspirações cruzadas. As fugas de James Joyce, as ondas de Virginia Woolf, as “harmonias” de Mário de Andrade, os recados do morro de Guimarães Rosa, as construções multitemporais do novo romance francês, as orquestrações de Marguerite Duras, a prosa jazzística de Cortázar, as escutas de Clarice Lispector, o Concerto Barroco de Carpentier, entre tantos/as outros/as.

Neste jogo especulativo entre dois imaginários, há que se dedicar um olhar aos devires conceituais da crítica e da teoria entre o musical e o literário. Conceitos musicais se transformam (às vezes radicalmente) ao serem usados como lentes para ler o literário: o Leitmotif, o andamento, a oposição entre tonal e atonal, a síncopa, a harmonia, o contraponto, a polifonia, a série e o serialismo etc. E o reverso para os conceitos da linguagem voltados para a música: a narratividade, o discurso, a retórica, a pontuação, as oposições binárias etc.

Este dossiê pretende, portanto, reunir uma variada gama de contribuições que permita ativar (curto-)circuitos entre o som e o sentido, revisitar momentos e puxar os fios da história, falar de canto e ouvir as letras, degustar o grão da voz, ouvir estruturas e ler polifonias. Não há restrição ao período histórico, nacionalidade ou língua dos/as autores/as ou obras estudados/as.

Pontos (sugestões):

  • Poesia e música, música e poesia
  • O devir música da palavra
  • A letra, a canção
  • A música da prosa
  • Experimentações vocais na literatura e na música
  • Improvisação e composição na literatura e na música
  • O lugar ético e estético do silêncio
  • Dramaturgia e música
  • A atualidade do teatro musical
  • Narratividade em música

Serão aceitas contribuições que se adequem às Diretrizes para autores e às diferentes seções da revista. Os trabalhos serão recebidos até o dia 30 de agosto de 2021 e serão avaliados pelo sistema de avaliação duplo-cega.

 

Editores convidados:

Prof. Dr. Maurício Ayer (DLM/FFLCH – USP)

Profa. Dra. Annita Costa Malufe (PUC-SP/CNPq)

Prof. Dr. Rogério Costa (CMU/ECA – USP)